quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Comentário para reflexão: as refilmagens

Acabei de ler que está nos planos de Hollywood o lançamento dos remakes de The Neverending Story (A História Sem Fim) e Total Recall (O Vingador do Futuro). Há pouquíssimo tempo fomos testemunhas dos lançamentos dos remakes de Friday the 13th (Sexta-Feira 13), Halloween, The Day the Earth Stood Still (O Dia em que a Terra Parou), The Poseidon Adventure (O Destino do Poseidon), King Kong, War of the Worlds (Guerra dos Mundos), Willy Wonka and the Chocolate Factory (A Fantástica Fábrica de Chocolate), Pink Panther (A Panter Cor-de-Rosa), The Hitcher (A Morte Pede Carona) e The Hills Have Eyes (Viagem Maldita). Se formos mais para trás um pouco, lembraremos do remake de Psycho (Psicose), de The Planet of the Apes (O Planeta dos Macacos), de Wings of Desire (Asas do Desejo), de Sabrina, de The Ladykillers (Matadores de Velhinhas), The Fly (A Mosca) e muitos outros.

Se pensarmos em "ocidentalização" de filmes orientais, logo nos vêm à cabeça as refilmagens de The Seven Samurai (Os Sete Samurais, refilmado como The Magnificent Seven ou Sete Homens e um Destino), Sanjuro (refilmado como A Fistful of Dollars ou Por Um Punhado de Dólares e Last Man Standing ou O Último Matador), Ringu (O Chamado) e Infernal Affairs (Conflitos Internos, refilmado como o oscarizado The Departed ou Os Infiltrados). Até mesmo o filme espanhol de terror[REC], de 2007, foi refilmado como Quarantine (Quarentena), em 2008.

E olha que eu nem estou contando com as refilmagens de Insomnia, Abra sus Ojos (que se tornou Vanilla Sky, com o Tom Cruise), Manhunter (que se tornou Red Dragon), Nikita, La Cage aux Folles, Solaris, The Italian Job, The Day of the Jackal, Cape Fear, Get Carter, The Last Man on Earth (refilmado como The Omega Man e, mais recentemente, como I am Legend) e muitos outros. Também não estou contando com conversões de séries de TV em filmes de cinema como S.W.A.T., Shaft, Bewitched (A Feiticeira), Lost in Space e o vindouro The Land of the Lost, entre outros. E, claro, não vou nem falar em continuações.

O ponto é: precisamos desse monte de refilmagens? Não estaríamos melhor criando obras novas ou adaptando obras que nunca antes foram para a telona do cinema? Há uma crise de originalidade?

Bom, a resposta é puramente econômica. Todos sabem que as refilmagens acontecem aos borbotões atualmente por que elas, em tese, tem mais chances de ter boas bilheterias pois ela se beneficiaria, em princípio, do sucesso construído pela versão original. Esse é o mesmo princípio das continuações e prequels. Não há, realmente, como escapar dessa lógica.

Ocorre que, hoje, essa lógica virou desculpa para preguiça. Sob a desculpa de "não alterar o amado original" os produtores partem para refilmagens que são quase que reproduções fiéis dos filmes que os antecederam. Vejam o exemplo da refilmagem do clássico A Morte Pede Carona (The Hitcher), que comentei em um post mais antigo aqui. O que esse remake trouxe ao mundo? O mesmo se aplica à refilmagem imbecil do clássico de Hitchcock Psycho em que o ótimo diretor Gus Van Sant, em uma decisão "artística" absolutamente cretina, refilmou quadro-a-quadro a obra original, só que, no lugar da fotografia em preto-e-branco, se deu ao luxo de usar cores (?!?!?). Em que esse tipo de remake agrega? Tenho até minhas dúvidas se filmes como esses fazem dinheiro de verdade. The Hitcher (o novo) fez, no total, pouco mais de 25 milhões de dólares. Psycho, por sua vez, que custou 60, faturou 37 milhões. Ok, escolhi dois exemplos do pior escalão mas vejam como o interesse geral é pequeno: ainda que o recente Sexta-Feira 13, que custou 19, tenha feito impressionantes quarenta e tantos milhões no primeiro fim-de-semana nos EUA, a queda de faturamento para o segundo fim-de-semana foi de ainda mais impressionantes 81%! É, o filme até já fez dinheiro e com a sobrevida em DVD vai fazer mais ainda, mas haja paciência...

Acontece que esse bombardeio de remakes completamente desnecessários (alguém realmente, do fundo do coração, quer assistir uma refilmagem de Total Recall???) acabam desacreditando o sistema. Filmes novos, mais originais que uma refilmagem, por pior que sejam, injetam vida à Hollywood, pois mexem com o sistema e alguma idéia boa, nova, interessante, acaba saindo (ok, ok, nada saiu de Battlefield Earth mas taí uma exceção para confirmar a regra). Refilmagens, via de regra, não agregam em nada.

Evidentemente, como dito, toda regra comporta exceção e alguns exemplos da lista acima se destacam. The Fly, de 1986, é um excelente filme de horror, que se poderia taxar de anos luz superior ao original camp de décadas anteriores. Exemplo bem mais recente, não se pode afastar a qualidade de The Departed, de Scorcese, que refilmou o também bem recente Infernal Affairs, de 2002. Mas são poucos os que realmente merecem nota. Também são exceções os filmes refilmados pelo próprio diretor do original, como fizeram Hitchcock com The Man Who Knew Too Much e Yasujiro Ozu, com Ukigusa (Floating Weeds ou Ervas Flutuantes). Nesses casos, são os criadores tentando superar a própria criação, algo muito justo e perfeitamente compreensível mesmo que eles, porventura, venham a não conseguir.

