quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Crítica de filme: Hell Ride


O nome de mais destaque no poster desse filme é de Quentin Tarantin mas não, não se trata de outro filme dirigido por ele. Tarantino, agora, emprestou seu nome para "apresentar" filmes, com o selo "Tarantino Presents", tudo como um chamariz para otários como eu assistir a filmes que, de outra maneira, eu nem chegaria perto.

Foi assim que assisti ao obscuro Hell Ride, de 2008, dirigido por Larry Bishop que, antes disso, só havia dirigido um outro ainda mais obscuro filme. Mas Hell Ride tinha outros dois atrativos: estrelam Michael Madsen, David Carradine e Dennis Hopper. Qualquer coisa com um desses três tem que ser ao menos divertido.

E, de fato, Hell Ride ao menos divertido é. A estória é pífia e apenas uma desculpa para sexo e violência: duas gangues de motoqueiros rivais brigam por um tesouro perdido no deserto americano.

Muito paulada, muita coisa inversossímil mas muita coisa divertida. Poderia ter mais paulada. Às vezes Hell Ride peca por uma certa calma, algo que não combina com esse tipo de filme. 

Tarantino, porém, tem que parar de "apresentar" e terminar logo de dirigir Inglorious Bastards.

Ah, Feliz Ano Novo para todos, repleto de filmes interessantes!

Nota: 6 de 10

Club du Film - Ano IV - Semana 01: Scarface


Há três anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e nota de cada membro do grupo (com pseudônimos, claro).
Filme: Scarface (1983)
Data em que assistimos: 29.12.2008
Crítica: Scarface é um clássico oitentista e um excelente veículo para a consolidação da imagem de Al Pacino. O cara está sensacional como Tony Montana, um refugiado cubano que só pensa em subir na vida da forma mais ilícita possível. Ele quer sempre mais e mais e acaba se tornando o rei das drogas da Florida, tomando o império de seu primeiro empregador, Frank Lopez (vivido por Robert Loggia). Ao atingir o topo, com o dinheiro, bens e mulheres que queria, Tony começa a cair em uma espiral descendente velocíssima. Em seu afã de ter mais e mais, comete as maiores atrocidades com o melhor amigo, irmã, mulher e associados. Não quer saber o que está pela frente.
Al Pacino encarnou o personagem - e acho que até hoje não se livrou completamente dele - e oferece uma performance exagerada, inflada, exatamente como Tony Montana exige. A quantidade de vezes que ele fala "fuck" no filme é impressionante... Michelle Pfeiffer, belíssima, faz uma mulher drogada, sem futuro, que casa com Tony depois dele despachar seu marido Frank.
O final é apoteótico e brilhante, em que Tony, manejando uma metralhadora com lança foguetes, combate uma horda de incompetentes sul-americanos que estão lá para acabar com a raça dele, tudo isso no hall de sua mansão, onde se lê em neon bem brega o clássico "The World is Yours".
Notas:
Minha: 8 de 10 

Klaatu: 10 de 10 

Barada: 10 de 10

Presente de Natal

Ops, que péssima notícia para a Warner e para os fãs de Watchmen. Como muitos devem saber, a Fox havia ingressado com uma ação contra a Warner alegando ter os direitos sobre Watchmen e que a Warner não poderia lançá-lo.

No dia 24 de dezembro, conforme noticiado na imprensa, o Juiz do caso resolveu dar um presente de grego de Natal para a Warner e prolatou uma decisão inicial indicando que a Fox tem ao menos os direitos de distribuição do filme e que o julgamento, marcado para o dia 20 de janeiro, determinaria a extensão exata desses direitos, a eventual indenização e se a Warner poderia lançar o filme na data prevista de 06 de março.

É um gigantesco golpe para a Warner, que parece já ter gasto mais de 120 milhões de dólares com esse filme. No entanto, a Warner manteve-se forte e emitiu um pronunciamento segunda-feira passada informando que respeita mas discorda veementemente da decisão e que espera que, em um julgamento, tudo seja esclarecido. Pode ser apenas pose de durão para fechar um acordo em seguida mas é um risco enorme.

Eu sou fã de Watchmen (a graphic novel) e tenho esperanças de que o filme será bom. No entanto, não estou morrendo de chateação por um eventual atraso no lançamento pois (1) o filme será lançado mais cedo ou mais tarde, podem ter certeza e (2) essa briga entre estúdios gigantes é quase sem precedentes e é extremamente interessante, ao menos para os advogados (como eu). Estou sendo meio egoísta mas o que posso fazer? 

