quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Crítica de quadrinhos: Ultimate Marvel (Marvel Millenium)


No ano 2000, a Marvel fez algo bem inteligente mas com grande potencial para um desastre total: criou um novo universo Marvel, chamado de universo “Ultimate” com o objetivo de permitir que novos leitores pudessem se iniciar em seus quadrinhos. Digo que foi algo inteligente pois, basicamente, a Marvel teria carta branca para fazer o que quiser com seus grandes personagens, sem se preocupar com a continuidade normal. Digo que o potencial de desastre era grande pois mexer em heróis tão queridos é sempre um enorme perigo.

Mas a Marvel acertou em cheio em quase tudo que fez nesse seu novo Universo. A recriação dos personagens, principalmente os mais clássicos possíveis como Homem-Aranha, X-Men e Vingadores, foi um trabalho genial que basicamente continua até hoje. Em 2008, durante a saga Ultimatum, muita coisa mudou e, dizem alguns críticos, a qualidade piorou muito.

E é em Ultimatum que estou tentando chegar. Comecei a ler o universo Ultimate logo no seu começo mas parei e venho lendo intermitentemente, sempre na tentativa de alcançar o “presente”. Ainda falta alguma coisa mas estou bem próximo.

Em linhas gerais, gosto muito do universo Ultimate pois ele me permitiu começar do zero, sem me preocupar com décadas de alterações na história dos personagens, mortes, ressurreições, novas identidades e por aí vai. Em particular, as estórias do Homem-Aranha e X-Men mantiveram-se com uma boa qualidade ao longo do tempo mas minha linha preferida, pela temática adulta e séria, é The Ultimates, a versão Ultimate dos Vingadores. Tudo bem que essa linha foi a que mais atrasou e só houve três volumes de estórias, sendo que o terceiro eu ainda não li e dizem que é muito ruim.

Outro elemento muito interessante do universo Ultimate é que, por ser sensivelmente menor, ele tem uma ligação, algo que realmente une os vários personagens. Essa “cola”, ou seja, um passado em comum, eu suspeito, será o tema da série Ultimatum mas estou apenas especulando.

De toda forma, meu último “arroubo de leitura” do universo Ultimate significou a leitura de 8 volumes encadernados em capa dura, lançados nos Estados Unidos e, até onde sei, também por aqui, mas em publicações normais da Panini. São esses os volumes que comentarei brevemente abaixo:

Ultimate Wolverine v Hulk:

O título dessa série, composta de 6 números, poderia também ser “Pancadaria Ultimate”. É isso que acontece do começo ao fim, das maneiras mais absurdas – e, devo dizer – divertidas possíveis.

Trata-se, primeiro, de uma evidente homenagem à primeira aparição da primeira estória em que Wolverine apareceu na Marvel, em The Incredible Hulk 180 a 182. Lá, o baixinho mutante, com um uniforme bastante ridículo, tinha que enfrentar a fera verde.

Em Ultimate Wolverine v Hulk, Wolverine é contratado por Nick Fury para assassinar o Hulk (sim, assassinar, pois no universo Ultimate não tem frescura não...). Ele encontra o Hulk em um harem no Tibet, cercado de mulheres e começa a tal pancadaria infernal que mencionei antes. Não tem muito mais o que falar sobre essa série que não seja isso e a introdução de uma personagem famosa do universo do Hulk, em sua versão Ultimate (não vou estragar para quem não leu).

Em última análise, a série é completamente descerebrada, com lutas épicas e diálogos divertidos. Chega a ser memorável.

Duas características, porém, celebrizaram essa série.

A primeira delas é que, quando foi lançada, basicamente o primeiro quadro mostrava Wolverine cortado em dois pelo Hulk, tentando sobreviver (veja a capa ao lado). Haja fator de cura! Se vocês acham isso um exagero, é porque não leram a estória, pois ela vai muito além nos absurdos, mesmo dentro da lógica da estória...

A outra característica é que a série – de 6 números apenas - começou em 2006 e dois números foram públicados. O roteirista – Damon Lidelof de Lost – atrasou tanto depois disso que a série só terminou em Maio de 2009!

Nota: 7 de 10

Ultimate Iron Man:

Orson Scott Card escreveu duas séries contando a origem do Homem de Ferro do universo Ultimate. E é uma das mudanças mais significativas em termos de personagem de todo o universo Ultimate e tenho para mim que foi uma escorregada feia da Marvel.

