segunda-feira, 28 de julho de 2008

Crítica de filme: Journey to the Center of the Earth (Viagem ao Centro da Terra)

Pelo menos de uma coisa Hollywood não pode ser acusada: de ficar parada esperando a pirataria tomá-la de assalto. Não que eles estejam fazendo muita coisa para mudar seu método de fazer negócio mas, diferente da indústria fonográfica, que demorou mais de 10 anos para começar a pensar em fazer alguma coisa, Hollywood ao menos se movimentou mais rápido e está tentando mudar o panorama. Uma dessas tentativas - e das mais divertidas - é o renascimento da tecnologia 3D, aquela mesma dos anos 50.

A diferença, agora, é que não estamos lidando com aqueles óculos de lentes coloridas, mas sim algo bem mais confortável, os chamados óculos polarizados. A tecnologia de filmagem também avançou e ver um filme todo em 3D já não é mais um problema.

Viagem ao Centro da Terra é o primeiro filme live action em 3D depois do recente revival da tecnologia que somente tem razão de ser para se dar uma experiência aos espectadores que a pirataria não pode proporcionar. Ele é live action em termos pois são 3 atores atuando em frente a uma tela verde quase o tempo todo, para posterior inserção de cenários e efeitos digitais.

Brendan Fraser faz o professor de geologia (ou algo do gênero) que é odiado pelo sobrinho mas os dois têm que ficar juntos por alguns dias enquanto a mãe do garoto vai arrumar sua vida no Canadá. O descaso do garoto pelo tio desaparece em 2 segundos e ambos partem para uma aventura na Islândia, para encontrar o pai do garoto e acabam esbarrando em uma bela garota montanhista. Não vale nem tentar explicar o fio de estória que segura o filme. Esqueçam a trama pois é algo sem importância. O bacana, aqui, são os efeitos, que certamente divertem a garotada. Para os adultos, não sobra muita coisa senão ficar de cabelo em pé pelas "liberdades" que o roteirista tomou com a estória clássica de Jules Verne.

De toda forma, vale a experiência - cara, diga-se de passagem - de receber umas duas ou três cusparadas, de desviar de piranhas gigantes e outras coisinhas. Nada que quem já tenha ido à Disney não tenha visto (e em 4D, que é mais legal ainda).

Fico imaginando o que James Cameron pretende com Avatar, um filme que é para ser sério e totalmente filmado em 3D. Sinceramente, não consigo levar muito a sério filmes em 3D mas é James Cameron, o cara que nos trouxe Alien e Terminator, além de ser o diretor do filme que mais faturou na estória do cinema (se não levarmos em conta a atualização monetária, claro). Ele merece um crédito.

Nota: 3 de 10

terça-feira, 22 de julho de 2008

Crítica de filme: Be Kind Rewind (Rebobine, Por Favor - Uma Locadora Muito Louca)

Esse Michel Gondry é completamente aloprado.

Adorei Eternal Sunshine of the Spotless Mind (sou, talvez, o único entre todos os que conheço que efetivamente gostou desse filme) e não consegui não gostar de The Science of Sleep, vamos dizer assim.

Assisti hoje Be Kind Rewind e, novamente, adorei. A premissa é muito original e completamente fantástica: Jack Black, no papel de Jerry, tenta sabotar uma "power plant" e fica magnetizado. Ao entrar na locadora que está momentaneamente aos cuidados de seu amigo Mike (Mos Def), ele desmagnetiza todo o acervo de fitas VHS. Trata-se de uma pequena locadora de bairro, em prédio condenado, de propriedade de um senhor (Elroy Fletcher, vivido por Danny Glover) que não consegue se adaptar aos novos tempos (nem sabe o que é um DVD...).

Sem saída, Mike e Jerry partem para "suecar" os filmes. Suecar significa refilmar um filme da forma mais crua e amadora possível. Começam com Ghostbusters, passam para Rush Hour 2 e, quase que instantaneamente, encantam a cidade com seus curtas de 20 minutos totalmente suecados.