Não conheço os detalhes da ação mas parece que os direitos sobre a adaptação dos quadrinhos para o cinema foram quicando de estúdio em estúdio até parar de algum jeito na Fox, que liberou os direitos para um produtor, mas com a promessa de que o produtor, se conseguisse fechar a produção, ofereceria a distribuição novamente para a Fox. Pelo que dizem, alguém comeu mosca na Warner e não viram essa cláusula.

Particularmente, acho difícil algo tão claramente errado como isso acontecer em estúdios dessa magnitude, mas tudo é possível. Resta saber o que acontecerá nos próximos capítulos dessa novela.

Uma coisa é certa: pelo menos publicidade gratuita esse filme está tendo, o que só aumenta suas chances de sucesso na bilheteria.

É esperar para ver. 

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Crítica de filme: Space Chimps (Space Chimps - Micos no Espaço)



Assisti Valiant, o desenho animado sobre o pombo que se alista na força aérea britânica para lutar na 2ª Guerra Mundial contra os nazistas. O desenho, produzido pela Vanguard Animation, era muito bacana. Isso me deu esperanças quando soube de Space Chimps, da mesma produtora.


E posso dizer que a Vanguard até que consegue extrair uma limonada dos limões que tem. Partindo do fato que macacos foram usados como cobaias no programa espacial americano, a produtora extrapola e manda uma tripulação desses bichos para um planeta distante. Lá, eles têm que enfrentar um E.T. ditador, que usa uma sonda espacial americana que apareceu por aquelas bandas para dominar o planeta.


Não é lá uma limonada suíça, encorpada. Está mais para aquelas limonadas que o Bolinha vendia em frente de casa, nas revistinhas em quadrinhos, ou seja, bem aguadas. O filme diverte mas de forma bem rala e simples, sem pretender ser muito mais do que um desenho animado do tipo "Sessão da Tarde". Algumas piadas inteligentes para adultos aqui e ali e várias piadas rasteiras para as crianças (que, infelizmente, são sempre subestimadas nesses desenhos). A computação gráfica também não compromete mas também não inspira...


Vale o aluguel do DVD ao menos (se você tiver criança em casa, claro).


Nota: 5 de 10

What we've got here is a... failure to communicate. Some men you just can't reach.

A frase do título povoa minha cabeça há anos, desde que escutei pela primeira vez a música Civil War do Guns 'n Roses. Depois da música, eu a ouvi algumas outras vezes em outras situações mas nunca soube de onde era. Descobri há pouco tempo, quando assisti Cool Hand Luke, um clássico de 1967, estrelando Paul Newman, falecido este ano.

A estória é bem simples e o título em português, bem básico, é bastante descritivo do personagem título: Rebeldia Indomável. Paul Newman faz Luke um rebelde sem causa que acaba na prisão fazendo trabalhos forçados, por cortar parquímetros só de onda. Na prisão, tendo em vista seu carisma e atitude, ele logo se torna um ícone e todos os demais prisioneiros passam a "viver através dele". Seus colegas o admiram e querem ser Luke, com seu espírito inconformista e agitado.

Luke tenta fugir algumas vezes e, a cada fuga, a prisão fica mais dura para ele, com penas mais severas. Seu espírito quer se livrar do cárcere mas seus companheiros quase que o querem lá, sempre rebelde, para poderem beber da vivacidade de Luke. É muito interessante a relação dos prisioneiros com Luke e de Luke com os prisioneiros. Não há explicação para os atos de Luke a não ser que eles fazem parte de sua personalidade. Luke é assim e nada pode mudá-lo. Luke inspira as massas.

Apesar de não ser um filme complexo ou religioso, ele toma uns contornos muito interessantes, que culmina em um paralelo muito forte entre Luke e Jesus Cristo, inclusive graficamente na famosa cena em que Luke come 50 ovos cozidos (só vendo para entender). Fica claro desde o início que o destino de Luke é um só, sem dúvida semelhante ao de Cristo. Não sei bem o que o diretor e o roteirista quiseram fazer ao criar esse paralelo mas sei que o filme ficou interessante e, definitivamente, sedimentou a carreira estelar de Paul Newman.

