Há três anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo (com pseudônimos, claro).
Filme: Amarcord
Diretor: Federico Fellini
Ano de lançamento: 1973
Data em que assistimos: 17.02.2009
Crítica: Amarcord é um filme que eu sempre soube que era um clássico mas nunca tinha assistido. Tenho pouca experiência com Fellini, tendo apenas visto Noites de Cabíria, La Dolce Vita e 8 1/2. O diretor parece se "citar muito", fazendo filmes baseados em suas experiências pessoais. Todos os filmes que vi de Fellini são agradáveis ainda que de complicada digestão.
Evidentemente que isso não é, por si só, algo negativo. Essa complicação certamente se origina da pessoalidade de seus filmes e da mistura da fantasia (dos personagens? do diretor?) com a realidade, ao menos a realidade segundo Fellini. Amarcord é um pouco diferente das demais obras citadas pois, apesar de ele seguir um ano de uma pequena cidade na Itália, em um perfeito círculo, mostrando que a vida continua, talvez da mesma forma, talvez com alterações, conta estórias aparentemente soltas mas protagonizadas por basicamente os mesmos personagens. Essas estórias parecem mais espasmos da memória, como se você estivesse contando momentos de seu passado a um amigo, sem seguir uma cronologia ou ordem lógica.
Não estou inventando isso. O título do filme já entrega o ouro pois significa "Eu me lembro". Toda a trama (ou falta de trama) tem como protagonista (se é que se pode chamar o personagem de protagonista) o menino Tita, em plena transição de menino para homem. O filme se passa nos anos 30 em uma vila que ecoa a cidade onde nasceu Fellini e o personagem Tita parece ser o próprio Fellini. Há, ainda, um destaque para a família de Tita, tipicamente italiana, quase um estereótipo: pai brigão, mãe mais brigona ainda e uma pancadaria a cada refeição em conjunto. Vale destaque a mãe de Tita, vivida pela atriz Pupella Maggio, que depois viria fazer Cinema Paradiso.
Assim, em capítulos, vemos Tita e seus amigos pregarem peças em seus professores; Tita tendo sonhos eróticos com a musa da cidade, Gradisca; Tita e sua família viajando com seu tio maluco ao campo; os moradores da cidade ficando embasbacados pela passagem de um transatlântico e diversas sequencias puras de sonho, com destaque para a do Xeque Árabe e seu harém de 30 mulheres.
E como se isso não bastasse, há críticas sociais e políticas fortes pela forma com que Fellini retrata os fascistas, sempre como histriônicos personagens retirados de um folhetim cômico. E, como uma cereja no bolo, Fellini ainda encaixa dois narradores, um professor (chamado de advogado) que fica falando sobre fatos históricos (irrelevantes?) da cidade e um contador de estórias louco.
Essa conjunção de peças diferentes de um mesmo quebra-cabeça, sem seguir um ordem específica (a não ser a das estações do ano), dão ao filme um caráter bastante folclórico e, em minha opinião, de difícil apreciação por quem não conhece ou estudou a vida do diretor. É claro que a fotografia - belíssima - e o carinho evidente do diretor por esse filme, o torna uma peça rara, passível de apreciação por todos.
Notas:
Minha: 7 de 10
Klaatu: 7 de 10
Barada: 7 de 10
Nikto: 7,5 de 10
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