sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Crítica de filme: El Secreto de sus Ojos (O Segredo dos seus Olhos)

O Segredo dos Seus Olhos é um grande exemplo do cinema argentino e mostra que é possível fazer um filme comercial que é ao mesmo tempo belo e complexo. Nós brasileiros definitivamente precisamos aprender com nossos hermanos.

Esse filme, dirigido por Juan José Campanella, que nos trouxe Clube da Lua, é uma obra-prima e merecidamente levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no evento desse ano. Infelizmente, porém, não consegui assisti-lo antes da cerimônia.

O magnífico ator Ricardo Darín vive Benjamín Esposito, uma espécie de investigador da Justiça Federal da Argentina que, aposentado em 1999, escreve suas memórias. Especificamente, Esposito objetiva colocar por escrito suas lembranças e investigações sobre um caso em particular que nunca conseguiu desvendar: o brutal estupro e assassinato de uma bela mulher em 1974.

O assassinato em si é uma espécie de moldura que enquadra outras situações vividas por Esposito há vários anos (o filme é contado, em sua maior parte, em flashback a partir de 1974): sua relação tensa e platônica com a bela Irene (Soledad Villamil) e a grave situação política vivida na Argentina. Mas o diretor nunca trata os assuntos de maneira aberta e óbvia. As questões políticas, mais exatamente a repressão militar durante a ditadura, vão se desenrolando quase que naturalmente e afetando a trama de maneira decisiva, mas sem parecerem intromissões artificiais, criadas pelo roteirista para impulsionar a trama.

Ao contrário, ele consegue criticar a política repressiva argentina sem partir para o lado piegas e cheio de lágrimas como costumam ser tratadas essas situações. Trata da mesma maneira a relação platônica entre os protagonistas. É de um beleza impressionante ver Darín e Villamil atuando juntos nesse filme pois eles passam ao espectador a exata medida entre desejo e repressão. Nós sabemos o que eles querem mas compreendemos e sofremos com os dois por eles não poderem se tocar. Esses tensos momentos são raros no cinema e acho que o casal consegue ter uma atuação conjunta tão boa quanto, senão melhor, do que Anthony Hopkins e Emma Thompson em Vestígios do Dia de 1993. Um impressionante feito, sem dúvida que não só mostra a qualidade dos atores como do próprio diretor, que soube reger os atores com perfeição e capturar momentos silenciosos como esses, em que os olhos dizem tudo.

Mas a moldura – o assassinato – não é esquecido e, na verdade, essa linha narrativa é responsável por eletrizantes momentos, inclusive o ótimo final. Mas, como não posso falar do final, pelo menos vale comentar uma cena mais para o meio. 

Em sua investigação, já próximos de achar o assassino, Esposito e seu parceiro Pablo Sandoval (Guillermo Francella) vão à um estádio de futebol repleto de torcedores para tentar achá-lo. Não há lugar mais difícil para localizar alguém do que um estádio. Campanella nos brinda, então, com um fantástico travelling que começa muito fora do estádio e vai se aproximando em boa velocidade e percorrendo as arquibancadas até encontrar os investigadores. A partir daí, mostra-se a busca e a sensação é que estamos lá, no estádio, com a mesma sofreguidão de Esposito e seu colega. A cena toda, inclusive a perseguição que se segue é perfeita.

Se seguirmos o caminho dos argentinos – e temos estórias, atores e diretores talentosos o suficiente para isso – um dia desses levaremos o Oscar para casa. Mas vai ser difícil se continuarmos indicando filmes como Lula, o Filho do Brasil como nosso representante no evento.

Mais sobre o filme: IMDB.

Nota: 10 de 10

2 comentários:

  1. Este travelling que você retratou é absolutamente fantástico. Lembro do arrepio ao ver o que Campanella fez... Eu curti muito o filme. Achei que não merecia o oscar, porque, pra mim, Haneke foi muito melhor com A Fita Branca, mas esta é só minha opinião. Por outro lado, impossível não ficar surpreso com o final deste filme. Nunca tinha visto nada parecido e confesso que meu lado obscuro emergiu um tantinho e achei a vingança perfeita! :D

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  2. Filme ótimo.
    Para quem foge dos tradicionais filmes de hollywood como eu, esta é uma experiência maravilhosa. Recomendadissimo.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."