Nota: 8 de 10

Sem imaginação


Nim's Island tem um trailer curioso. Mostra a garotinha Nim, que vive em uma ilha deserta com seu pai cientista. Um dia seu pai pega o barco  e não volta e Nim fica sozinha, tendo que pedir ajuda ao seu personagem favorito, uma espécie de Indiana Jones, que ela acha que existe de verdade. Só que esse personagem (Alex Rover, vivido por Gerard Butler, que também encarna o pai da garotinha), obviamente, não existe e o contato dela é com a autora dos livros (Alexandra Rover, vivida por Jodie Foster) em que o personagem aparece. A autora e o personagem têm o mesmo nome, apesar de serem completos opostos: a autora é uma ermitã que vive dentro de casa e sofre de agorafobia (medo de lugares abertos); o personagem é um homem atlético que vive aventuras pelo mundo afora. Com o grito de socorro da garota, a verdadeira Alex Rover acaba partindo em seu resgate. Isso tudo você no trailer. O filme, obviamente, seria sobre as aventuras de Alex com Nim na ilha, certo?

Errado.

O trailer é toda a estória. Como obviamente deduzimos no primeiro centésimo de segundo do filme que o pai da garota não morreu e voltará, o filme TODO é sobre Nim na ilha, com algumas aventurinhas idiotas e Alex Rover tentando chegar na ilha, o que só acontece quando faltam uns 20 segundos para acabar o filme...

Inacreditável a perda de tempo para ficar vendo uma garotinha de 11 anos dar uma de Esqueceram de Mim em um ambiente tropical, ajudada por uma foca e um pelicano.

Só funciona para crianças bem pequenas, o que foi minha "desculpa" para assistir essa pérola.

Nota: 3 de 10

E os remakes não páram

Um pouco mais abaixo eu falei de um remake de Yojimbo: Sukiyaki Western Django. Era um remake com alguma justificativa, com alguma originalidade, com alguma coisa que justificasse sua existência.

Definitivamente não é o caso do remake de The Hitcher (A Morte Pede Carona), um clássico de 1986, estrelando Rutger Hauer e C. Thomas Howell. 

Com o mesmo título, o filme de 2007 é um lixão, que não paga o celulóide em que foi filmado. É quase a mesma estória, cena a cena, sem nenhum originalidade qualquer. Humm, não, mentira. Tem algo MUUUUITO original: o brilhante do roteirista colocou o cara para ser cortado em dois na cena do caminhão e não a garota. Palmas para ele! O cara merece! Ele realmente deve ter se achado o máximo quando, na sala de reunião em que fez o pitch do roteiro, explicou essa mudança radical. Mais maneiro ainda devem ter sido as caras dos produtores (Michael Bay entre eles) ao notarem que essa idéia era uma mina de ouro de tão sensacional... Gênios!

Trocaram Hauer por Sean Bean, o Boromir de The Lord of the Rings, e colocaram mais explosões aqui e ali (além da sensacional mudança acima explicada) e voilà, mais um filme na lata.

Teria sido melhor se eles tivessem feito The Hitcher 2, com um Rutger Hauer geriátrico, matando velhinhos após pedir caronas naquelas scooters elétricas... 

Esse pessoal de Hollywood podia combinar de pensar um pouco antes de fazer mais remakes mas sei que isso é pedir demais já que em breve teremos Sexta Feira 13, Nightmare on Elm Street e várias outras pérolas completamente refeitas, re-empacotadas e re-vendidas como obras novas e sensacionais.

Ah, e tem mais: eu sei que o poster que coloquei acima é o do filme original. É que me recuso a prestigiar essa porcaria nova que fizeram...

Nota: 0,5 de 10

Crítica de filme: Madagascar: Escape 2 Africa (Madagascar 2 - A Grande Escapada)


Madagascar 2, que de Madagascar só tem os primeiros 5 ou 6 minutos, é muito divertido, quase tão divertido quanto o original. Voltam todos os personagens do primeiro filme: Alex (o leão), Marty (a zebra), Gloria (o hipopótamo) e Melman (a Girafa). No entanto, voltam, principalmente, Julien, o rei doidão dos macacos e os 4 impagáveis pingüins. Para dar o tom, o filme já abre com os personagens cantando "I like to move it, move it" (ou, "Eu me remexo muito", em português) em uníssono.

O filme tem um fiapo de estória: ao tentar voltar para NY, os nosso amigos selvagens vão parar na África e Alex reencontra de cara seus pais, Melman vira o curandeiro de seu povo, Marty descobre que não é único e especial como achava e Gloria procura o amor. Enquanto isso, os pingüins partem em missão para roubar carros de safári para remontar o avião quebrado e o Rei Julien acha que é o rei da selva.

