Quando vi o trailer desse filme pela primeira vez, com um Clint Eastwood durão, portando armas para defender os mais fracos e com cara de poucos amigos, achei que estava diante de um novo Dirty Harry, a versão geriátrica de Harry Callahan. Esse pensamento durou apenas 3 segundos pois não dava para acreditar que Eastwood voltaria para filmes formuláicos a essa altura da vida, depois de ter se provado por várias vezes como um dos melhores diretores norte-americanos vivos.
E, de fato, Gran Torino, apesar de ter elementos de Dirty Harry, é um animal bem diferente. Eastwood, dessa vez, vive Walt Kowalski, um veterano da Guerra da Coréia que mora no Michigan, em um bairro quase que exclusivamente populado por Hmongs, um povo da Ásia que imigrou para os Estados Unidos. O preconceito de Walt é evidente, assim como o preconceito dos Hmongs mais velhos em relação a Walt. Walt vive uma vida pacata e sua mulher, companheira de uma vida, acabou de falecer, deixando-o apenas com uma cadela. Walt tem dois filhos que não ligam para ele.
Tudo muda quando seu vizinho - o garoto Thao - tenta roubar seu Ford Gran Torino 1972. Ele o impede e a gangue que havia mandado Thao fazer o serviço começa a espancar o garoto. Walt intervém e todos os Hmongs da rua ficam amigos dele, para seu desespero.
Com isso, Walt, muito a contra gosto, fica sendo a figura de pai para Thao, ensinando-o a ter uma carreira longe das gangues. Logo Walt percebe que tem mais em comum com seus vizinhos que com sua própria família.
Mas, claro, o personagem de Eastwood tem camadas de complexidade. Além de se culpar por ter sido aparentemente um pai distante, Walt também se culpa pelos horrores que teve que perpetrar durante a guerra. Não acredita mais em religião e Thao, o garoto Hmong, acaba sendo uma forma de Walt expiar seus pecados e nisso ele vai até as últimas consequências. É a estória do nascimento de um homem e a salvação de outro.
A atuação de Clint Eastwood chega a ser cartunesca em sua amargura e "ódio" por todos à sua volta. Fala com os dentes cerrados e grunhe a cada momento. Mas fica visível, em seus olhos, a mudança do homem ao longo do filme. Já atuação dos atores asiáticos que, na verdade, são todos principantes, não está no mesmo nível e, às vezes, fica meio complicado ver as emoções fluindo como deveriam.
No entanto, o embate de gerações e a excelente construção dos personagens dá à Eastwood, também o diretor, mais um filme vencedor. Aliás, sobre isso, há que se dar destaque. O homem não pára de dirigir filmes no alto de seus 79 anos! Desde 2003, dirigiu o oscarizado e triste Mystic River (Sobre Meninos e Lobos), o super-oscarizado (diretor e filme, dentre outros) e super-triste Million Dollar Baby (Menina de Ouro), a dobradinha sobre a guerra no pacífico Flags of Our Fathers (A Conquista da Honra) e Letters from Iwo Jima (Cartas de Iwo Jima) e Changeling (A Troca). O cara é uma máquina de fazer filme bom!
Que continue assim por muito mais tempo!
Nota: 8 de 10
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