sábado, 24 de janeiro de 2009

Club du Film - Ano IV - Semana 04: Grapes of Wrath (Vinhas da Ira)


Há três anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo (com pseudônimos, claro).

Filme: The Grapes of Wrath

Diretor: John Ford

Ano de lançamento: 1940

Data em que assistimos: 21.01.2009

Crítica: The Grapes of Wrath é um filme de altos estratosféricos e de baixos abissais. Muito estranho mesmo.

Ele conta a estória de Tom Joad, vivido de forma magistral por Henry Fonda, que volta depois de 4 anos na prisão para sua casa em Oklahoma, logo após a Grande Depressão americana (a primeira...). Ao chegar em sua casa, encontra tudo abandonado, sem nenhum familiar, a não ser o chefe de uma outra família, em estado precário e se escondendo. Ao indagar o que aconteceu, Tom Joad descobre que todas as famílias da região, que são arrendatárias de seus terrenos sob o ponto de vista legal mas proprietárias sob o ponto de vista moral, estão sendo expulsas de suas terrras. Por sorte, Tom chega na véspera de sua própria família partir em busca da terra de plenitudes, a Califórnia. Durante a jornada, vemos a família Joad se despedaçando, junto com todos seus valores. É uma jornada bela mas tristíssima, arrimada na matrona da família Ma Joad, em um papel impressionante vivido por Jane Darwell.

A estória ia muito bem, com mortes, abandonos, brigas, numa clara projeção do que seria o futuro daquela família em frangalhos, em um país sem emprego para todos. Com dinheiro contado, ele são orgulhosos e recusam esmolas, querendo pagar pelo que comem. Tecnicamente, John Ford dá um show, com direção segura, um pouco em locação, um pouco em estúdio, mas sempre com uma fotografia em preto-e-branco de tirar o fôlego.

E esse é o auge do filme que, se continuasse no ritmo, mereceria uma nota altíssima.

No entanto, de repente, o filme descamba para um discurso comunista, mostrando a família chegando a um acampamento de sonho mantido pelo governo, em óbvia demonstração de como o Estado é algo importante (uma falácia, como todos sabemos hoje). Como se isso não bastasse, Tom passa a se tornar um pregador dos direitos dos mais fracos, iniciando, ao final do filme, um movimento sindical. Seu discurso de despedida é completamente inacreditável, artificial e forçado, como se o diretor tivesse se esquecido que estava adaptando um livro comunista e tivesse que enfiar o máximo de besteiras vermelhas no finalzinho. 

Ok, ok. É bem verdade que sou um cara mais de direita e o tema comunismo me incomoda por si só. No entanto, acho Encouraçado Potemkin uma obra sensacional. O que mais me incomodou em The Grapes of Wrath foi a mudança brusca e desnecessária de estilo, tom e discurso ao final do filme somente, que foi mal feita ao extremo e de má vontade, quase como se tivessem colocado uma arma na cabeça de John Ford. Bom, talvez tenha sido isso mesmo pois Ford era de direita...

Notas:

Minha: 7 de 10
Kaatu: 7 de 10
Barada: 7 de 10

Cuidado com os cegos!

Troque os monstros e o nevoeiro pela cegueira, o supermercado pelo hospital de quarentena, o homem pela mulher e, voilà, The Mist se transforma em Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, uma produção do Brasil, Canadá e Japão). E isso não é um demérito, mas sim um elogio!

O mais novo filme de Fernando Meirelles, baseado em obra de José Saramago, é sensacional. Enquanto The Mist era um filme sobre o estudo do ser humano em condições desesperadoras disfarçado de filme de monstro, Ensaio é a mesma coisa mas sem disfarces. É o que é e o espectador é jogado, sem que tenha tempo de pensar, em um mundo desesperador, sem saída.

O filme conta a estória de uma inexplicável epidemia de "cegueira branca" que assola um país (e talvez o mundo). Não há definição de que país. Sabemos que grande parte do filme foi feito em locação em São Paulo e isso fica claro para nós brasileiros mas, para internacionalizar a obra e mostrar que essa situação não é típica de um país mas sim do ser humano, Meirelles, colocou todas as placas e demais indicações em inglês. Decisão muito acertada.

Com a cegueira, os contaminados são levados à um hospital, onde ficam de quarentena. Lá, várias facções, divididas em alas, são formadas. Ninguém vê ninguém e  a sujeira - nojeira mesmo - impera. É gente nua, suja e desgrenhada para tudo quanto é lado. É escatologia pelo chão. É o ser humano largado somente com seus instintos mais primitivos, o que só mostra o quão involuídos somos em situações de desespero. 

Mas Saramago joga uma pitada de ironia quando a mulher do oftalmologista (Mark Ruffalo) que primeiro detecta o problema se torna a única pessoa na cidade (no mundo?) a não se infectar (Julianne Moore). Para ajudar seu marido, ela se finge de cega e vai para a quarentena junto com ele e acaba sendo a única luz no fim do túnel para um bando de desesperados.

Enquanto isso, os instintos animais se exacerbam e a Ala 3 passa a ser a "chefe do pedaço", com a liderança do personagem vivido por Gael Garcia Bernal. A comida começa a rarear e o pessoal da Ala 3 passa a cobrar pedágio. Começam primeiro com qualquer coisa valiosa que os internados das demais alas tenham. Depois, exigem mulheres. Essa cena, da oferta das mulheres da Ala 1 (onde está Julianne More, Alice Braga, Mark Ruffalo e Danny Glover) para os homens da Ala 3 é de uma sordidez de arrepiar e Meirelles é um mestre ao filmar sem esconder nada mas escondendo ao mesmo tempo. Nada menos que brilhante e a cena sozinha já vale o filme.

Dois outros subterfúgios funcionam muito bem. O primeiro é muito simples: ninguém tem nome. Isso aumenta a idéia que essa situação desesperadora pode acontecer com qualquer um, em qualquer lugar. O outro subterfúgio é exclusivo do diretor: ele saturou a cor branca nas lentes, dando um efeito espetacular de cegueira, proximidade, desespero, muito semelhante a uma neblina densa na sua frente (mais uma coincidência com The Mist).

Mas a grande jogada de mestre é mesmo deixar a mulher do oftalmologista sem ser afetada pela doença. Ela enxerga tudo mas nada pode fazer. Ela sabe que em um mundo cego, ela é a diferente e os diferentes são normalmente afastados do convívio. E pior, ela nos vê como somos de verdade. Incrivelmente torturante.

Não é um filme para qualquer um, definitivamente. Mas vale cada centímetro de celulóide em que foi filmado.

Nota: 9 de 10

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O velhinho ganha a corrida pelo careca dourado

Ontem pela manhã saiu a lista de indicados ao Oscar. Fiquei bem desapontado. Não porque Dark Knight não concorreu melhor filme. Isso era querer demais. 

Não gostei por duas razões principais.

Em primeiro lugar, Wall-E não concorreu a melhor filme, somente a melhor filme animado, uma categoria inventada para a Academia sempre premiar um desenho - o que é justo hoje em dia - mas que cria esse desnivelamento já que o pessoal da Academia nunca mais vai ter a coragem de colocar uma animação para ganhar na categoria principal, como fizeram com The Beauty and the Beast da Disney. 