A estória é só desculpa para boas piadas mas os roteiristas poderiam ter arrumado antagonistas mais interessantes. Há o clássico "leão malvado" que tem inveja do pai de Alex e, inusitadamente, colocam os turistas - liderados pela velhinha que espanca Alex na Grand Central Station no primeiro filme - como vilões. Não faz muito sentido mas, afinal, trata-se de um filme para crianças e sentido não é essencial.

O bacana é ver o Rei Julien falando as sandices dele e os pingüins tendo que lidar com a greve dos macacos, além do caso de Gloria com Moto Moto, um hilário hipopótamo "gostosão". Outro lance bacana é Marty quebrando a cara quando encontra centenas de outras zebras EXATAMENTE iguais a ele, da cabeça aos pés, inclusive a voz e com as mesmas habilidades. Melman, também, com sua hipocondria em hyperdrive, acha que vai morrer em 48 horas e se presta à um sacrifício.

No final de tudo, é o personagem Alex que se torna o mais insosso de todos, tendo que lidar com um draminha familiar na linha de The Lion King para pobres... Mas tudo fica perdoado quando lembramos que esse mesmo grupo de roteiristas criou os pingüins malandros, que são o ponto alto desse e do outro filme. 

Embalado por uma trilha sonora recheada de grandes sucessos da década de 80 e com computação gráfica realista fazendo contraste aos animais desenhados de forma cartunesca, o filme cumpre seu dever com louvor.

Nota: 7,5 de 10

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Crítica de TV: Desperate Housewives - 4ª Temporada


Desperate Housewives não é um seriado de mulherzinha como muitos pensam. Série de mulherzinha era Sex and the City.

Desperate é uma comédia das boas, com fortes críticas ao American Way of Life. A série conta as desventuras de 4 mulheres moradoras de um subúrbido típico norte-americano, com belas casas, tudo aparentemente calmo, mas escondendo os piores segredos por trás das portas. As 4 mulheres têm suas próprias características, ao ponto do cartunesco: Susan é a mãe estabanada e irresponsável de uma adolescente responsável; Lynette é a mãe perfeita de 4 filhos, que larga o emprego para cuidar deles; Bree é a dona-de-casa inigualavelmente perfeita, com excelentes dotes culinários, bom gosto, cuidado com a família e com a casa e Gabrielle é a dona-de-casa fogosa, que casou por dinheiro e não pode ver homem que já vai atrás.

Esses estereótipos são todos muito bem cuidados para não ficarem totalmente ridículos mas passam o recado direitinho. A primeira temporada gira em torno do suicídio de Mary Alice, a quinta dona de casa desesperada, que acaba não agüentando as pressões daquela vidinha. Tudo é narrado pela própria Mary Alice, do além, o que torna a série ainda mais interessante. Não parecia que a série sobreviveria à primeira temporada pois não havia estória para contar. Foi aí que os criadores, com o sucesso da primeira leva, arrumaram novos vizinhos misteriosos na segunda temporada, o que levou a estória para uma lado que forçou muito a barra narrativa. A terceira temporada, porém, trouxe de volta o mistério da primeira, sem precisar, necessariamente, introduzir novos personagens. O caminho parecia ter sido achado.

Agora, na quarta temporada, as mulheres de Wisteria Lane têm uma nova vizinha mas que não soa muito forçado como na segunda temporada pois os roteiristas conseguiram costurar muito bem um pano de fundo que mostra que essa nova vizinha é, na verdade, uma antiga moradora da rua, que acaba de voltar. O mistério é interessante e bem feito, as reviravoltas são inteligentes e a greve dos roteiristas de Hollywood, que fez com que várias séries fossem reduzidas, teve um efeito benéfico à essa quarta temporada. Só com 17 episódios, os roteiristas tiveram que encerrar o assunto com mais eficiência, tornando cada episódio relevante para a série. E, num twist bem bacana, uma nova situação é criada, que nos leva imediatamente para a quinta temporada, ainda sendo transmitida nos Estados Unidos. Vamos aguardar pois outra boa temporada pode vir por aí.

Nota da quarta temporada: 7,5 de 10 (para comparação, a primeira temporada leva nota 8, a segunda nota 5,5, a terceira nota 7)

A saga do Cabeça de Balde

Não, não vou escrever sobre o Buckethead, guitarrista maluco que toca com um balde da KFC na cabeça. Quero falar sobre o Cabeça de Balde original, o Nova.

