domingo, 7 de novembro de 2010

Club du Film - 5.53 - Stroszek

Stroszek é um filme alemão de 1977, dirigido por Werner Herzog (Fitzcarraldo, O Sobrevivente, Bad Lieutenant, Aguirre, Cólera dos Deuses e vários outros) e foi visto pelo Club du Film (mais sobre o Club ao final do post) em 03.08.10.

Werner Herzog é um grande diretor, talvez um dos meus diretores favoritos. Stroszek, porém, não é uma de suas melhores obras, pelo menos não para o meu gosto. E olha que Herzog acerta a mão por uma boa parte desse filme mas, depois, deixa o "caldo" desandar completamente em um final bastante lisérgico. Mas vamos por partes.


Bruno S. é um alcóolatra que vive em cana. Ele é mentalmente limitado e, quando é libertado da prisão, junta-se ao seu amigo quase senil Scheitz e uma prostituta chamada Eva em uma aventura em busca do Sonho Americano. Os três vivem miseravelmente em Berlin, achacados e espancados por valentões e cafetões e estão fartos dessa vida. A solução é partir para o Wisconsin, na Terra Prometida.

Os três, então, chegam em Nova Iorque e, de lá, vão aos trancos e barrancos até o Wisconsin, quando descobrimos, de cara, que eles, na verdade, trocaram seis por meia dúzia. A grande diferença do Wisconsin para Berlin é que no Wisconsin as pessoas falam inglês no lugar de alemão. A Terra Prometida, a Terra das Esperanças, o Sonho Americano é, obviamente, bem diferente do que o anunciado. Mas os amigos acabam conseguindo uma casa pré-fabricada onde vivem por um tempo até o banco chegar e reclamar pela falta de pagamento. O banco é personificado por um sujeito magro de óculos, com discurso de "serviço de telemarketing" chamado Scott. Ele visita a família disfuncional formada pelo três amigos e, com o passar do tempo, é forçado a retirar os móveis e a casa deles. Eva é forçada a voltar à prostituição e Bruno pira de vez

A partir daí, Herzog parte para uma louca fuga de Bruno e Scheitz, que roubam uma loja, até o Canadá. Acontece que Herzog começa a exagerar um pouco as suas cenas realistas, partindo para "viagens" lisérgicas como disse mais acima, envolvendo passeios em teleféricos, galinhas dançantes e coisas do gênero. São momentos definitivamente singulares na história do cinema que ficarão na memória de qualquer um que os assistam. Acontece que, para mim, esse final exageradamente tresloucado não fez "click" na minha cabeça, não se encaixou na proposta inicial do diretor. E isso é especialmente claro ao notarmos que os "atores" desse filme não são verdadeiramente atores mas sim os próprios personagens. Toda a realidade trazida por esse aspecto e pelo tratamento duro da vida feito por Herzog, na minha cabeça, esvaiu-se com o terço final do filme completamente surreal e, em última análise, bem arrastado.

No entanto, a mensagem foi passada de maneira suficientemente eficiente. O Sonho Americano ou não existe ou é bem diferente do que imaginamos ser e, quando envolve pessoas à margem da sociedade, é ainda mais distante e inalcançável. Mas engana-se quem acha que esse filme é uma crítica somente aos Estados Unidos. Na verdade, sempre acho que mostrar pessoas acreditando no chamado "Sonho Americano" é muito mais um retrato das pessoas em si do que do Sonho Americano. Mostra muito mais as falhas e defeitos nas pessoas do que no sistema dos Estados Unidos. E Stroszek mostra bem isso: a ilusão é causada pelo desespero de pessoas que não têm escolha.

Será que é possível acreditar que Bruno e seus amigos não teriam o mesmo tipo de fim se tivessem ficado em Berlin? Tenho para mim que não, de jeito nenhum. Os três amigos acabariam da mesma maneira e isso mostra que o problema não é o tal Sonho Americano mas sim o tratamento que a sociedade como um todo - seja americana, alemão, francesa, tailandesa ou brasileira - dá àqueles que mais precisam de ajuda. É tolice acreditar que Herzog foi limitado ao ponto de só tratar dos Estados Unidos. Ele apenas usou os Estados Unidos como exemplo da desesperança dos párias da sociedade.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes.


Sobre o Club du Film:

Há mais de quatro anos e meio, em 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como "Club du Film". Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II, do mesmo autor, editado em 2006. São mais 102 filmes. Dessa vez, porém, farei um post para cada filme que assistirmos, para documentá-los com meus comentários e as notas de cada membro do grupo.

Notas: 

Minha: 5 de 10
Barada: 8 de 10
Nikto: 6,5 de 10

2 comentários:

  1. Teu equívoco foi ter achado que o filme tem uma premissa de descrever a realidade até os 2/3 do filme. A poesia do filme se revela no final.

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  2. Não creio que a coerência seja argumento suficiente para barrar o final espetacular de Stroszek. Ademais, de que coerência se trata, afinal? Tente perceber algo naquelas galinhas e coelhos dentro das gaiolas dançando e tocando piano desesperadamente. É genial. Concordo com o Cru e cozido.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."