quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Club du Film - 5.56 - Victim (Meu Passado Me Condena)

Victim (Meu Passado Me Condena) é um filme britânico de 1961, dirigido por Basil Dearden e foi visto pelo Club du Film (mais sobre o Club ao final do post) em 31.08.10.

Há uma palavra certeira para definir esse filme: coragem. Coragem do diretor Basil Dearden em fazer o filme e coragem do ator principal, Dirk Bogarde, em fazer o papel que faz. Ninguém desconhece a força do cinema para servir de forma de protesto mas Victim talvez seja um dos grandes exemplos desse tipo de filme, algo extremamente admirável, especialmente em se tratando do tema do filme: homossexualismo.


Sim, imaginem tratar do tema em 1961 na Inglaterra, país que tinha leis - como muitos outros da época - que proibiam o homossexualismo. Você até podia ser homossexual na época mas tinha que guardar sua escolha à sete chaves, sob pena de literalmente ser encarcerado. Então imaginem agora colocar às escâncaras esse cruel sistema durante a vigência dele.

É o que fizeram Dearden e Bogarde, arriscando suas carreiras no processo.

O filme conta a estória do envolvimento do advogado Melville Farr (Bogarde) com uma rede de chantagistas especializados em homossexuais. Os bandidos espionam os possíveis gays, tiram fotos comprometedoras e, depois, tratam de extorquir dinheiro de suas vítimas, esquema fácil em vista da já falada lei que proíbe homossexualismo. Afinal, para desbaratar a quadrilha, a vítima terá necessariamente que revelar que é homossexual.

Farr, envolvido meio que sem querer nesse embróglio, leva a coisa para o lado pessoal, já que ele mesmo é homossexual e parte para descobrir o que está acontecendo. Sua posição corajosa, literalmente dando a cara à tapa, é que torna o filme interessante, especialmente levando-se em conta todo o ambiente hostil da época aos homossexuais.

Em determinado ponto do filme, Bogarde encontra-se com outros gays chantageados e eles mesmo demonstram o preconceito que carregam, demonstrando que o filme não necessariamente é maniqueísta e simplista ao colocar, de um lado, os gays "bons" contra os heteros "maus". Há vários tons de cinza entre as cores preto e branco que Dearden sabe explorar muito bem não só metaforicamente mas, também, com sua cuidadosa fotografia.

Apesar da aparente complicação da estória, que começa indiretamente, só depois envolvendo Farr, ela tem resolução muito simples e objetiva, sem maiores tramas labirínticas. O que interessa, mesmo, é a denúncia que o filme faz e, claro, a época em que faz.

O interessante é que a jogada de Bogarde em aceitar esse papel polêmico, diferentemente do que se pode imaginar, não acabou com sua carreira, que ainda continuou forte nos anos seguintes, ainda que em filmes mais autorais, creio que escolhas do próprio ator, ele mesmo homossexual.

Mais sobre o filme: IMDB e Rotten Tomatoes.


Sobre o Club du Film:

Há mais de quatro anos e meio, em 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como "Club du Film". Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II, do mesmo autor, editado em 2006. São mais 102 filmes. Dessa vez, porém, farei um post para cada filme que assistirmos, para documentá-los com meus comentários e as notas de cada membro do grupo.


Notas:

Minha: 8 de 10
Barada: 6 de 10

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