Quando era criança, li muito as estórias desse herói e achava muito bacana. Saudosista, resolvi caçar as revistas originais em sebos virtuais e acabei achando a coleção completa, composta apenas por 25 números.

Publicada entre 1976 e 1979, Nova foi uma tentativa da Marvel de introduzir um novo herói na linha do Homem-Aranha. A capa do primeiro número da revista não escondia esse fato, como vocês podem ver acima: "In the marvelous tradition of Spider Man!".

Mas Nova não era uma imitação de Homem-Aranha. A única coisa parecida era o fato de Nova ter como alter ego o adolescente Richard Ryder, estudante problemático tanto em sua vida na escola quanto em sua vida particular. Tirando isso, Nova tem uma origem mais parecida com a do Lanterna Verde, da concorrente DC. Vejamos: um extra-terrestre, depois de combater um monstro que dizimou seu planeta, chega próximo do planeta Terra com sua nave. Sabendo que vai morrer em vista dos ferimentos, ele transfere seus poderes aleatoreamente ao primeiro terráqueo que aparece, logicamente um americano. Com isso, Richard Ryder se transforma em Nova, um homem com poderes de vôo como um foguete, super-força, uma roupa que o protege das intempéries e, principalmente, um capacete amarelo que parece um balde.

É uma estorinha de origem tão vagabunda quanto outras de heróis semelhantes. É um adolescente picado por uma aranha radioativa, quatro amigos que, em vôo espacial são bombardeados por raios cósmicos, reagentes químicos que se misturam e coisas do gênero. Nada original, nada novo.

Nova, porém, era uma das esperanças da Marvel na turbulenta década de 70, que quase a levou à falência. As estórias apresentadas nos 25 números da finada série era bobinhas bobinhas mas tudo dentro do espírito da época. Lê-las hoje traz risos pela infantilidade e pouca complexidade. No entanto, isso também pode ser visto por um lado positivo: os quadrinhos, hoje, depois de obras seminais como Watchmen e The Dark Knight Returns, são extremamente sérios, além de necessitarem de um P.h.D. em história dos personagens (vide o estado lamentável de séries como X-Men hoje em dia, em que os personagens têm 40 anos de estórias nas costas, que precisam ser compreendidos e lembrados). Nova era um novo começo mas que, pelas poucas vendas, durou bem pouco. Sua estória nem acabou na verdade e foram necessários alguns números em séries contemporâneas como Fantastic Four e Rom para que a Marvel contasse tudo o que aconteceu com Nova ao final de sua série regular. Hoje, aparentemente, o personagem voltou com tudo mas, certamente, sem a inocência e a simplicidade dessa tiragem inicial.

Nota: 6 de 10

Um fenômeno de 50 anos

Não sou nem muito fã da Madonna. Resolvi assistir ao show só "por onda". Até gostava das épocas áureas dela, no começo da carreira, com Like a Virgin, Papa don't Preach, Borderline e outras clásssicas. Quando ela começou a fazer músicas dance, com hip hop, música eletrônica e outros gêneros que não gosto, larguei Madonna de lado. Assisti ao show dela no Maracanã há 15 anos e detestei, escutei o mais novo disco dela Hard Candy e detestei. Em outras palavras, tinha tudo para detestar o show dela mas, como sou um cara teimoso, resolvi tentar novamente.

O primeiro obstáculo foi a famosa dificuldade de se comprar ingressos pela internet. De fato, tentei, tentei e tentei por horas, mas acabei conseguindo, não exatamente o ingresso que queria mas algo suficientemente próximo (queria arquibancada central e acabei com a lateral - nada de pista para mim para esse tipo de show). Depois foi a dificuldade dos (des)organizadores para me entregar os ingressos. Paguei uma nota preta, aturei diversos telefonemas e e-mails de confirmação e, depois de quase uma eternidade, eu os recebi em casa.

No dia do show, nada de táxi ou carro. Caí na besteira de ir de táxi ao show do The Police e fiquei horas na volta tentando arrumar algum taxista que não estivesse querendo se aproveitar do momento para cobrar os tubos. Minha esposa teve a idéia de contratar uma van e assim fizemos. Ótima idéia.

Na hora do show, localizamos a entrada correta e começamos a procurar o final da fila. Quase demos uma volta inteira no Maracanã para achá-la. A desorganização era total, com policiais somente preocupados em se esconderem da chuva e nenhuma indicação pela (des)organização do evento...