Em segundo lugar, Benjamin Button levou 13 indicações, quais sejam: filme, diretor, roteiro adaptado, ator (Brad Pitt), atriz coadjuvante, direção de arte, fotografia, figurino, edição, maquiagem, trilha sonora, mixagem de som e efeitos visuais. Ok, o filme caiu no gosto da galera. Mas 13 indicações? Só não deram mais porque acabaram as categorias... Foi um exagero.

Achei legal Slumdog Millionaire levar 10 indicações, apesar de não ter visto o filme. Gostei também que Heath Ledger levou a indicação de melhor ator coadjuvante. E só...

A lista completa está aqui: http://www.oscar.com/nominees/?pn=nominees

Agora é aguardar para que os outros 4 indicados ao Oscar de melhor filme estreiem por aqui: Slumdog Millionaire, Frost/Nixon, Milk e The Reader.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Crítica de TV: The Wire - 3ª Temporada


Acabei agora de ver a terceira temporada de The Wire. Eu já disse que essa é a melhor série de TV que já assisti? Acho que sim mas não me canso de repetir: essa é a melhor série dramática da TV que já tive o prazer de assistir. 

E olha que, quando muita série já começa a cair na segunda temporada, The Wire só faz melhorar. A terceira temporada só confirma isso. Consegue ser, talvez, melhor que as outras duas.

Com 12 episódios, essa temporada fecha o "arco das drogas" que se iniciou na primeira temporada, sofreu um interessante desvio na segunda, meio que para recarregar as baterias, e voltou com força total, para um digníssimo fim (ao menos é o que acho). 

Agora, Jimmy McNulty e seus colegas, já formando uma equipe mais "permanente", tentam dissolver o cartel das drogas em Baltimore por meio de grampos em telefones celulares descartáveis. Nesse meio tempo, um chefe de polícia de médio escalão resolve fazer algo diferente para diminuir os danos colaterais do comércio de droga: remove os vendedores e compradores para regiões abandonadas da cidade, literalmente legalizando as drogas em 3 regiões. Isso tudo, claro, sem o alto escalão - incluindo o prefeito - saber de nada. 

Como se essa questão complicada não bastasse, a terceira temporada lembra um pouco The Godfather III, com o principal "drug lord" tentando, com todas as forças, legalizar seu negócio mas sendo tragado de volta para as brigas de gangue que tanto atraem a polícia. Em paralelo, vemos a intensificação do foco da série na politicagem na cidade, com senadores corruptos, vereadores almejando a prefeitura, pessoas comuns almejando o cargo de vereador, o prefeito tentando garantir um segundo mandato, os comissários de polícia tentando ficar no cargo até o fim a todo custo e todo mundo, no processo, querendo obter vantagens, sejam pecuniárias ou não. 

É sensacional como os produtores foram ainda mais ousados nessa temporada ao tratarem das questões de forma lenta, com todos os detalhes e meandros desse mundo sórdido aparecendo aos poucos, quase que em câmera lenta. Definitvamente não é uma série de ação. É um filme dramático com fortíssimos tons políticos, em forma de 12 episódios. Talvez os produtores tenham se sentido mais seguros, tendo passado por duas temporadas, provavelmente angariando espectadores fixos, e passaram a mirar nas interessantíssimas questões políticas que antes eram vistas sim mas sem essa atenção toda. 

A quarta temporada promete ser ainda mais política e talvez mais sensacional ainda. 

Nota: 10 de 10

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Forrest Button ou Benjamin Gump?

Disseram-me que impliquei com The Curioius Case of Benjamin Button. Eu, por outro lado, estava com uma pulga atrás da orelha não conseguindo saber se tinha gostado do filme ou não. Acabei dando nota 7 e fiz um paralelo singelo com Forrest Gump.

Aparentemente, eu tinha razão.

Vejam o vídeo no link abaixo e me digam se eu não tenho razão:


Não são idênticos? Tudo bem, a estória de Button tem o lance do "nascer-velho-e-morrer-novo" mas pera lá... É muito coincidência demais...

Dá vontade de rebaixar a nota mas vou deixar como está pois a direção foi bem segura e Fincher se esforçou bastante com os efeitos especiais.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Crítica de filme: The Curious Case of Benjamin Button (O Curioso Caso de Benjamin Button)


Poucos filmes me deixaram tão na dúvida se gostei ou não gostei dele como The Curious Case of Benjamin Button. Ele tem tudo para ser adorado mas, sei lá, fiquei meio em cima do muro. Façamos, então, um check-list.

Tem um grande diretor? Sim, David Fincher, o mestre que dirigiu Seven, Fight Club (um de meus filmes favoritos), The Game, Panic Room e Zodiac.

Um grande elenco? Sim, Brad Pitt no papel título, Cate Blanchett como Claire, seu amor de "infância", Tilda Swinton como Elizabeth, esposa de um diplomata inglês na União Soviética e amante de Benjamin e Jarred Harris como o mentor de Benjamin, Captain Mike.

Uma estória original? Sim, baseada em conto de F. Scott Fitzgeral, o filme conta a estória de Benjamin, que nasce de um parto complicado em que sua mãe morre e, por ter uma aparência bizarra, o pai o renega e o deixa em um asilo de idosos em New Orleans. Lá, ele é adotado por Queenie, uma negra que cuida dos idosos e que logo descobre que Benjamin, na verdade, nasceu velho e vai rejuvenescendo a cada dia. Benjamin, em idade avançada, apaixona-se pela menina Claire (que, adulta, seria vivida por Cate Blanchett), reencontrando-a quando ele está mais novo 20 anos e ela mais velha 20 anos.

Efeitos especiais bons? Sim, sensacionais. O rejuvenescimento de Benjamin e o envelhecimento dos demais personagens, misturando efeitos práticos de maquiagem com efeitos de computação gráfica, são inacreditáveis, lembrando muito os brilhantes efeitos de Forrest Gump. Aliás, a própria estória de Benjamin se confunde um pouco com a de Forrest, já que ambos atravessam décadas participando, de uma forma ou de outra, de vários momentos históricos importantes (não coincidentemente, o roteirista de Forrest Gump, Eric Roth, é o mesmo do filme de Fincher).

Uma boa fotografia? Certamente. Belíssima fotografia durante todo o filme, começando na New Orleans dos anos 20, passando pela União Soviética logo antes da Segunda Grande Guerra, Nova Iorque, Índia e outros locais.

O que faltou então? 

Acho que o filme, que obviamente trata da nossa relação com a morte e sobre como o tempo é inexorável, não perdoando ninguém, é bastante repetitivo nesses temas, ao ponto da exaustão. Creio que, também, a escolha de Fincher de iniciar o filme no presente, com Cate Blanchett em seu leito de morte, na época da chegada do furacão Katrina em New Orleans, não foi muito feliz. O problema é que Fincher quebra a estória de Benjamin, que é lida pela filha de Cate Blanchett no diário de Benjamin. Por muitas vezes o diretor para a estória e volta ao presente, tornando o ritmo do filme meio claudicante. Os efeitos especiais, apesar de sensacionais, não são perfeitos. Lembro-me de ter ficado mais impressionado com Forrest Gump, ao ponto de jurar de pés juntos que Gary Sinise - que não conhecia à época - não tinha mesmo as duas pernas e que o efeito especial tinha sido colocar as duas pernas nele para o início do filme. Os problemas dos efeitos aparecem logo no começo com Benjamin muito idoso, em que uma "cabeça velha de Brad Pitt" foi colocada no corpo de computação gráfica de uma criança e no fim, quando Benjamin está muito novo, com menos de 20 anos, em que vemos uma pele bastante artificial. Sei lá. Foi o suficiente para me distrair e quebrar a "quarta parede".