No universo “normal”, pelo menos até a época que parei de ler a continuidade normal Marvel, o Homem de Ferro nada mais era do que um homem comum vestido com uma armadura. Isso é que tornava o personagem muito interessante e, apesar de ser multibilionário, era razoavelmente fácil identificar-se com ele. Mesmo no universo Ultimate isso era possível pois, até essa série, não havia nenhum indicação de alguma anormalidade em Tony Stark.

Orson Scott Card veio e estragou tudo.

Ele decidiu transformar Tony Stark em uma espécie de super-ser, inventando que sua mãe teve um acidente quando grávida dele que acabou transformando todo o corpo do bebê Tony em um cérebro. Sim, isso mesmo...

Ao mesmo tempo que ele ele tem esse cérebro espalhado pelo corpo, ele sente dores horríveis e tem ao mesmo tempo que passar um creme que é, na verdade, uma armadura biotecnológica criada por seu pai.
Quando toda essa palhaçada aconteceu, eu já havia perdido interesse na estória mas fui até o fim só para ver que ela ficava ainda pior, apesar de algumas ideias interessantes aqui e ali mas que não compensaram os problemas originais.

O problema não foi mudar a origem mas sim inventar uma origem para lá de idiota e que muda fundamentalmente o personagem.

Nota: 3 de 10

Ultimate Human:

Ultimate Human é uma série curta de quatro números que basicamente coloca o Homem de Ferro contra o Hulk quando o primeiro tenta curar o segundo. Nesse meio tempo, surge a versão Ultimate do personagem Líder, arqui-inimigo de Hulk no universo Marvel comum.

Claro, tudo é uma desculpa para usarem páginas e mais páginas de pancadaria entre os personagens, sem, contudo, a galhofa de Ultimate Wolverine v Hulk. Como essa série se leva muito a sério, ela acaba ficando forçada e o personagem do Líder muito ridículo.

Nada que mereça a atenção dos leitores.

Nota: 3 de 10

Ultimate Power:

Essa série é o primeiro crossover completo do universo Ultimate com outro universo paralelo da Marvel, o do Esquadrão Supremo.

Tudo começa quando Reed Richards, do Quarteto Fantástico, faz outra besteira - algo que ele costuma fazer em proporções épicas no universo Ultimate - e acaba lançando uma "geleca interdimensional" no universo do Esquadrão Supremo. Obviamente, o Esquadrão não gosta nada e vem para o universo Ultimate para prender o Quarteto.

Juntam-se à briga os X-Men, o Homem-Aranha e os Ultimates (que, em português, são os Supremos). Ao final, Reed Richards concorda em ir até o Supremeverse para tentar resolver o problema que causou. Enquanto isso, no universo Ultimate, os heróis resolvem montar uma operação de resgate pois, claro, eles não deixarão ninguém para trás.

E aí é que vem uma batalha épica no destruído Supremeverse, com direito, até, a presença da versão original do Esquadrão Supremo (de 1971, quando foi criado) no meio da bagunça toda, graças aos poderes da Feiticeira Escarlate. A estória tem uns segredos que não vou revelar mas que apenas corroboram a sujeirada que permeia o universo Ultimate, muito diferente da universo Marvel comum (pelo menos até o inicio de Guerra Civil que basicamente introduz conceitos do universo Ultimate no universo comum Marvel).

Nota: 7 de 10

Ultimate X-Men - volume 8:

O volume 8 da série Ultimate X-Men coleciona os números 75 a 88 dos mutantes e mais uma estória bônus. Trata-se do penúltimo volume antes de Ultimatum e da reformulação total da equipe dentro do universo Ultimate (algo que receio muito mas, mesmo assim, estou curioso para ver).

Esse volume trata da aparição da versão Ultimate do personagem Cable que, no universo normal, é filho de Cyclops e Madelyne Pryor. Em Ultimate X-Men, a única coisa que ele tem em comum com o Cable que conhecemos é que ele também vem do futuro. De resto, ele é bem diferente.

E bem melhor. Muito melhor.

Cable vem ao presente para matar o Professor X pois, segundo ele, o professor será a causa de um futuro negro para os mutantes. Não posso contar a identidade de Cable pois isso seria considerado um enorme spoiler para aqueles que ainda não leram mas posso dizer que tive que reler as páginas da revelação - que acontece cedo no volume - umas duas vezes para realmente acreditar. Achei que foi uma mexida muito interessante na mitologia do personagem ainda que ele tenha sido radicalmente alterado.