Dentro do Maracanã, tudo cheio mas conseguimos um lugar debaixo do teto, para fugir de uma eventual chuva, que acabou chegando (fomos no domingo, dia 14/12). Na nossa frente, um bando de tietes imbecis...

Meu estado de raiva por ter entrado nessa roubada era indescritível.

Como se isso não bastasse, toma daquele DJ da Madonna de mandar músicas bate-estaca por intermináveis 40 minutos. E, para coroar tudo, a geriátrica Madonna se atrasou um bocado.

Dito tudo isso, estava, como podem imaginar, absolutamente pronto para odiar o show. E quebrei a cara...

Pode ser exagerado mas o show da Madonna foi o melhor espetáculo musical que já assisti. Não estou falando aqui da qualidade das músicas. Esse é o menor dos problemas. Estou falando de espetáculo com E maiúsculo. E olha que já assisti a muitos shows na minha vida...

Para começar, as músicas: ela conseguiu montar um set list que mesclou, de forma extremamente competente, as porcarias atuais com os clássicos de outrora ao ponto das porcarias ficarem boas. Mandou Spanish Lesson, do disco novo, juntamente com La Isla Bonita, um de seus clássicos. Tocou Vogue com a melodia de 4 Minutes do disco atual. Mandou um Borderline em estilo roqueiro trash. Arrrasou com Liike a Prayer que perdeu o viés católico de antes para abraçar uma celebração das religiões do mundo. Madonna ainda pediu para um fulaninho lá da fila do gargarejo escolher uma música para ela cantar mas avisou que só cantaria se ela gostasse da música. O cara, claro, escolheu errado e ela passou a bola para outra pessoa, que pediu Express Yourself. Acertou. Madonna cantou sem acompanhamento musical, junto com o público.

Tenho certeza que muitos leram que Madonna cantou algumas músicas com playback. Errado. Madonna cantou TODAS as músicas com playback (com exceção de Express Yourself, claro). A música de abertura, Candy Shop, já foi cantada com playback, sem a menor justificativa. No entanto, a pergunta é: isso estragou o espetáculo? A resposta é certamente não. Madonna não é uma roqueira. Canta músicas pop que, necessariamente, têm que ser acompanhadas de números de dança. Não tem como ela não usar playback, mesmo que tivesse 20 aninhos. O bacana é que ela não escondeu que usou playback pois toda hora abaixava o microfone para fazer algum passo e a música contiuava como se ela estivesse em estúdio. Há que se repetir: o show da Madonna transforma a música em um detalhe (se isso é bom eu não sei mas o que posso dizer é que não estava lá para um show intimista).

O palco do espetáculo parecia bem básico e tradicional, com a parte central, dois telões laterais e mais uma passarela que entrava na pista vip e terminada em um círculo. No entanto, de básico e tradicional esse palco não tinha nada. A passarela tinha uma esteira quase imperceptível. O círculo ao seu fim tinha iluminação no chão e tinha toda uma parte hidráulica para sua subida e descida. Acima desse círculo, havia uma estrutura que baixava um telão redondo, todo de LEDs, que criava sensacionais imagens em combinação com o telão atrás do palco.

O figurino de Madonna e de seus dançarinos também era muito bem pensado, assim como a coreografia. Dava para ver que a equipe criativa da auto-intitulada Rainha do Pop gastou muito neurônios - e muito dinheiro - na super-produção. Até carro antigo no palco tinha...

E a própria Madonna, costumeiramente fria e pouco comunicativa em seus shows, falou bastante com a platéia, muitas das vezes para reclamar da chuva, que foi inclemente.

De toda forma, o conjunto da obra do show de Madonna me fez esquecer todo o processo até a entrada no Maracanã e me fez apreciar a cinquentona de uma forma que jamais imaginei possível: ela realmente sabe o que está fazendo e realmente oferece aos seus fanáticos fãs um show de extrema qualidade, que consegue disfarçar suas fraquezas como cantora.

Espetáculo é isso: sensacional mesmo para uma pessoa como eu que não é fã, não gosta da fase atual da moça e detestou o último disco.

Nota: 10 de 10

Mais um remake

Yojimbo, A Fistful of Dollars, Last Man Standing e Sukiyaki Western Django. O que esses filmes têm em comum?