Mas, claro, os defeitos do filme perdem um pouco sua força quando nos deparamos com o esforço do diretor em retratar tudo com perfeição, com figurinos, sotaques, set dressings e iluminação perfeitos. A estória, para lá de original, também ajuda muito, com momentos bem comoventes (mas talvez não tão comoventes assim como se esperaria de filmes como esse). 

Não querendo ser injusto com a obra, acho que dá para dizer que gostei do filme, mas com muitas reservas.

Nota: 7 de 10

Club du Film - Ano IV - Semana 03: Buster Keaton


Há três anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo (com pseudônimos, claro).

Filme: Buster Keaton (Seven Chances, The Balloonatic, Neighbors)

Diretor: Buster Keaton

Ano de lançamento: 1925, 1923 e 1920, respectivamente

Data em que assistimos: 15.01.2009

Crítica: Roger Ebert, dessa vez, não indicou um filme, mas sim um diretor/ator/roteirista/produtor: Buster Keaton.

Em seu primeiro livro, o crítico destacou The General, um magistral filme do famoso comediante, todo ele passado em cima de um trem, com malabarismos sensacionais do ator, conhecido por seu rosto impassível, sempre sério. Como Ebert não fez nenhuma sugestão específica ao mencionar o nome de Keaton mas sim tratou de elogiá-lo até o último grau, decidimos assistir 3 curta-metragens do mestre, de anos anteriores ao clássico The General.

O primeiro, Seven Chances, conta a estória de um contador rico mas que está prestes a falir. Ele nunca consegue pedir a mão de sua amada em casameto, por pura timidez. Um dia, chega para ele a notícia que ele herdaria 7 milhões de dólares (em 1925 isso deveria ser o correspondente a centenas de milhões de dólares hoje em dia) mas somente se estivesse casado até as 7 horas da noite do dia do seu 27º aniversário. Claro que o dia em que ele recebe a notícia é o dia do seu 27º aniversário e ele sai desesperadamente para pedir sua amada em casamento e consegue. No entanto, ao explicar as circunstâncias, ela fica ofendida e o recusa. Ele e seu sócio, então, partem para pedir todas as mulheres que aparecem na frente deles em casamento. O filme é uma sucessão de gags impressionantes. Chama especialmente atenção o atletismo de Keaton, notadamente na cena da avalanche de pedras. Em uma época em que não havia ainda efeitos digitais, o que Keaton alcançou é para lá de embasbacante.

O segundo, The Balloonatic, conta a estória de um homem que, por acidente, entra em um balão e vai parar em uma bucólica floresta, onde encontra perigo, aventura e, claro, o amor. Apesar do título, o filme tem apenas 1 minuto de balão. O resto se passa às margens de um rio, onde Keaton encontra uma moça acampada. Seguem gags menos atléticas e menos interessantes do que no curta anterior. Digo menos interessantes somente porque, sem o atletismo impressionante de Keaton, "só" sobram aquela piadas visuais que, hoje em dia, estamos cansados de ver em todos os filmes, até mesmo em desenhos animados. É muito difícil apagarmos o que temos na cabeça e apreciar o filme como se fôssemos pessoas de 1920. Se duvidar, foi o próprio Keaton que inventou a maioria das palhaçadas que vemos nos desenhos do Pica-Pau, por exemplo. Por exemplo, em determinada hora, Keaton aparece remando uma canoa tipo indígena pelo rio só para descobrimos, em momento seguinte, que há um furo na canoa e Keaton está, na verdade, com os pés no fundo do rio, andando. 

Neighbors, o terceiro e último filme que vimos, trata de Keaton apaixonado pela vizinha, sendo que o pai dela, claro, é contra o romance. O filme praticamente se passa no espaço vazio - dividido por uma cerca de madeira - entre dois prédios vizinhos. Keaton cria situações inacreditáveis nesse espaço aparentemente limitado. Há acrobacias circenses, gags engraçadíssimas e muito pastelão. O filme é um grande exemplo de originalidade de roteiro especialmente se conseguirmos enxergá-lo com olhares despidos do que conhecemos hoje. 

Moral da estória: Keaton era um gênio da comédia, talvez o melhor de todos os tempos. Exagero? Talvez. Mas julguem por vocês mesmos, prestigiando o comediante e vendo seus filmes. Não se arrependerão, eu garanto.

Notas (gerais, não por cada filme):

Minha: 9 de 10
Klaatu: 9 de 10
Barada: 9 de 10
Nikto: 8,5 de 10

Dose dupla

Imaginem vocês a seguinte situação: Luis Buñuel discutindo com Salvador Dalí o roteiro de filmes. O que poderia sair de uma troca de idéias de pessoas tão inusitadas como essas? Para muitos, só loucuras. Para outros, só loucuras também... 

E foi definitivamente isso que aconteceu em Un Chien Andalou. Revi esse filme recentemente pois ele vinha no mesmo DVD do filme que queria efetivamente ver: L'Age d'Or.

Un Chien Andalou é um filme de 17 minutos cujo roteiro foi criado pelos dois sujeitos que mencionei acima (o primeiro de Buñuel, em 1928). Mas a loucura não é necessariamente uma coisa ruim, como verão. Buñuel e Dalí tinham apenas duas regras para o roteiro desse curta: (1) os dois tinham que concordar com todas as cenas e (2) as cenas não poderiam ser passíveis de explicação racional.

Daí vocês podem ter uma idéia do que saiu: formigas saindo de um buraco na mão de uma pessoa, um homem puxando uma corda a que estão presos dois padres e um piano com dois burros mortos em cima, um olho sendo fatiado por uma lâmina de barbear e por aí vai.

Tentar explicar o filme ou o enredo é impossível. Só vendo mesmo. Para muitos, Un Chien Andalou, tenho certeza, será um porcaria. Entendo perfeitamente essa posição. No entanto, um contexto histórico é importante.

Buñuel e Dalí foram fundadores do movimentos dos surrealistas, que tinha como objetivo perverter a ordem social e chocar o mundo. Conseguiram por diversas ocasiões nas artes. Para se ter uma idéia, como Dalí, em um segundo momento, passou a perseguir a fama e o dinheiro, ele foi "banido" do grupo, ou seja, uma tentativa de se seguir um caminho normal vai contra o espírito do surrealismo.

Un Chien Andalou é o primeiro - e talvez único - exemplo de obra cinematográfica 100% surrealista. Tem que ser "entendida" como 17 minutos de sonhos e devaneios de duas pessoas que, mais para frente, se tornariam gênios em suas atividades. É uma questão de gosto puramente, não de esnobismo, apreciar desse filme. Eu adorei. Entendam como quiser mas vejam o filme.