A originalidade do diretor é inacreditável. Seus personagens suecam Robocop, King Kong, 2001, Men in Black e uma variedade de outros filmes. O pessoal da cidade começa a participar - como atores - e o negócio prospera.

É um daqueles filmes que só a premissa já vale o preço do ingresso ou, no caso, da taxa de locação já que as chances dele passar no cinema no Brasil são, digamos, inexistentes, para usar um "eufemismo"...

A execução é brilhante e a estória vai bem ao ponto até de perdoarmos o final meio "sentimentalóide". Prestem atenção nos detalhes das filmagens suecadas de 2001, em que o Pod da nave é uma geladeira; de King Kong em que a frente de um caminhão de brinquedo serve de máscara de gorila; de Carrie em que um balde de geleca é o sangue que cai em "Sissy Spacek" e muitos outros. Outro detalhe que vale atenção é a descrição de um loja "moderna" de locação, segundo a visão do velho Elroy ao "espionar" o concorrente: funcionários que não sabem nada, quantidade no lugar de variedade, nada de filmes antigos e cults etc.

Enfim, é uma boa crítica sobre velhos valores versus novos valores, especialmente dedicada aos amantes do cinema.

Bem que a produtora - New Line - poderia lançar em DVD todos os filmes suecados da dupla e mais alguns outros que são apenas indicados no filme mas que não aparecem de verdade (até Lord of the Rings!). É verdade que tudo está no site do filme (www.bekindmovie.com) e no Youtube mas tenho preguiça de ver na telinha do computador...

Nota: 8 de 10

sábado, 19 de julho de 2008

O filme infilmável (ou não?)

Ontem fiz o download do trailer de Watchmen e o assisti umas 10 vezes. Não costumo fazer críticas de trailers apenas mas queria fazer apenas um comentário: duvido muito que Zack Snyder consiga fazer um filme à altura da mais importante HQ já escrita.

E olha que eu gosto muito desse diretor, especialmente depois de 300. No entanto, 300é uma estória linear, óbvia, sem nenhuma complexidade. Foi apenas um exercício estético que Snyder fez - muito bem - e transpôs para a tela aquilo que a galera queria: sangue e valentia.

Watchmen é um animal muito, mas muito diferente. O mais complexo filme de super-herói, o recente e sensacional The Dark Knight, não é nada comparado com Watchmen. A HQ, de 416 páginas, é o Ulysses dos quadrinhos. Quase infilmável. Talvez fosse melhor deixá-lo como quadrinhos apenas...

Mas, tudo é possível. O trailer é uma compilação de imagens que reproduzem com exatidão diversos trechos importantes da estória, como a morte do Comediante (isso só é spoiler para quem não faz a menor idéia do que estou falando) e a contrução do palácio de cristal em Marte pelo Dr. Manhattan. De fundo, temos uma música do Smashing Pumpkins, a mesma que foi apresentada ao mundo por meio do filme Batman and Robin, uma das obras cinematográficas mais execráveis da face da Terra. Isso Snyder fez de propósito pois faz sentido para a crítica de Watchmen aos super-heróis. Para quem gosta de Watchmen, o trailer é muito bom. No entanto, qualquer pessoa que não tenha lido a HQ não entenderá absolutamente nada do trailer e essa alienação pode forçar o diretor a alterar tanto a estória para agradar uma platéia alheia ao fato de que é um filme baseado em uma graphic novel, que tudo perderá o sentido. O filme arrisca se tornar um filmeco hollywoodiano.

Espero que não. Torço muito para que não.

De toda forma, estarei lá, na porta do cinema, no dia que estrear no Brasil, para o bem ou para o mal.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Crítica de filme: Dark Knight (Batman - O Cavaleiro das Trevas)

Tive a oportunidade de assistir The Dark Knight. A Warner fechou o Cinemark Downtown e projetou o filme nas 12 salas nessa segunda-feira. Foi uma grande festa, com direito até a alguns palhaços vestidos de... bem, palhaços...