Simples: o primeiro é o pai dos demais. Yojimbo, do mestre Akira Kurosawa, está entre um dos melhores filmes já feitos e ponto final. Pode-se dizer que esse filme, sozinho, deu origem ao Western Spaghetti de Sergio Leone e tantos outros. A Fistful of Dollars é basicamente Yojimbo passado no velho oeste americano (ou seria italiano???) com cowboys no lugar de samurais. Last Man Standing é a refilmagem mais recente, com a transposição do western para um filme de gangster. As duas refilmagens funcionaram muito bem dentro de suas propostas.

Sukiyaki Western Django é a última novidade. O filme não transpõe a estória para um cenário futurista ou atual como alguns vão deduzir mas sim volta para o Western, em Nevada, nos Estados Unidos mas com cenários que lembram o Japão feudal, com "cowboys" que são samurais, usando espadas e pistolas, vestidos de túnicas. É uma mistureba danada, com direito até às músicas clássicas de Ennio Morricone. 

E então? O filme funciona? Fico feliz em dizer que sim, funciona muito bem. É estranho, verdade, mas um estranho fascinante, que instiga a imaginação. O filme abre com um estória que parece ser separada, estrelada por Quentin Tarantino, com cenários de papel e banhados em cores fortíssimas. Ao fim dessa estória, cortamos para a chegada de um cowboy/samurai solitário chegando à uma cidade (em Nevada) que, como disse, lembra uma cidade medieval japonesa. Lá, duas gangues dividiram o território, a gangue branca e a gangue vermelha, todas as duas formadas somente por homens. A gangue branca, porém, tem uma solitária mulher com um filho. 

Segue uma disputa para saber quem vai ficar com o forasteiro, que se mostra um excelente pistoleiro. Depois disso, toma de flasbacks e flashbacks dentro de flashbacks, passados sombrios, tiroteios insanos com direito à balas curvadas e uma gatling gun, malabarismos mais ainda, revelações surpresa e morte atrás de morte até sobrar só um de pé.

E tudo isso com cores primárias fortes que, se não fosse a oportunidade de ver em alta definição, certamente "sangrariam" para fora de seus locais corretos. A direção é eficiente mas a cenografica e figurinos são o verdadeiro show aqui.

Muito divertido. Recomendo.

Nota: 7 de 10 

Crítica de TV: The Wire - 1ª e 2ª Temporadas


O título desse post é descritivo e eu poderia parar por aí. The Wire é, sem dúvida, a melhor série dramática feita para a televisão que já tive o prazer de ver em minha vida. Sopranos é brilhante, Battlestar Galactica (antes que me encham a paciência, essa série é dramática, não de ficção científica) é sensacional mas The Wire está dois patamares acima, hors concours

Essa série é da HBO e já havia lido críticas muito positivas há algum tempo sobre ela. Recentemente, um amigo me emprestou as 5 temporadas (a série acabou esse ano) e assisti a duas. Não preciso nem assistir as demais para ter a mais genuína certeza do que escrevi no título.

Cada temporada tem uns 12 episódios e conta um caso apenas, de seu começo ao seu fim. Na primeira temporada, Jimmy McNulty, um policial da divisão de homícidios de Baltimore, fica irado com a absolvição de um suspeito e parte para fazer mais do que seu trabalho normal e construir um caso que pode chegar até aos mais altos escalões. 

Mas o caso não importa. O que vale mesmo é a forma absolutamente realista que os criadores da série optaram por utilizar. Nada de explicações detalhadas do que está acontecendo. Nada de detetives brilhantes. Nada de tecnologica de ponta. Nada de ações policiais sensacionais. A série toda é construída em detalhes, mostrando a ineficiência da polícia, a corrupção até das melhores pessoas, a podridão da politicagem apenas para subir na carreira. McNulty é um rebelde e, como tal, é odiado pelos altos escalões da polícia, que só querem saber de resolver casos da maneira mais prática possível, seja chegando ao culpado sem se preocupar se ele tem um mandante, seja dando um jeito para que o crime investigado seja empurrado para outro distrito. 

Mas a série não se perde nesses meandros políticos apenas. Ela é baseada na obra de um jornalista investigativo e, por isso, mesmo, tem muitos detalhes policialescos interessantes, como a criação de unidades apartadas para a resolução de um caso apenas e a hierarquia dentro da polícia e suas várias divisões. No outro lado da moeda, a primeira temporada de The Wire mostra a hierarquia de um grupo de traficantes de drogas e seus esquemas altamente sofisticados para impedir a detecção pela polícia.