L'Age D'Or (A Era do Ouro) foi o segundo filme da dupla. Os dois, com o dinheiro de um aristocrata francês chamado Charles de Noailles, que havia adorado Un Chien Andalou, partiram para fazer outra obra surrealista. De Noailles tinha prometido liberdade total à Buñuel e impôs apenas uma condição: que o diretor utilizasse Stravinsky para escrever a música do filme. Buñuel indagou de de Noailles se ele poderia imaginá-lo trabalhando com um "chorão" como Stravinsky (algo que se dizia à época). Buñuel tinha certeza que, com isso, não levaria o dinheiro mas de Noailles, na hora, disse ok, que era para o diretor fazer o que quisesse. 

Foram então Buñuel e Dalí para escrever o roteiro, nas mesmas bases do anterior. No entanto, dessa vez, os dois não conseguiam concordar com nada e um vetava as idéias do outro (queria ter podido ouvir essas discussões...). Assim, Dalí saiu do projeto, apesar de seu nome continuar nos créditos do filme.
Buñuel, então, criou um filme de 1 hora de duração, ainda de veia surrealista, mas com um pouco mais de nexo nas cenas. Para começar, com 1 hora, cada cena poderia durar mais tempo, o que emprestava uma estrutura de estória à obra. As cenas continuam não fazendo muito sentido e não devem ser passíveis de ser efetivamente explicadas mas, por trás, vê-se alguma coisa de narrativa.

Imagens chocantes se sucedem, como os bispos católicos em um rochedo que, depois de mortos, têm seus esqueletos (ainda vestidos e no rochedo) reverenciados pela população; um amor impossível entre um homem e uma mulher, durante um festa, com direito a vaca deitada na cama e beijos da garota em um ancião e, em uma cena devastadoramente doentia - mas érotica - beijos de uma garota no dedão de uma estátua de mármore, como se estivesse fazendo felatio

Mas nada ultrapassa o choque da cena final. Depois de explicar - em intertítulos - que aristocratas chefiados por de Sade haviam feito uma orgia durante vários dias em um castelo, abre-se a porta do local e quem sai de lá é Jesus Cristo. 

Desnecessário dizer, o filme foi banido da França, sendo reapresentado somente em 1980. Os de Noailles quase foram excomungados e Buñuel, com isso tudo, havia conseguido sucesso mais uma vez perante os surrealistas.

L'Age d'Or é brilhante, assim como Un Chien Andalou mas tudo, claro, é uma questão do quanto uma pessoa consegue aturar cenas bizarras em sucessão.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O fim

Acabou a batalha judicial entre Fox e Warner sobre os direitos de Watchmen. O Juiz do caso havia determinado uma audiência em que ele prolataria sua decisão para o dia 20 de janeiro. As partes se mantiveram firmes e se recusaram a negociar por um tempo.

No entanto, "money talks" e era óbvio que um filme basicamente pronto, que custou mais de 100 milhões de dólares, não iria ficar parado. Ninguém é imbecil ao ponto de acreditar nisso de verdade. Hoje o acordo saiu, os dois estúdios fizeram uma declaração conjunto e tudo volta como antes. É claro que o acordo deve ter envolvido alguns milhões de dólares para a Fox mas, nesse ponto, qualquer coisa era melhor do que arriscar de o Juiz dizer que o filme não pode ser lançado sem o ok da Fox. Era simplesmente impensável pela lógica e, principalmente, pela matemática de Hollywood.

Foi muito interessante enquanto durou, porém. O blog Filmesq.com (aí ao lado) tem todas as peças judiciais do caso e, para os que são advogados (tendo em vista o "juridiquês", que pode ser bem chato), eu recomendo a leitura. 

Agora é aguardar o dia 06 de março para ver como é o filme.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

E foi dada a largada!

Começou a temporada de premiação de Hollywood. 

Acabaram de sair todos os Globos de Ouro, o segundo mais importante prêmio do cinema/televisão. A lista completa vocês acham em http://www.goldenglobes.org/nominations/.

Vale citar alguns destaques: 

- 30 Rock ganhou três prêmios: melhor série de comédia, melhor atriz de série de comédia (Tina Fey) e melhor ator de série de comédia (Alec Baldwin) - Posso dizer que é a melhor série cômica hoje da TV. Prêmios muito merecidos.

- Mad Men ganhou prêmio de melhor série dramática. Eu tenho a primeira temporada em Blu-Ray e estou louco para ver. 

- Wall-E obviamente ganhou o prêmio de melhor animação. Não tinha como ser diferente.

- Anna Paquin, que ganhou o Oscar quando criança por The Piano, levou o prêmio de melhor atriz de série dramática por True Blood da HBO, sobre vampiros, outra que quero muito ver.

- Kate Winslet fez algo que acho que é inédito. Ganhou os prêmios de melhor atriz coadjuvante por The Reader E o de melhor atriz por Revolutionary Road. Impressionante. Tornou-se a franca favorita ao Oscar.

- Mickey Rourke levou o de melhor ator por The Wrestler. Quero conferir se ele merece mesmo pois só leio elogios à esse filme, dirigido por Darren Aronofsky.

- O melhor filme de comédia ou musical foi Vicky Cristina Barcelona. Esse eu só vejo se concorrer ao Oscar de melhor filme pois detesto o Woody Allen e tudo o que ele faz. Pelo menos o Mamma Mia! não ganhou.

- Heath Ledger ganhou como melhor ator coadjuvante por The Dark Knight. Não tinha para ninguém mesmo.

- Slumdog Millionaire, de Danny Boyle, uma co-produção britânica e indiana, comandou a noite, com quatro prêmios: melhor roteiro, melhor trilha sonora, melhor diretor e melhor filme de drama. É, parece que Hollywood está querendo premiar os britânicos, que já não ganham algo significativo há séculos. De quebra, está premiando a Índia, país cada vez mais importante no cenário mundial. Nada como a globalização...

Agora a estrada para o Oscar está pavimentada. Vamos ver o que acontece com as premiações dos sindicatos que virão em seguida.

Só falta os filmes indicados estrearem no Brasil, algo que, costumeiramente, para meu desespero, só acontece em cima da hora. 

Superamigos!

Tem sido uma febre de Hollywood a produção de filmes, animados ou não, para lançamento direto em DVD. Lembro-me que, não tem muito tempo, somente a Disney fazia assim e basicamente para lançar continuações de seus célebres longa-metragens animados, tais como Cinderella II e III, Pocahontas II e vários outros.

Parece que o negócio dá dinheiro e todo mundo partiu para o mesmo caminho. A Marvel e a DC Comics, no lado dos quadrinhos, estão particularmente animadas com isso pois já lançaram diversos desenhos diretos para DVD. Já havia assistido Ultimate Avengers, que é uma versão diluída da Marvel para o grupo Ultimates que, por sua vez, era uma versão turbinada e mais realista dos Vingadores (Avengers). O desenho era fraquinho mas dava conta do recado. A Marvel continuou com Doctor Strange, Iron Man, Ultimate Avengers II, Young Avengers e alguns outros, com bastante sucesso (mas não vi nenhum ainda).

