sábado, 31 de outubro de 2009

Crítica de filme: Inglorious Basterds (Bastardos Inglórios)

A essa altura, todo mundo que queria assistir Inglorious Basterds já assistiu. Quem não assistiu mas é fã de cinema, precisa se levantar da cadeira e assistir já. Não esperem o lançamento em DVD. O filme é bom demais para ser relegado a uma televisão, por melhor que ela seja.

Quentin Tarantino é, seguramente, o maior diretor pop que existe e, talvez, um dos grandes diretores do cinema moderno. Seus clássicos Reservoir Dogs (Cães de Aluguel) e Pulp Fiction, são filmes com lugares garantidos na história do cinema. Os dois Kill Bill mostram a versatilidade de Tarantino em misturar gêneros, dos filmes de kung-fu trash da década de 60 e 70 até os westerns Spaghetti. A capacidade do diretor em criar diálogos e dirigir atores é algo fora do comum. Ok, é bem verdade que alguns detratores dizem que ele simplesmente copia outros filmes. É verdade, sem dúvida. Mas copiar vários filmes ao mesmo tempo, misturando-os em uma estória só ao ponto de imprimir-lhes vida própria, personalidade própria, só Quentin Tarantino consegue fazer. Mesmo seus filmes mais fracos - em minha opinião Jackie Brown e Death Proof que mesmo assim são acima da média do que vemos por aí - são um primor de construção de personagens e de roteiro.

Inglorious Basterds, sua mais recente obra, talvez seja o ápice de sua carreira. Pulp Fiction já é para mim um dos melhores filmes que já vi (minha lista é grande e variada, posso garantir) mas, com Inglorious Basterds, Tarantino conseguiu talvez se superar.

O filme é, em linhas gerais, uma comédia. Uma comédia com violência e com momentos extremamente aflitivos mas, de toda forma, uma comédia. É, também, assim como Kill Bill, um filme de vingança mas em um patamar muito mais elevado em que se tenta servi-la aos nazistas, da pior forma possível.

O filme é contado em capítulos sendo que cada capítulo corresponde a um longo e magnífico diálogo, durante os quais os personagens estão normalmente sentados à mesa. O diálogo de abertura, que logo de cara nos remete aos westerns de Sergio Leone, até pelo uso de trilhas de Ennio Morricone, é visceral, torturante, mas apresentado de forma bela e ao mesmo tempo aterrorizante. E isso porque eu classifiquei o filme de comédia!

A estória pouco importa mas vamos lá. Em capítulos cronológicos, Tarantino nos conta duas estórias paralelas com um final em comum. A primeira delas é a dos Bastardos do título, judeus americanos que se infiltram nas linhas nazistas, comandados pelo tenente Aldo Raine, um soldado sulista vivido por Brad Pitt. Dentre os Bastardos, temos pessoas conhecidas como "Bearjew" (vivido pelo diretor de filmes de terror Eli Roth), por exemplo, que gosta de esmagar crânios nazistas com um taco de baseball. O objetivo dos Bastardos é, unicamente, aterrorizar os soldados nazistas usando técnicas pouco usuais de combate, como, por exemplo, escalpelar todas as suas vítimas.

No outro espectro, temos a segunda estória, também de vingança. Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent), judia que escapa do massacre de sua família, vai para Paris onde assume outra identidade e passa a cuidar de um cinema. Por várias circunstâncias, o cinema acaba sendo escolhido como local da première de um filme nazista e ela trama acabar com todos os presentes.

Como eu disse, as duas estórias realmente correm paralelas e nunca se tocam. As únicas coisa em comum é o tema vingança e o local final. Poder-se-ia dizer que o filme é apenas metade sobre os Bastardos mas isso seria uma mentira. Há um fator humano que ainda não computei mas que precisa ser computado: o ator austríaco Christoph Waltz no memorável papel do Coronel nazista Hans Landa. Esse é o personagem que efetivamente costura as duas estórias paralelas.