Esse primeiro arco de estórias, que também conta com Bishop e com vários desenvolvimentos interessantes que criam boas possibilidades para o próximo volume, é complementado de maneira bem orgânica com outro arco, dessa vez envolvendo Noturno e os Morlocks, aquele povo subterrâneo composto de mutantes "feios".

Finalmente, vem um arco, que também continua a estória principal, focando nos enormes robôs assassinos de mutantes conhecidos como Sentinelas.

Todo o volume funciona como um prelúdio para o embate com Apocalypse, grande inimigo dos X-Men do universo normal mas que ainda não havia dado as caras completamente no universo Ultimate. Digo "completamente" pois sua existência já havia sido tratada antes, em volumes anteriores, que introduziram o mutante Sinistro ao universo Ultimate. Há potencial para um ótimo desfecho no volume 9.

Nota:  8,5 de 10

Ultimate Spider-Man - volumes 8 e 9:

O tratamento mais consistente de um personagem da linha Ultimate acontece em Ultimate Spider-Man. Há, claro, altos e baixos nos arcos de estórias mas não há um desnível muito grande entre o melhor e o pior arco. Na linha Ultimate, Peter Parker está ainda na High School, sua Tia May é bem mais jovem do que na linha normal e sua relação com o legado de seu pai morto é bem mais presente.

Os volumes 8 e 9 cobrem, respectivamente, os números 86 a 96 mas os Anuais 1 e 2 e os números 87 a 111 da revista do amigo da vizinhança.

O primeiro arco do volume 8 chama-se Silver Sable e introduz a versão Ultimate dessa mercenária. Não há muitas mudanças nos personagens. O que acontece é que Sable é contratada para capturar o Homem-Aranha mas acaba sequestrando Flash Thompson achando que ele é o aracnídeo. O arco aprofunda a relação do Aranha com Nick Fury da maneira como já vinha sendo anunciado em volumes anteriores, o que mostra que os autores da linha já tinham, desde o começo, uma boa idéia do destino de seus heróis.

O segundo arco é Deadpool, em que esse detestável personagem (nunca entendi o amor dos leitores e da Marvel com esse cara) sequestra os X-Men e os leva à Ilha de Krakoa para participar de jogos mortais de uma "realitiy TV". Como Peter Parker já havia começado a namorar Kitty Pryde (acontece no Anual 1, que abre esse volume), ele vai atrás para resgatá-la e acaba, claro, salvando o dia. A estória é, basicamente, pancadaria do começo ao fim.

O terceiro arco é Morbius, em que o vampiro da Marvel é apresentado na versão Ultimate. A estória é curta mas muito interessante pois mostra Morbius como um caçador de vampiros no estilo Blade só que bem mais bacana.

O volume é fechado com o Anual 2 em que o Justiceiro, o Cavaleiro da Lua e Demolidor se unem com um objetivo em comum e um traidor - que já havia sido apresentado - é finalmente revelado e, digamos, aniquilado pelo delicado Justiceiro.

O volume 9 abre com a versão Ultimate da Saga do Clone. Só de ler o nome do arco já me deu arrepios e no sentido negativo. A Saga do Clone original foi uma das piores coisas já feitas na já complicada estória do Homem-Aranha no universo Marvel normal. Será que o erro seria repetido?

Fico feliz em dizer que não. Brian Michael Bendis aparentemente leu a saga anterior e as reclamações dos fãs e aprendeu com os erros de outros, criando, na verdade uma excelente nova versão da saga que envolve a clonagem de Peter Parker. Aparecem, aqui, o Escorpião e a Mulher-Aranha, todos na versão Ultimate, isso sem falar na aparição do pai de Parker! São excelentes personagens, especialmente a Mulher-Aranha, em um arco sensacional, com fortes conseqüências para o futuro do Aranha. Só não gostei muito do que acabam  fazendo com Mary Jane. Muito forçado mas não quero estragar nada para ninguém contando.

Seria natural que o arco seguinte, denominado Ultimate Knights, fosse ruim em comparação com o anterior mas a boa notícia é que não é. Voltam ao palco o Demolidor, Justiceiro e Cavaleiro da Lua que se unem a Shang-Chi, Punho de Ferro e Ronin e a um relutante Homem-Aranha para matar (sim, matar) o Rei do Crime. A estória é cheia de traições, violência e surpresas.