A DC Comics, apesar de criadora de excelentes séries animadas de TV, como Batman, Superman e Justice League, estava meio atrás nessa corrida. Pelo que me lembro, começou com Superman: Doomsday, que conta a famosa estória da morte do Superman e, mais recentemente, lançou Justice League: The New Frontier.

Foi esse último desenho que assisti. Ele é baseado na graphic novel de mesmo nome de Darwyn Cooke, que não tive a oportunidade de ler ainda mas espero, sinceramente, que seja melhor que sua versão filmada. O problema do desenho, de 74 minutos, é um só: tem coisa demais acontecendo em pouco tempo, o que resulta em fragmentos de estórias diferentes aqui e ali, sem muita coerência ou explicação.

Em poucas palavras, a graphic novel parece ser uma mistura de The Dark Knight Returns com Watchmen, duas das mais icônicas obras em quadrinhos já feitas. Os heróis foram banidos pelo governo americano e só uma enorme ameaça mostra que os heróis mascarados são necessários. A estória se passa nos anos 50, com claras menções às paranóias da época: OVNIs, Comunismo e MacArthismo. Superman é um mero fantoche do governo e Batman está foragido. Heróis como Flash existem mas atuam muito pouco. O problema é que, simultaneamente a tudo isso, The New Frontier é uma estória de origem e não de um, mas de dois heróis -Martian Manhunter e Green Lantern - com foco nesse último. 

Tudo fica muito confuso e o fiapo de estória se prende à uma ameaça interplanetária completamente maluca que toma umas duas porradas e já pede arrego. Se não fosse pela arte do desenho, ele não serviria para nada.

Nota: 3 de 10

domingo, 11 de janeiro de 2009

Club du Film - Ano IV - Semana 02: Le Notti di Cabiria (As Noites de Cabíria)



Há três anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo (com pseudônimos, claro).

Filme: Le Notti di Cabiria

Diretor: Federico Fellini

Ano de lançamento: 1957

Data em que assistimos: 08.01.2009

Crítica: Esse filme é um dos favoritos de meu pai mas nunca tive muita vontade de assistir. A oportunidade real veio agora com o Club du Film e posso afirmar que se trata de um filme carregado nas costas por sua atriz principal, Giulietta Masina, que vive a prostituta Maria "Cabiria" Ceccarelli. O filme conta as desventuras dessa mulher, sofredora, enganada pelos homens, usada pelos homens, pobre mas que tem um joie de vivre inacreditável. 

Com seu sorriso, Cabiria ilumina todas as cenas desse filme que, do contrário, seria puramente uma depressão só. Cabiria vê nas piores situações e nas piores pesssoas o lado bom. Sobrevive à tudo e à todos com sua força de vontade, que pode muito bem ser oriunda de uma inocência fora do comum, apesar de sua profissão.  Giulietta Masina, que era esposa de Fellini, está reluzente nesse papel. Parece que nasceu para ele. 

O filme é tenebroso em termos de estória. Abre com o cafetão de Cabiria não só roubando o dinheiro dela como, também, deixando-a à beira da morte. Pior não poderia ser. Daí em diante, vemos Cabiria com raiva, que logo é esquecida e trocada por sua alegria contagiante. Fellini nos mostra várias noites da prostituta, encontrando amigos, se encontrando com ator famoso, acompanhando amigos à uma procissão religiosa, tudo culminando com o encontro de Cabiria com uma pessoa bondosa e agradável, por quem logo se apaixona. Obviamente, para meio entendedor, fica claro que a estória não acaba bem. O começo é um prelúdio do fim mas a jornada é tocante e merece ser acompanhada.

Notas:

Minha: 8 de 10
Klaatu: 7 de 10
Barada: 6,5 de 10
Nikto: 6 de 10

sábado, 10 de janeiro de 2009

Paris Episódio II: Texas


Wim Wenders é um diretor que merece aplausos por se manter fiel à arte do cinema e do seu modo de dirigir. Faz filmes contemplativos que discutem com profundidade a condição humana, sem deixar descambar para a obviedade ou chatice. 

Um grande exemplo de sua arte é Paris, Texas. Só a delicada explicação para esse título inusitado já nos mostra muito do personagem de Travis Henderson: sua mãe nasceu na cidade de Paris e seu pai sempre fez questão de dizer isso, para depois explicar que era Paris, no Texas. O filme, vale dizer, é centrado nesse personagem, vivido magistralmente por Harry Dean Stanton, talvez em seu melhor papel em sua enorme carreira.

Wenders nos apresenta a Travis imediatamente e vemos alí um homem perdido, sem rumo e sem memória, que desmaia em um posto no meio do deserto do Texas. Logo descobrimos que ele está há 4 anos longe de sua família, tendo deixado seu filho - Hunter - com seu irmão Walt (Dean Stockwell). Aí começa uma belíssima estória de expiação de pecados e redenção, com Travis tentando aos poucos se reaproximar do filho e descobrir o paradeiro de sua esposa, Jane, vivida por Nastassja Kinski (antes de ficar feia). 

O diretor não se apressa e não tenta usar diálogos para explicar o que está acontecendo, o que poderia levar à uma transformação radical demais do modo de ser de Travis, que mal sabia quem era seu irmão no começo do filme. Uma analogia possível é com aparelhos movidos à válvula, de antigamente. Travis é "ligado" quando seu irmão o resgata do meio de deserto e, aos poucos, vai "esquentando" ao ver a vida que deixou para trás, até efetivamente estar funcionando bem ao ponto de tomar uma decisão crucial: procurar sua esposa, mãe de seu filho. Ele é um homem que chegou ao fundo do poço e, meio que sem querer, começa a voltar à vida quando se reencontra com a família.  

Mas o filme realmente é focado na excepcional atuação de Harry Dean Stanton, que brilha a todo momento. O diálogo tocante que ele tem com sua esposa, sem vê-la (vejam o filme para entender) é sensacional e um show de atuação dos dois lados e olha que Harry só aparece na penumbra, muito na linha do chiaroscuro que Coppola usa ao fim de Apocalypse Now!, ao focar no Coronel Kurtz.

Nota: 9 de 10

Crítica de filme: Ultimo Tango A Parigi (O Último Tango em Paris)

Sempre tive curiosidade de assistir O Último Tango em Paris. Afinal, o filme se tornou famoso pelas cenas picantes, especialmente a da manteiga, retratada abaixo:


Bernardo Bertolucci, um diretor que não me agrada (fez The Last Emperor e The Dreamers, que detestei), dirigiu esse filme que teve o mérito - à sua época, 1972 - de escandalizar seus espectadores. Deve ter sido uma experiência muito interessante assistir esse filme no cinema em seu lançamento...

De toda forma, o filme conta a estória de Paul, um americano radicado em Paris vivido por Marlon Brando que, após o suicídio de sua esposa, meio que endoidece e acaba esbarrando em uma jovem francesa (Jeanne, vivida por Maria Schneider) ao procurar um apartamento para alugar. 