Tarantino, de forma brilhante, optou pelo uso caricato de seus personagens: Mélanie Laurent faz uma francesa blasé, Brad Pitt faz um soldado "super"-sulista, os ingles são todos, digamos "ingleses" e por aí vai. O objetivo disso foi criar um palco para Christoph Waltz, um brilhante ator, que desde já eu digo, merece um Oscar. O cara é tão bom, mas tão bom, que, apesar de ser diabolicamente mau, é impossível não torcer por ele. A profundidade do personagem, claro ajudado pelos sensacionais diálogos de Tarantino, já o torna, automaticamente, um clássico. A facilidade com que Waltz pula de uma língua para outra, absorvendo até os trejeitos dos nativos do país, o separam das celebridades que vemos por aí que, quando falam em algum língua que não seja a sua de nascença, ou o fazem com um horrendo sotaque, ou são muito limitados pois se restringem a despejar diante da câmera aquilo que acabaram de decorar.

Assim, na verdade, Inglorious Basterds é um filme em três: um sobre os Bastardos, outro sobre Shosana e um terceiro, muito mais interessante, sobre Hans Landa, o assassino cruel que, tenho que confessar, amei odiar. Não é à toa que escolhi o poster acima para ilustrar essa crítica.

Mas eu não poderia encerrar meus comentários sem falar do amor de Tarantino pelo cinema. Seus filmes todos são homenagens a diversos estilos cinematográficos e a grandes - e pequenas - obras da Sétima Arte. Inglorious Basterds não é diferente. Faz referências a westerns de John Ford e de Sergio Leone e a filmes de guerra como 12 Condenados, tem seu título retirado da versão em inglês do filme italiano Quel Maledetto Treno Blindatto de 1978, tem inspirações do cinema francês. Além disso, se despirmos o filme do seu mote de vingança, temos um filme que é sobre a estréia de um outro filme, feito pela UFA de Goebbels e tendo com um dos principais personagens uma atriz alemã que é espiã dos ingleses (Diane Kruger no papel de Bridget Von Hammersmark. Além disso há as pontas famosas, como Mike Myers para ficar no mais óbvio e Rod Taylor (do clássico The Time Machine) para ficar no mais obscuro. Ah, já ia me esquecendo, há dois atores tarantinescos que emprestam apenas suas vozes ao filme. Tentem descobrir quem são sem pesquisar na internet.

Em suma, uma obra prima que satisfaz em todos os níveis. Preciso ver de novo, no cinema, antes de comprar o Blu-Ray e assistir outras 10 vezes...

Nota: 10 de 10

5 comentários:

  1. O filme é ruim, o pior de Tarantino.

    Só foi glorificado pela mídia (e por você), por ser um filme de Tarantino.

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  2. Cada um tem direito a sua opinião mas apenas dizer que um filme é ruim ou é bom não é suficiente. Sem dar uma razão, a opinião é vazia, inútil.

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  3. Foi um dos melhores filmes que eu j´vi na minha vida, apesar de ainda gostar mais de Pulp Fiction. Isso o que você disse sobre misturar vários filmes e juntar-losem uma só história é totalmente verdade, já havia pensado nisso mas nunca colocado em prática. Gostei muito do seu blog e possui criticas e argumentos muito consistentes. Parabens pelo seu trabalho. Meu blog sobre criticas também se quiser dar uma olhada: http://cabinedebanheiro.blogspot.com/

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  4. gosto do tarantino, gosto de todos os filmes dele, como ele une o quadrinho, o anime no mundo do cinema, mas este filme em é uma porcaria perto do que ele ja fez, não tem roteiro, não tem historia, não tem sentido, os atores foram pessimos, acho que foi mas endeusamento que boa critica, o ninja assassino, tem mais a cara dele do que este filme

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  5. jose maria, entendo seus comentários mas se você gostou de Kill Bill, vale lembrar que a estória lá é muito semelhante a dos Bastardos. Aliás, em termos de roteiro, Kill Bill é muito mais linear e, digamos, simples, do que IB. Que filme já feito teve a coragem de tratar assuntos tão sérios como o holocausto dentro do contexto de uma comédia e, ainda por cima, alterando fatos históricos? Acho que esses pontos merecem ser levados em consideração. Sobre os atores, acho que sua impressão deles terem sido péssimos pode estar muito mais ligada aos papéis propositadamente caricatos que Tarantino escreveu para eles do que qualquer outra coisa. Você achou mesmo Christoph Waltz péssimo? De toda forma, respeito sua opinião e agradeço por ler meu blog.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."