Mas vamos ao que interessa.

Esse é o melhor filme de super-herói já feito. Não, apaga isso. Esse é o melhor filme de ação noir já feito. Não, apaga isso também. Vou imitar aqui alguns críticos que já viram o filme: esse filme é The Untouchables, trocando Eliott Ness por Batman/Bruce Wayne e Al Capone pelo Coringa. É um clássico instantâneo, muito superior a Batman Begins e milhares de anos luz à frente das versões de Tim Burton (considero as versões de Joel Schumacher inexistentes para todos os efeitos). É disparado o melhor filme de super-herói já feito mas também é disparado o melhor filme de ação/crime dos últimos anos.

Assistam e regozijem-se e isso vale para os fãs e para os não fãs de filmes de filmes de super-heróis em geral e de Batman em particular. Há um único porém: talvez seja um pouco longo demais mas a qualidade é tão boa que eu, sinceramente, ficaria mais uma hora e meia assistindo. Com poucos efeitos digitais e muitos efeitos no estilo antigo, Nolan trouxe um novo ar aos filmes do gênero. Trouxe também uma estória "pé no chão", sem bandidos que dependem de gases alucinógenos ou que são super-ninjas como em Batman Begins (não que esse filme também não tenha sido excelente mas é que ele empalidece diante de The Dark Knight).

Parece que Nolan se desprendeu de eventuais amarras impostas pelo estúdio em sua primeira criação do homem morcego e partiu para um filme "dark", pessimista, nihilista e, por isso mesmo, tão verdadeiro e atual.

Batman é um homem apenas que faz o bem de sua forma. Harvey Dent é o promotor idealista. Essa bondade toda, e todos os personagens que ajudam nesse time - Rachel e Jim Gordon - não são nada comparados à maldade pura representada pelo Coringa.

Lembram-se do Coringa de Jack Nicholson? Lembram de como todos acharam que ele roubou o filme do próprio Batman (e com razão, aliás)? Pois bem, Heath Ledger é a versão putrefata, mortal, verdadeiramente maligna do mesmo personagem. Nicholson foi muito bom mas Heath Ledger É o Coringa. Ledger conseguiu realmente uma façanha impressionante: criou um personagem asqueroso que simplesmente não pode ser derrotado por Batman nem por ninguém. Fico realmente com medo de imaginar o que Heath Ledger criaria se não tivesse falecido tão jovem (um Oscar póstumo é algo realmente a se pensar). Para fins de comparação, esse Coringa está no nível de crueldade do Coringa da HQ seminal The Dark Knight Returns.

Todos os momentos com o Coringa de Ledger são um prazer para os sentidos. A maquiagem borrada e realista, a horrenda cicatriz no rosto, os trejeitos corporais, a voz com altos e baixos falando frases sensacionais, a língua inquieta em sua boca como que toda hora passando saliva na cicatriz. Um ser realmente horripilante, muito mais horripilante que um homem fantasiado de morcego, posso garantir. O Coringa é a antítese de Batman e esse talvez seja o ponto do filme: todo o herói precisa de um vilão para se justificar. Sem o mal não há o bem (algo que não é tratado dessa maneira assim tão óbvia, claro). Nolan trata dessa questão de diversas formas, inclusive com o vilão Duas Caras cuja maquiagem é impressionante.

Vai ser difícil Nolan - ou qualquer outro diretor - fazer Batman 3 (ou qualquer outro filme do gênero melhor que esse mas eu pago um bom dinheiro para ver ele tentar.

Um detalhe final para quem tem filhos: apesar do filme não ter sangue, a temática é muito adulta e as discussões muito profundas para os pequenos apreciarem o filme. Na verdade, o Coringa os fará ter pesadelos por muitas noites. Realmente não é recomendado para eles.

Nota: 10 de 10