Estabelecida essa premissa, o filme parte logo de cara, sem perder tempo, para a sacanagem. Parece um filme pornográfico light com o defeito grave de ser sempre o mesmo casal toda hora, ainda que eles tentem ser originais nas, digamos, "posições"... Ainda por cima, é um casal feio. Marlon Brando parece um velho caquético no filme e Maria Schneider lembra muito uma Cláudia Ohana naquelas fotos mostrando seu "matagal" na Playboy, só que mais feia... 

Acho que só vale assistir pelo inusitado e por esse filme ter marcado uma época. Para quem não sabe, ele foi banido na Itália, tendo todas as suas cópias sido destruídas naquele país. Bertolucci foi sentenciado à prisão por 4 meses e teve cassado seu direito de votar por 5 anos. Haja censura! 

E só porque ele filmou Marlon Brando passando manteiga no derrièrre de Maria Schneider e, depois, mandando ver...  

Nota: 5 de 10

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Crítica de filme: The Mist (O Nevoeiro)



Quem acha que The Mist é meramente um filme de terror de monstros se encaixa em pelo menos uma das cinco opções que seguem: (1) é burro; (2) não entende nada de cinema; (3) está de má vontade; (4) não gosta de filmes que fazem pensar e/ou (5) preferem filmes feijão-com-arroz da sessão da tarde.

Para esse pessoal eu digo: assistam Ursinhos Carinhosos e fujam de The Mist (O Nevoeiro, em português).

The Mist é um excelente filme de terror psicológico que conta a estória de uma cidade que, de uma hora para outra, após uma tempestade, se vê invadida por um forte nevoeiro que traz um monte de monstros que gostam de carne humana. Não, não contei segredo algum. Os monstros são relevados logo nos primeiros 10 minutos de trama. Aliás, o diretor não perde tempo: o nevoeiro começa a aparecer com 1 minuto de filme e a situação se estabelece em 5 minutos no máximo e olha que o filme tem pouco mais de 2 horas. Voltando à estória, uma pequena parte da população fica presa em um supermercado e lá tem que travar batalhas com os bichos invasores. Thomas "The Punisher" Jane é a estrela do filme, junto com uma excelente atuação de Marcia Gay Harden, como uma insurportável beata.

Não interessa para o filme ou para o espectador o porquê do nevoeiro. Sua razão de ser é até explicada mas isso é o de menos. Asssim como é de menos o que tem dentro do nevoeiro. Poderia até mesmo ser a ameaçadora velhinha de Madagascar 2 que não faria a menor diferença. O importante é a criação da sensação de claustrofobia e de total desespero e falta de esperança que a situação gera. O mote do filme é estudar como as pessoas ditas civilizadas reagiriam diante de uma situação aterradora, em que não se vê possibilidade de saída. Quem faria o quê? Quem tem coragem de encarar a questão de peito aberto? Quem se esconde? Quem se desespera e perde o controle? Quem manipula os outros? Quem fraqueja?

The Mist é uma bela discussão sobre a condição humana. Ajuda ter sido baseado no conto homônimo do mestre de terror Stephen King, tantas vez muito mal adaptado para as telonas (vide o horrível Dreamcatcher, isso só para dar um exemplo recente). Ajuda também o diretor ser Frank Darabont, que parece adorar Stephen King ao ponto da idolatria pois, dos 5 longas que dirigiu na vida, nada menos que 3 são baseados em obras de King. Darabont, para quem não se lembra, foi o diretor do sensacional The Shawshank Redemption e do razoável (mas para a crítica em geral o sensacional também) The Green Mile, ambos baseados em Stephen King. Ele fez ainda um curta metragem (capítulo de série de TV) com base na obra de King: The Woman in the Room.

Aliás, Darabont tem "cojones" por ter filmado e projetado um final nihilístico e completamente anti-hollywoodiano para o filme. O filme não é feito para o "final bacana" como em regra são os filmes de Shyamalan (The Sixth Sense e The Village só para dar dois exemplos mais óbvios) mas certamente a abordagem franca de Darabont nos faz ficar desesperados com o que está prestes a acontecer. Também não é um final surpresa não. Na verdade, para quem está acostumado com cinema, dá para ver que ele é telegrafado desde o começo do filme mas o que é raro é efetivamente ver isso acontecer da forma como acontece. Hollywood, em regra, sempre dá um jeito de mostrar o lado positivo, o que não acontece nesse filme (ainda bem!).

Assim, quem espera um filme que levante o espírito, vá ver o já citado Ursinhos Carinhosos... Quem quer ver na tela uma metáfora sobre o que todos sabemos - mas não admitimos saber - sobre a nossa sociedade, veja The Mist.

Nota: 9 de 10

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Mais um do mestre


Eu não dou notas aos filmes de Buñuel. Apesar de ser "metido a crítico", não tenho coragem de classificar o diretor mais sensacional de todos os tempos junto com Kurosawa. Meu objetivo é achar e assistir a todos os filmes desses dois diretores, uma tarefa complicada considerando que, no Brasil, lançamentos de clássicos ou não acontecem ou acontecem por intermédio de empresas notoriamente piratas, com cópias de baixa qualidade.

De toda forma, consegui assistir a El. É só assim mesmo: El. Em português é "O Alucinado", um título para lá de descritivo, como notarão.

El, de 1953 (fase mexicana de Buñuel) conta a estória de Francisco e Gloria. Francisco é um aristocrata mexicano, de meia-idade, vivido sensacionalmente por Arturo de Córdova e Gloria é uma jovem argentina, de boa estirpe, vivida por Delia Garcés. Gloria está noiva de Raul Conde (Luis Beristáin) mas, ao esbarrar em Francisco em uma igreja, eles se apaixonam. Gloria reluta mas, com a insistência e a corte de Francisco, acaba cedendo e casando com ele.

Mas aí é que os problemas - e o filme - começam. A personalidade possessiva e paranóica de Francisco começa a se mostrar, de pouco a pouco, com sinais aqui e ali. A obsessão de Francisco, que acha que o mundo conspira contra ele, começa a seriamente afetar o casamento e a destruir a vida de Gloria, que passa, basicamente, a ser uma prisioneira do marido. Ela não pode sair de cada pois ele acha que todo homem que passar por Gloria é um amante da mulher.

Parece a estória de Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Francisco vai se transformando em um ser disforme, completamente diferente daquela pessoa que Buñuel nos apresenta no começo do filme, ainda que as pistas de sua transformação estejam todas lá. De acanhado ele se torna brigão, de educado ele se torna grosso, de delicado ele se torna abusivo. O ator que o vive faz um trabalho sensacional e sua canastrice inicial se mostra uma excelente tática teatral para realçar seu lado paranóico mais adiante.

Buñuel, com direção segura, mais esconde do que mostra, deixando-nos aflitos pela vida de Gloria. A casa de Francisco é, no começo, uma bela mansão, com um magnífico átrio, que logo nos chama a atenção. No entanto, ao longo do filme, sem alterar o cenário, Buñuel nos chama a atenção para detalhes da decoração que refletem a mente retorcida de Francisco. A casa é um eco do dono e Gloria caiu na armadilha! E os espectadores também, o que é ótimo.

É ver para crer.

9/11: o prelúdio

Querem ver um filme sobre o atentado de 11 de setembro de 2001 em que ele não é mencionado e que não tem nenhuma filmagem de Nova Iorque?

