Revolutionary Road ("Foi Apenas Um Sonho", mais um título infeliz em português), o mais recente filme do aclamado diretor Sam Mendes (American Beauty, Road to Perdition) concorre a 3 Oscars: Ator Coadjuvante (Michael Shannon), Figurino e Direção de Arte.
Trata-se, na verdade, de grande injustiça. Esse filme deveria concorrer também, pelo menos, a melhor atriz (Kate Winslet) e melhor ator (Leonardo DiCaprio), isso sem contar com melhor filme e melhor direção. Não sei o que a Academia tem na cabeça ao prestigiar o bem "mais ou menos" The Reader (comentado abaixo) e deixar Revolutionary Road de fora.
Ora bolas, se era para escolher um papel de Kate Winslet para concorrer a melhor atriz, então que tivesse sido o papel de April Wheeler, não o de Hanna Schmitz de The Reader, em que ela teve sua atuação reduzida por uma horrenda maquiagem amadora.
E DiCaprio? A Academia tem problemas com o garoto? Deram o Oscar de melhor atriz coadjuvante para Anna Paquin (!!!) pelo seu primeiro papel no cinema (em The Piano) e ficam empurrando DiCaprio com a barriga... Não faz sentido. O cara já provou que é bom em várias ocasiões. Lembram-se de The Departed? De Blood Diamond? Vão esperar para dar um prêmio pelo "conjunto da obra" daqui a 30 anos?
Bom, deixa para lá, só estou reclamando e isso não é construtivo. Vamos ao filme.
Revolutionary Road se passa nos anos 50 e retrata a vida de um jovem casal - Frank e April Wheeler - vivido por DiCaprio e Winslet, dois atores confirmando a química perfeita entre eles, já demonstrada em Titanic. Apesar da estória começar no começo, mostrando como os dois se conheceram, Sam Mendes não perde muito tempo e pula logo para o meio da tempestade, quando a vida pacata do casal, já com dois filhos, está degringolando. Frank tem um trabalho que detesta e April é uma dona-de-casa frustrada. Os dois sentem falta de viver pois suas vidas suburbanas em Connecticut, com as casinhas branquinhas bonitinhas, são tudo menos vidas, são meras existências. Vendo-se presa em seu lar e notando as paredes se fechando ainda mais ao seu redor, April sugere que a família faça uma loucura e se mude para Paris, lugar que Frank visitou - e amou - quando serviu na 2ª Grande Guerra.
Um filme como esse, claro, não poderia acabar bem mas isso já é esperado logo no começo (e tendo Sam Mendes como diretor, isso é quase uma regra). O importante é que talvez esse filme descortine muitas vidas de pessoas aparentemente felizes. Será que vale viver da forma como a sociedade dita, abrindo mão de seus verdadeiros desejos?
A direção de Sam Mendes é brilhante, contrapondo os dois atores o tempo todo, com um itneligente jogo de câmeras. Da mesma forma, ele escolheu retratar a casa dos Wheeler da forma mais asséptica possível. O casal tem dois filhos pequenos mas não há nada na casa que indique isso. Os filhos mesmo só aparecem em momentos chave, para passar uma mensagem específica. O foco é o casal e seus conflitos.
Entra então na vida dos dois um louco de sanatório, filho da corretora (Kathy Bates em um papel que lembra muito o de Misery), vivido por Michael Shannon. As duas ou três cenas com ele são suficientes para fazer esse ator brilhar. Muito merecida a indicação por ator coadjuvante. O louco é o único que enxerga com clareza solar o que se passa com o casal. É um verdadeiro terapeuta sem freios, falando o que dá na telha. Exatamente essa capacidade de enxergar - e falar - o óbvio é que o caracteriza como louco pois, afinal de contas, não é possível que as convenções da sociedade estejam erradas, não é mesmo?
O filme é duro, não perdoa ninguém e não tem mensagenzinha bonitinha não. É, basicamente, a vida como ela é e funciona como um alarme para todos nós evitarmos o marasmo, brigarmos contra as convenções e fazermos, pelo menos algumas vezes, o que realmente queremos.
Nota: 9 de 10
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