sábado, 25 de setembro de 2010

Crítica de filme: Essential Killing (Festival do Rio 2010 - parte 1)


Começou o Festival do Rio 2010. Como fiz ano passado e no ano anterior, tentarei assistir ao menos 10 filmes. Não é um façanha muito fácil pois, além de trabalhar normalmente, viajarei no dia 04 de outubro, desperdiçando 4 dias de festival.

De toda forma, o primeiro filme que assisti foi Essential Killing, uma produção multinacional polonesa, norueguesa, irlandesa e húngara, dirigida pelo diretor polonês Jerzy Skolimowski e estrelando Vincent Gallo no papel silencioso de Mohammed. Gallo, aliás, foi premiado como melhor ator no Festival de Veneza por esse filme e o próprio filme ganhou o prêmio especial do júri.

Essential Killing é um filme de sobrevivência em condições absurdamente adversas. Um membro do talibã no Afeganistão - Mohammed - é capturado e transportado para lugar incerto e não sabido. Durante um trecho de seu transporte, o caminhão onde estava capota e Mohammed consegue escapar. Segue-se, assim, um fuga incessante no meio um lugar gélido, coberto de neve e árvores, que poderia ser a Sibéria, o Canadá ou qualquer país escandinavo, dentre outras possibilidades.

Mohammed quer sobreviver. Que se danem os ensinamentos dos malucos do Talibã. Ele mata para sobreviver - daí o título "Essential Killing" e não por uma causa maior sem sentido. Skolimowski, tenho para mim, não quis fazer julgamentos políticos. Apenas se usou de uma situação bastante possível para jogar um homem solitário contra tudo e contra todos, algo que foi muito bem feito por Ted Kotcheff em Rambo: Programado para Matar (First Blood, de 1982).

A diferença é que Essential Killing é mais visceral e menos ideológico. É, também, mais desesperante. Skolimowski escolheu a câmera na mão como principal instrumento de trabalho e a tremedeira desse instrumento desnorteia o espectador tentando nos transmitr a sensação que Mohammed provavelmente está sentindo. Ele é um homem que não sabe nem em que continente está mas que quer sobreviver, mesmo sabendo que todos ao seu redor são inimigos que o querem morto.

Vincent Gallo atua como em cinema mudo, mas de maneira muito mais sutil. Não fala uma palavra mas transmite todo seu desespero com seu rosto. O prêmio foi merecido, especialmente sabendo que o filme foi feito na Noruega a amenas temperaturas de 35 graus negativos. Pensando melhor, talvez não tenha sido nem atuação mas sim o que Gallo estava sentido sob a batuta do diretor polonês.

O único momento - brevíssimo - de alento que Mohammed tem é quando é acolhido pela muda Margaret (a bela Emmanuelle Seigneur). São as poucas horas em que Mohammed recebe um olhar humano mas, mesmo assim, de maneira realista, Skolimowski não nos deixa confortável e acaba essa "relação" de forma emocionante.

Apesar de curto, apenas 83 minutos, Skolimowski consegue "esticar" o tempo, marcando-o pelas progressivas trocas de roupas de Mohammed, tentando adaptar-se ao local e circunstâncias. Em determinados momentos, porém, as coincidências começam a se amontoar e os atos de Mohammed são facilmente telegrafados. Não que a surpresa seja essencial (sem trocadilhos) mas é que, em apenas 83 minutos, o diretor poderia ter escolhido alguns caminhos diferentes para o anti-herói, de forma tornar sua jornada um pouco menos óbvia.

Mais sobre o filme: IMDB.

Nota: 8 de 10

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