O volume se fecha com uma estória solta, de um número, chamada The Talk. O propósito aqui é duplo. Mark Bagley, o desenhista de toda a série Ultimate do Aranha até aqui (110 números completos!) passa seu trabalho a Stuart Immonen. Ao mesmo tempo, vemos Parker tendo "aquela" conversa com sua tia. Bons diálogos e o desenho não perde em qualidade com Immonen.

Nota do volume: 8: 8 de 10

Nota do volume 9: 9,5 de 10

Ultimate Fantastic Four - volumes 5 e 6:

Esses dois volumes de Ultimate Fantastic Four são os últimos antes da saga Ultimatum e colecionam os números 42 a 53 (volume 5) e 54 a 57 (volume 6) da série.

A tônica da versão Ultimate do Quarteto Fantástico é, como disse brevemente nos comentários sobre a série Ultimate Power, as besteiras que o gênio Reed Richards faz. Apesar de sempre ser avisado para não mexer nisso e naquilo, o garoto mimado e super-inteligente faz exatamente o oposto e as consequências são sempre gigantescamente absurdas. Esse padrão faz de Quarteto Fantástico a série fixa mais fraca do universo Ultimate.

É com esse padrão que começa o primeiro arco, intitulado The Silver Surfer, em que Reed cria o Cubo Cósmico e, com isso, acaba atraindo a atenção do Surfista Prateado e de seu mandante, um ser que tem o poder de mudar a realidade.

O segundo arco de estórias do volume 5 (Ghosts) é uma espécie de intervalo entre o primeiro e o terceiro pois, ainda construindo o Cubo Cósmico, Reed tem que salvar Sue que é raptada quando vai a uma conferência na Sibéria (quem é que vai a conferências na Sibéria???). Essa estória, na verdade, é bem bacana e envolve a aparição da versão Ultimate do Dínamo Escarlate.

Voltando para Nova Iorque, o Quarteto começa o terceiro arco (Four Cubed) vendo sua cidade cercada por um escudo de força impenetrável. Reed, em seguida, enfrenta Thanos novamente, que está atrás do Cubo Cósmico. A batalha acaba envolvendo todo o universo Ultimate e acaba sendo interessante, mas não o suficiente para salvar o volume 5.

O volume 6 tem apenas um arco, intitulado Salem's Seven, e é uma estória completamente independente e sem consequências em termos de continuidade, envolvendo, mais uma vez, Namor. Agatha Harkness aparece como uma psiquiatra da SHIELD e começa a criar discórdia entre o Quarteto. O que será que ela quer com o grupo? A estória é bem simples e não mereceria encabeçar um volume inteiro.

Nota do volume 5: 6 de 10

Nota do volume 6: 5 de 10

5 comentários:

  1. O que eles fazem com a mary jane?

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  2. Tô eu aqui de novo!!!
    Sou o cara do 1o comentário e queria dizer que também não acreditei quando Ultimate Cable pôs as unhas pra fora.
    Há alguns boatos de que depois de Ultimatum, o querido Ultiverso iria ter fim!!
    Se for verdade, tem que ser uma coisa épica,e não uma besteira como a origen do ultiironman.

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  3. Quanto a Supremos vol 3, conta uma droga de combate entre os Supremos e a irmandade de mutantes, sem contar com a morte da Viúva Negra.

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  4. O que fizeram com a Mary Jane foi uma aberração total que mesmo na estória do Aranha, que é cheio de coisas estranhas, ficou ridículo. Mas, o que se pode fazer?

    Sobre o Ultimate Cable, cuidado com os spoilers! Mas sim, foi bem bacana a mudança. E sim, o origem do Ultimate Iron Man é idiota, algo que quero esquecer.

    Sobre o futuro da linha Ultimate, fique tranquilo(s) que ela não acaba em Ultimatum. Há uma reformulação total - meio exagerada - mas as estórias continuam.

    Sobre Supremos 3, não li ainda mas não estou nem um pouco curioso. Tudo que li sobre a estória me deixou bem triste pela falta de qualidade.

    Obrigado pelos comentários!

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  5. Na boa a unica coisa boa são os "Vingadores"(que aparecem muito a frente) e os "Supremos"(que é a melhor serie da linha) a e não faça expectativas do "ULTIMATUM" é a pior serie desse universo...mortes ridiculas, uma tentativa de chamar atenção groseira.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."