Mas refilmar por refilmar, na esperança de ganhar uns trocados a mais é dose. Tanto livro, histórias em quadrinhos e fatos históricos por aí para serem adaptados (fora o que se pode imaginar e criar só se concentrando um pouco) e a indústria prefere repaginar obras, chegando ao ponto de conseguirem ridicularizar o próprio original (o novo Pantera Cor-de-Rosa é de chorar de ruim e olha que o Steve Martin é, em minha opinião, um excelente comediante, vide Os Safados para ficar só nesse exemplo).

O problema é que nós também somos culpados. Nós damos trela a essa porcariada toda que sai pelos esgotos de Hollywood (e olha que sou um grande defensor do sistema hollywoodiano em geral) e vamos ao cinema, alugamos ou compramos o DVD e tudo mais. Nós alimentamos um sistema que é natimorto quando feito em excesso. Obviamente que não defendo nenhuma forma de boicote - longe disso, pois eu mesmo sou o primeiro a querer experimentar esses remakes, tudo bem que, na maioria das vezes, só em DVD - mas fico triste ao ver que The Texas Chainsaw Massacre de 2003, refilmagem do clássico de 1974, fez mais de 100 milhões de dólares só nas bilheterias e custou menos de um décimo disso.

É, os números dos poucos casos de sucesso talvez justifiquem os muitos fracassos. Ok, vamos concluir, então, que não tem jeito mesmo e que os remakes continuarão, gerando, certamente, remakes de remakes que, sem dúvida alguma, multiplicar-se-ão em remakes de remakes das refilmagens e assim por diante. Seria bacana se não fosse, mas é. Não adianta dar murro em prego. Eu, se produtor fosse, certamente quereria ganhar uns trocados fáceis a mais. É a vida, não tem como mudar.

No entanto, regras poderiam ser criadas. Seguem 10 sugestões de um Metido a Crítico:

1. Remakes só de obras de mais de 20 anos do lançamento do original;

2. Se tiver menos de 20 anos, só se for EFETIVAMENTE, uma releitura completa da obra original;

3. Se tiver menos de 20 anos e não for uma releitura do original, faça um filme para ser lançado direto em vídeo doméstico como, por exemplo, S. Darko, continuação de Donnie Darko. Custa menos, tem menos chance de ser um fracasso e não enche os fins-de-semana de lançamentos insípidos;

4. Re-escrevam de verdade o filme original (não achem que trocar o sexo de um dos personagens cai na categoria de "re-escrito");

5. Tentem trocar o gênero do filme original, saindo mais para o lado da homenagem do que da refilmagem;

6. Acrescentem elementos que agreguem alguma coisa à trama. Por exemplo, façam como Peter Jackson fez ao focar no "romance" entre o macaco e Ann Darrow no King Kong de 2005, não como John Guillermin fez ao trocar o Empire State Building pelas Torres Gêmeas no King Kong de 1976;

7. O filme original deve ter uma estória muito boa, não apenas razoável;

8. O filme original não pode ser tão icônico e famoso ao ponto que já tenha sido efetivamente visto por enorme parcela da população. Por exemplo, apesar de Star Wars - Episode IV ter mais de 20 anos, ter uma estória muito boa e tudo mais, todas as pessoas do mundo que vão ao cinema normalmente (ou será que estou exagerando?) já o assistiram de uma forma de outra, nem que seja em pedaços aqui e ali. Uma refilmagem não serviria de nada;

9. Tenham certeza que o filme original teria seus conceitos expandidos e/ou sacramentados e/ou rejuvenescidos por uma refilmagem;
10. Fazer um refilmagem que seja no mínimo tão boa quanto a original não é aceitável. O objetivo tem que ser, obrigatoriamente, criar algo melhor que original. Assim, por favor, deixem clássicos que considerem insuperáveis de lado e procurem refilmar algo que, verdadeiramente, em sua opinião, possa ser superado.

Dito tudo isso, que venham as refilmagens de Robocop, The Birds, Atack of the Killer Tomatoes, Karate Kid, Arthur (sim, Arthur, o Milionário Sedutor!!!), They Live, Buck Rogers, V, Hellraiser, Poltergeist, Back to School, Footloose, Fame, Red Dawn, Short Circuit, Rashomon, Captain Blood e muitos outros (todos os mencionados estão em alguma fase de produção ou, ao menos, os rumores assim afirmam)...

3 comentários:

  1. Excelente! Mas você comeu a 5a regra. Qual seria? Chapa as nove e coloca a seguinte na 10a posição: superar o original.

    De resto, vida longa à Pixar. Preguiçoso por lá acho que não passa nem na entrada (nem no restaurante deles devem entrar).

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  2. "6. Acrescentem elementos que agreguem alguma coisa à trama. Por exemplo, façam como Peter Jackson fez ao focar no "romance" entre o macaco e Ann Darrow no King Kong de 2005, não como John Guillermin fez ao trocar o Empire State Building pelas Torres Gêmeas no King Kong de 1976;"

    Ainda que eu prime pelo primeiro por sua sutileza de abordagem, nem tenha assistido a refilmagem de 2005, Guillermin reflete em seu filme uma temática mais ecológica. Autêntica e necessária, por sinal. Fazer um filme de monstro é fácil, difícil é compreender seu olhar.


    Felipe

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  3. "7. O filme original deve ter uma estória muito boa, não apenas razoável;"

    Um diretor transformar um filme medíocre numa adaptação ou refilmagem muito boa ou excelente não é impossível.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."