No entanto, para ver essa série, o espectador tem que ter perseverança. Seu estilo quase que de documentário pode afastar algumas pessoas menos pacientes. O mesmo se pode dizer dos episódios um pouco mais longos que o normal, uma hora no lugar de 42 ou 45 minutos. Mas, depois de uns 3 episódios, eu duvido que qualquer pessoa normal não esteja completamente fisgada pela série. 

Há um episódio em particular, que, para mim, foi o episódio que me fez parar e pensar: "Uau, essa série põe qualquer outra no chinelo". Nesse capítulo, McNulty e seu parceiro Bunk chegam à cena de um crime e, sem trocar uma palavra que não seja "fuck", a reconstróem no melhor estilo CSI mas sem a tecnologia e o palavreado irritante que explica ao espectador, tintin por tintin, o que está acontecendo, como se todos fôssemos completos iditotas. Depois desse episódio, não vou conseguir assistir a mais nenhum segundo de CSI sem rir dos palermas que ficam dizendo para a câmera o que está se passando, com a ajuda dos flashbacks, claro, como se falar não fosse o suficiente. 

A segunda temporada de The Wire conta outra estória diferente, envolvendo o sindicato dos estivadores do porto de Baltimore. Tudo começa quando uma policial acha 13 corpos de mulheres do leste europeu em um container. Na verdade, tudo começa da forma mais frívola possível: uma picuinha ridícula entre o chefão de polícia e o secretário-tesoureiro do sindicato em torno de um vitral de igreja. Aliás, essa jogada do vitral deve ser, na verdade, a norma para se iniciar casos e não a exceção. Isso mostra policiais que agem apenas guiados pelo seu ego, sem a menor vontade de efetivamente cumprir um dever. 

O caso, porém, é complicado e começa a tomar um vulto enorme, com várias ramificações. Não se preocupem pois a segunda temporada não é completamente diferente da primeira. Voltam os mesmos personagens, tanto do lado dos policiais quanto dos traficantes,  mas não da mesma forma. É brilhante. Só vendo para acreditar.

Na medida que eu assistir as outras temporadas, eu escrevo.

Nota da primeira temporada: 9,5 de 10 (perde meio ponto somente porque o último episódio tem sua resolução meio corrida)

Nota da segunda temporada: 10 de 10

Crítica de TV: My Name is Earl - 3ª Temporada


My Name is Earl é uma série divertidissíma. Conta a estória de Earl Hickey, um capiraço típico americano, de cidade pequena, que vive a vida de pequenos golpes, nutre um egoísmo absurdo que só é quebrado pelo amor que sente por seu irmão Randy, um gordo com apenas um ponto de QI acima do retardamento total. Com se isso não bastasse, Earl é casado com uma mulher "vagaba" que o trai com o dono de um bar. 

Mas a estória não é essa. Earl, no primeiro episódio da primeira temporada, ganha 100 mil dólares em uma raspadinha mas perde o bilhete quando é atropelado. Odiando-se pela desgraça que é sua vida, Earl, ao assistir a um programa de auto-ajuda, decide que tudo que ocorreu de ruim para ele foi por causa do Karma. Ele deduz que, como só faz coisas ruins para os outros, Karma o pune com coisas ruins. Earl cria, então, uma lista (bem grande, por sinal) contendo todos os atos ruins que ele fez com outras pessoas para que ele possa fazer coisas boas à elas. Essa é a premissa da estória e é com isso que a primeira temporada lida. São capítulos extremamente originais e engraçados de chorar, todos eles sobre Earl tentando fazer o bem para pessoas que maltratou.

A segunda temporada, quando achamos que só teríamos mais do mesmo, dá uma guinada e mostra Earl tentando resolver a vida da ex-mulher, que foi acusada de furtar um caminhão e de seqüestrar (sim, ainda com trema pois não estamos em 1º de janeiro) uma pessoa que estava dentro do caminhão. Muitos dos episódios giram em torno disso mas há outros não relacionados, uns se passando na América Latina e por aí vai. A série continuou forte.

Na terceira temporada, os criadores da série não se deixaram desanimar e criaram toda uma nova estrutura, com Earl preso em um prisão, não podendo, assim, lidar com a lista. Novamente, ótimas sacadas dos roteiristas e a série não perde o rebolado. 

É, talvez, a série mais politicamente incorreta da televisão e, por isso mesmo, talvez uma das melhores comédias de hoje. Vamos ver o que a quarta temporada tem para nós.

Nota (da terceira temporada): 8 de 10 (para comparação, a primeira é 9 de 10 e a segunda 8 de 10)