Vejam Charlie Wilson's War. O filme, estrelado por Tom Hanks no papel título, um congressista norte-americano representante do estado do Texas, conta a estória por trás do evento que acabou culminando com Osama jogando aviões no World Trade Center.

Charlie Wilson, porém, não é o vilão, mas sim o mocinho. Graças a ele, conta o filme, os Estados Unidos ajudaram de verdade (além de mandar John Rambo, claro) o Afeganistão na luta contra os Soviéticos no final de década de 80. Ele conseguiu inflar o orçamento para a guerra suja da CIA que, por sua vez, fazia com que armamentos pesados e treinamento chegassem ao alcance dos Mujahideen do Afeganistão. Com essa ajuda, os guerrilheiros humilharam o exército Soviético da mesma forma que os Vietcongues, com a ajuda Soviética, humilharam o exército Americano. Foi uma vingança perfeita dos Americanos.

Charlie foi ajudado por uma americana de ultra-direita do Texas, a milionária Joanne Herring (Julia Roberts), que usou de sua influência para apresentá-lo às pessoas certas. Também teve um importante papel o agente da CIA Gust Avrakotos, vivido por Philip Seymour Hoffman. Os três atores brilham em seus respectivos papéis, com especial destaque para Hoffman, como sempre.

O filme, em si, é uma jóia pois tem humor, sofisticação e ação em doses certas. Parece leve mas, na verdade, é muito forte e pesado, com forte crítica política, pois não só mostra as atrocidades que os Soviéticos impingiram ao povo afegão mas porque também - e principalmente - serve de tenebroso prelúdio para um dos momentos históricos recentes mais poderosos do mundo: o primeiro ataque ao continente norte-americano.

Mais para o final do filme, fica aquela sensação, aquele engasgo na garganta no sentido de que tudo poderia ter sido evitado se as decisões políticas corretas tivessem sido tomadas após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão. É de arrepiar os cabelos...

Nota: 8,5 de 10 

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Quanta originalidade!

Sabedora que Se eu Fosse Você 2 seria lançado nos cinemas, minha esposa resolveu alugar a primeira parte. Eu acabei assistindo.

A estória, minha gente, é algo inacreditavelmente inédito no mundo cinematográfico. Nunca tinha visto antes: um homem (Tony Ramos) troca de sexo com sua mulher (Glória Pires) e cada um vive alguns dias na pele do outro. Não sei como Hollywood nunca fez algo assim tão brilhante ao longo de seus 100 anos de história...

Bom, falando sério, o filme é uma inócua sessão da tarde, com o peludão do Tony Ramos desmunhecando (algo bem bizarro por sinal) e  a passada da Glória Pires andando de pernas abertas. Algumas piadinhas que lembram, no fundo do cérebro, alguma coisa parecida com algo engraçado e só. Se não fosse minha esposa assistindo, mandava um fast forward. 

De toda forma, o filme cumpre seu (limitado) papel cinematográfico, que é divertir aqueles que se divertem com muita, mas muita (MUUUUUITA) facilidade mesmo. Ah, apesar de ter visto o DVD, minha esposa não conseguirá me arrastar de jeito nenhum para ver a parte 2 no cinema. Esperarei "ansiosamente" o DVD...

Nota: 5 de 10

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Anos 80

Ainda que seja uma parte razoavelmente curta de Meu Nome Não é Johnny, os anos 80 estão lá presentes e foi delicioso revivê-los brevemente. Não a parte das drogas, claro, mas sim as gírias e roupas da época e do comecinho da década de 90. 

O filme está entre os brasileiros mais bem dirigidos que já vi, com edição segura, figurinos perfeitos e estória bem cativante. Selton Mello está ótimo como o João Guilherme Estrella e Cleo Pires está também muito competente como sua namorada superficial. A estória, como todos devem saber é verdadeira e trata da ascensão e queda do personagem título, um playboy da Zona Sul do Rio de Janeiro que acaba se envolvendo no tráfico internacional de drogas.

A tecnicidade do filme não esconde um defeito, que é mais culpa da realidade do que do filme: a estória de João Guilherme Estrella dá glamour à vida desregrada de drogas. Nada no filme realmente condena a atitude do protagonista em consumir e traficar narcóticos pesados, nem mesmo a pena em que ele é condenado. Aliás, até sua atitude de mártir durante o julgamento nos ajuda a ter "dó" de João Guilherme. Se vocês notarem, até o poster do filme é mais focado no fator "cool" de Johnny do que nos problemas das drogas (vejam aí em cima). 

Sei lá. Chamem-me de antiquado mas, no meu livro, o filme perde por isso. Vejam esse filme mas completem com Requiem for a Dream do Aronofsky, por uma questão de equilíbrio de pontos-de-vista.

Nota: 7 de 10

Crítica de filme: Bolt



A animação da Disney há muito andava enferrujada. Estórias requentadas. Desenhos fraquinhos. Parecia que todo o glamour da casa do Mickey havia acabado. Talvez muito tenha sido em razão da Pixar, empresa associada à Disney em um primeiro momento e que, depois, em um movimento certíssimo, foi comprada pela casa do camundongo.

A Pixar vinha lançando um brilhante longa de animação atrás do outro, começando com (o fantástico) Toy Story em 1995 e não parando mais até o mais recente (e também fantástico) Wall-E. Parecia que a Disney sozinha, sem a Pixar, não conseguia produzir mais nada decente pelo menos desde Lilo & Stitch, de 2002.

No entanto, com a aquisição da Pixar pela Disney e pela colocação de John Lasseter da primeira como chefe de criação de animação das duas empresas, a coisa mudou. O primeiro resultado da era Lasseter na Disney propriamente dita é Bolt. O filme, lançado em cópias 2D e 3D, tinha tudo para dar errado, por parecer apenas mais uma estorinha bobinha de bichinhos fofinhos. Não sei se Lasseter deu palpites durante o desenvolvimento do filme ou se sua presença foi suficiente para inspirar os artistas que trabalhavam com o cachorrinho mas Bolt é bem mais do que uma estorinha bobinha. Lembra muito a Disney dos áureos tempos.

Diferente de Chicken Little e de Meet the Robinsons, essa animação computadorizada da Disney é ótima. Está longe ainda dos padrões Pixar mas não é isso que se espera da Disney, na verdade. Da Pixar queremos o nirvana da animação. Da Disney queremos desenhos família de qualidade. São propostas diferentes e Bolt cumpre a que lhe cabe muito bem.

O filme conta a estória do cachorrinho Bolt que é astro de uma série de TV em que vive o papel de um cachorro com super-poderes (igualzinho ao Krypto, do Superman, só que com mais personalidade). O "lance", porém, é que os produtores fazem Bolt acreditar que ele realmente tem super-poderes e ele, por acidente, ao parar em Nova Iorque, tem um choque de realidade quando percebe que as coisas não são bem assim. Aí passamos a ter um "road movie" sobre Bolt e seus dois recém-feitos amigos (uma gata vira-lata cínica e um hamster debilóide que vive numa bola de plástico) tentando voltar para Los Angeles. Além dos dois parceiros de Bolt, temos vários outros personagens interessantes, com destaque absoluto para os pombos de Nova Iorque, que são de morrer de rir (e a dublagem brasileira, que carregou no sotaque paulistano, está muito boa).

