Acho muito interessante documentários sobre o desenvolvimento biológico e psicológico dos seres humanos. Vi todos os sete documentários da série “Up”, dirigidos por Michael Updated (o mais recente, 49 Up, foi lançado em 2005). Para quem não sabe, essa série documenta a vida de algumas pessoas de 7 em 7 anos, desde os 7 anos de idade de cada uma delas. Alguns episódios são longos demais mas, como experiência antropológica, os filmes são sensacionais.
Daí meu interesse em Bebês, um documentário francês sobre o primeiro ano na vida de quatro bebês de lugares bem diferentes: Estados Unidos, Japão, Mongólia e Namíbia. O filme começa com os partos e acompanha, sem narração ou qualquer diálogos, os quatro bebezinhos em todas as suas peripécias.
Nos Estados Unidos, vemos Hattie, uma bebezinha nascendo com toda a tecnologia disponível. São fios e tubos para todos os lados. No outro espectro, temos o nascimento de Ponijao, uma bebê de tribo indígena na Namíbia, que basicamente já tem que se virar sozinho logo de início.
No Japão, a bebê Mari também nasce cercada de tecnologia e, na Mongólia, vemos uma espécie de meio-termo, ou seja, um nascimento aparentemente cercado dos cuidados que estamos acostumados a ver em hospitais e uma vida rural bem largada, completamente diferentemente daquilo que estamos acostumados.
Como não poderia deixar de ser, pelo menos para nós, frequentadores de cinemas no Brasil, ou seja, gente pelo menos da classe média, a grande atração é ver os bebês da Namíbia e da Mongólia, diria até especialmente o da Namíbia. Lá, a pequena criatura coloca pedra, ossos e terra na boca. Convive com moscas sem nem notar que elas estão lá. Lambe a língua (!!!) de cachorros e por aí vai. É um festival de horrores para nós, seres ditos “civilizados”. E é uma lição de vida.
Digo que é uma lição de vida, pois todos esses “horrores” que mencionei fomos nós que convencionamos assim. Todo bebê tem que nascer em hospitais e viver em bolhas assépticas para crescer com saúde, não é mesmo? Bom, o documentário Bebês mostra que não é bem assim que a banda toca. Comer um pouco de terra e conviver com moscas não são, necessariamente, coisas terríveis. O bebezinho da Mongólia, Bayar, é amarrado ao pé da cama (sim, amarrado!) e isso pode chocar mas faz todo sentido: ele moram em uma cabana em um descampado, com diversos animais grandes andando por perto. Se o bebê sai da cabana, pode ser pisoteado por uma vaca. É assim a vida deles e devemos respeitá-la.
Mas o documentário, dirigido por Thomas Balmes, não foi feito para chocar. Ele nos apresenta essas questões de forma muito natural, com belíssima fotografia. Conjuga momentos de extrema “fofura” com momentos de ternura, de aprendizado e de revelação. No entanto, todos os momentos têm uma coisa em comum: o amor da família, especialmente das mães, em relação aos pequenos.
E Balmes ainda consegue um feito que só bons diretores conseguem: ele percebeu quando seu filme começou a ficar chato e repetitivo e tratou de encerrá-lo a tempo.
Seria bom ver uma "continuação" desse filme, com as crianças já mais velhas.
Nota: 8 de 10
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Vi esse filme ontem, perdi no Festival do Rio. Achei muito bom, concordo com o que diz sobre nossas percepções estarem centradas nos bebês da Mongólia e Namíbia. Da mesma forma, concordo com e não crítica à rotina de ambos. Muito bacana. :)
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