domingo, 26 de setembro de 2010

Crítica de filme: Micmacs à Tire-Larigot (Festival do Rio 2010 - Parte 2)

Jean-Pierre Jeunet é um criador de fábulas. Fez Delicatessen e o adorado Amélie Poulain e, estranhamente, dirigiu o péssimo Alien: Ressurection (vai entender...). Com Micmacs, o diretor volta mais diretamente à fórmula de Amélie Poulain, quase criando uma cópia carbono de seu filme mais conhecido, pelo menos no que toca o estilo visual.

Mas isso não é um demérito. Amélie é um filme adorável e, ainda que eu tenha gostado menos do que a média dos críticos  em geral, ainda sim consigo ver suas qualidades e, principalmente, a graciosidade do mundo muito particular criado pelo diretor. Enquanto Amélie era, literalmente, uma fábula, Micmacs é uma comédia que conversa da mesma maneira com o espectador e que trata o mundo "verdadeiro" como uma sátira.

Bazil (Dany Boon) é um homem que tem sua vida arruinada pela indústria bélica. Seu pai foi morto por uma mina há 30 anos e sua vida desmoronou completamente quando foi atingido na cabeça por uma bala perdida. Sendo relegado à margem da sociedade, Bazil é adotado por um grupo de talentosas pessoas que vivem literalmente em uma caverna embaixo de um ferro-velho. Cada um tem sua característica especial: Remington (Omar Sy) é um escritor que só fala em ditados; Petit Pierre (Michel Crémadès) é um inventor super forte; Fracasse (Dominique Pinon) é um dublê que sonha entrar para o livro Guiness de recordes; Calculette (Marie-Julie Baup) é um jovem que, como o nome diz, consegue fazer qualquer tipo de cálculo e estimativa de cabeça; La Môme Caoutchouc (Julie Ferrier) é uma contorcionista e Tambouille (Yolande Moreau) é uma exímia cozinheira e "mãe" do bando.

Em determinado dia, em suas andanças para colher ferro-velho, Bazil descobre os fabricantes das armas que mataram seu pai e o feriram mortalmente. Ele parte, então, para montar um intricadíssimo plano para jogar uma empresa contra a outra, com o objetivo de acabar com elas.

Jeunet faz tudo em tom de farsa, reunindo o adorável bando de mendigos (pela total falta de uma palavra melhor) contra a indústria bélica. Os bons, nesse filme, são sempre muito bons e os maus, sempre muito maus. Para se ter uma idéia, François Marconi (Nicolas Marié), o dono de uma das empresas, quase não fala com o filho mas, quando fala, é para perguntar coisa do tipo "qual era a potência da bomba jogada em Hiroshima" e outras pérolas meigas como essa. Fenouillet (André Dussollier), dono da outra empresa, por sua vez, coleciona "lembrancinhas" de personagens históricos famosos, como um dente de Marilyn Monroe e outras belezas bem piores. Já o pessoal do grupo de Bazil é todo ele formado de gente de alma caridosa, que amam uns aos outros sem reservas.

Para uma fábula, as caricaturas acima funcionam muito bem. Acontece que Jeunet não sabe quando parar. O plano criado por Bazil é absurdamente intrincado, culminando com uma muito bem sacada "viagem ao Oriente Médio". Mas, para isso, Jeunet é obrigado a fazer repetidos usos de planos mirabolantes que, depois de um tempo, cansam um pouco. Além disso, a contorcionista, interesse romântico de Basil, é, basicamente, a peça fundamental em todos eles, meio que deixando os demais em segundo plano e levantando a dúvida se tantos personagens eram mesmo necessários além do fator "oooh, aahh, que legal" que eles certamente criam quando são apresentados.

Mas é um filme de ótima natureza, com uma válida mensagem anti-guerra repetida ad nauseam e sem meias palavras. Talvez exatamente pelo filme ser tão simples e objetivo, Jeunet não precisasse dar tantas voltas para chegar ao clímax.

Mais sobre o filme: IMDB e Rotten Tomatoes.

Nota: 7 de 10

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