A estória do filme até lembra a de Cars, quando o hotshot Lightning McQueen tem que aprender que o mundo não gira ao redor dele durante uma viagem pelo interior americano. Talvez Lasseter tenha feito sua mágica aí e criado um fac símile de uma das melhores obras da Pixar. Mas, se fez isso, não foi de má fé. Bolt é um filme familiar, que lembra Cars e, portanto, tem boa estória e com uma animação que pode ser enquadrada nos mais altos padrões da computação gráfica (e olha que esses padrões são bem altos hoje).

O filme, porém, tem como melhor cartada em seu vasto baralho o fato de fazer uma forte crítica ao sistema frio e mercenário hollywoodiano, com exploração de sentimentos baratos, a busca de lucro à qualquer custo, exploração de atrizes mirins e animais, agentes e produtores que só vêem cifrões e um total desapego à criação, na acepção original da palavra. Nota 10 pela coragem dos roteiristas em inserirem Bolt nesse contexto (será que foi mais uma jogada de Lasseter?).

Ah, eu mencionei aí em cima que a Disney lançou Bolt em cópias 2D e 3D. Essa é a tendência atual dos estúdios e devo dizer que esse é o primeiro filme 3D que vejo que não foi feito para ser 3D. Não me entendam mal: vale muito à pena assistir Bolt em 3D e foi o que fiz. No entanto, Bolt não é escravo do uso barato do 3D. A estória vive sozinha seja 2D ou 3D. O uso do óculos dá apenas mais um "tchan" ao filme, mas não é essencial.

Bolt, certamente, está entre as melhores animações do ano, ainda que não se compare à Wall-E, seu irmão mais velho e concorrente direto dentro da mesma empresa.

Nota: 7 de 10  

domingo, 4 de janeiro de 2009

Mudando de idéia sobre a Parte III (SPOILERS!!!)

É rara a trilogia cinematográfica que mantenha o equílibrio durante os três filmes. É bem mais comum o diretor escorregar no terceiro filme, tal como Sam Raimi fez em Spider-Man 3. Duas são as trilogias que me vêm à cabeça quando penso em qualidade: Star Wars (a trilogia original, claro) e Indiana Jones (sei que é uma tetralogia mas vocês entenderam o que quis dizer). Os três filmes de cada uma das trilogias têm mais ou menos a mesma qualidade, sendo que essa qualidade é de muito boa para cima.

Há pouco tempo assisti The Godfather mais uma vez, não só porque estava na lista do Club du Film mas porque comprei o Blu-Ray remasterizado da trilogia. Sem precisar de maiores comentários, é uma das mais sensacionais obras cinematográficas já feitas. Aproveitei a oportunidade e assisti a The Godfather Part II e, novamente, está no nível do primeiro filme.

Mas, como o título revela, não quero falar sobre esse dois filmes. Quero tratar do terceiro. Coppola, depois de 20 anos, partiu para dirigir The Godfather Part III, que conta a queda final de Don Michael Corleone. Ele quer desesperadamente legitimar os negócios da família mas seus "inimigos ocultos" o impedem de trilhar esse caminho. O filme tem uma estrutura semelhante aos dois primeiros, mostrando o seio familiar dos Corleones, suas brigas e problemas depois de 20 anos dos acontecimentos do segundo filme. O tema "religião" que está fortemente presente nos outros filmes, é basicamente onipresente no terceiro, com Michael recebendo uma ordenação papal logo no início, comprando o controle da empresa Immobiliare do Vaticano e se confessando ao Cardeal Lamberto, que se tornaria o Papa João Paulo I. 

Havia assistido esse filme somente uma vez, no cinema, logo em seu lançamento em 1990. Lembro-me de tê-lo detestado. Mas eu era jovem e idiota. Talvez não seja menos idiota hoje mas certamente já não sou mais tão jovem. Adorei o filme nesse segundo momento. É um excelente final para uma excelente estória. Todas as pontas são amarradas e Michael colhe aquilo que plantou ao longo de seus vários anos do lado negro da força. O mesmo ocorreu com seu pai e a estória tinha que se repetir. O próprio Michael sabia disso. Al Pacino, assim como nos outros filmes, está brilhante, com uma raiva inacreditável em seu interior, que o corrói completamente. Talia Shire, irmã de Coppola (que, aliás, nessa trilogia, empregou basicamente toda a família) está soberba como a voz forte da família (nada parecido com a chata da Adrian, da série Rocky). Quem quase rouba a cena, porém, é Andy Garcia, como Vincent Mancini, filho bastardo de Sonny Corleone (James Caan no primeiro filme). Andy conseguiu reunir, em seu papel, as qualidades de cada um dos Corleones. É raivoso como o pai, meticuloso como Michael e, ao mesmo tempo, doce como Fredo. Outro papel sensacional é o de Eli "The Ugly" Wallach como Don Altobello.

O filme é, talvez, tão rico quanto os demais mas, certamente, não tem a qualidade de seus irmãos mais velhos e duas das principais para isso são: (1) Sofia Coppola e (2) a cena final. 


Francis Ford Coppola pode ser considerado um gênio na escolha de seu elenco. Queria Marlon Brando para viver Don Vito Corleone e brigou com a Paramount sobre isso. O mesmo aconteceu com Al Pacino. Matou a pau ao escolher Robert de Niro para viver Vito Corleone quando jovem, James Cann para o papel de Sonny, Robert Duvall para o papel de Tom Hagen e Talia Shire para o papel de Connie. Acertou de novo com Andy Garcia para viver Vincent. Acertou com todos os atores coadjuvantes. Acertou até mesmo ao escalar seu pai para compor parte da trilha sonora (junto como Nino Rota). No entanto, errou feio (muito feio!) ao escalar Sofia Coppola para viver Mary Corleone, filha de Michael. A garota foi perfeita no papel de Mary bebê na cena do batismo do primeiro filme, pois não precisava atuar. No entanto, no papel de Mary adulta, Sofia foi uma catástrofe. Além de feia (tem a boca mais torta que a de Stallone), atua tão bem quanto uma porta, com expressões no nível das de Dolph Lundgren no primeiro - e melhor - Punisher.

O segundo problema do filme é a cena final da tentativa de assassinato de Michael e os assassinatos dos traidores a mando de Vincent Corleone (ex-Mancini). Toda a cena ocorre durante a estréia da montagem da ópera Cavaleria Rusticana estrelada por Anthony Corleone, na Sicília. Ela se arrasta por mais de 25 minutos, tornando-a bem chata e anti-climática, com uma resolução não muito completa e meio apressada. De bom mesmo só a morte de Mary Corleone, que deveria ter morrido nos primeiros 5 minutos de filme e a sensacional expressão de dor de Al Pacino.

Se não fossem esses dois defeitos graves, talvez o filme estivesse no patamar Olímpico de seus pares. Com eles, The Godfather Part III é, "apenas", um filme excelente.

Mais uma trilogia que mantem o equilíbrio. 

Nota: 9 de 10