Almodóvar é sempre Almodóvar e, como tal, escolha óbvia para o Festival do Rio. Trata-se do 10º filme do Festival comentado aqui, um número bastante razoável considerando-se que faço o blog apenas por prazer, trabalho integralmente e tenho filhos. Fecharei em 11 e é tudo que posso fazer pois viajo antes do final do Festival.
Esperava algo bem Almodóvar e me deparei com algo mais, talvez o melhor filme dele, não sei. Lluís Homar vive o papel duplo de Mateo Blanco, um diretor de cinema e Harry Caine um roteirista de cinema. Há duas estórias interligadas e começamos com a de Harry Caine, um roteirista cego que logo nos explica que as coisas nem sempre foram assim. Com o desenrolar do filme, Almodóvar nos mostra que Mateo já foi Mateo, um famoso diretor que estava filmando a comédia Mujeres & Maletas, que viria a ser seu último filme nesse cargo. O filme se passa entre o começo da década de 90 em que os acontecimentos da vida do diretor Mateo se desenrolam (ou melhor, se enrolam) e hoje em dia, com Harry Caine recontando o que aconteceu. Nesse meio, há a filmagem de Mujeres & Maletas e de um estranho documentário.
Almodóvar usa e abusa da metalinguagem, do "filme dentro do filme" e, no processo, deixa às escâncaras seu amor pelo cinema. O filme é sobre filmes e tem, em seu meio, outros dois filmes sendo realizados. Chega um ponto em que é possível duvidar sobre o que efetivamente é fato e o que não é. Outro aspecto muito interessante é que o filme que Mateo filma em 1994, Mujeres & Maletas, é um típico Almodóvar em começo de carreira: cores fortes e comédia de diálogos loucos protagonizada por mulheres. O filme que assistimos, Los Abrazos Rotos, é um típico Hitchcock, com suspense, drama e trilha sonora forte, desesperante.
O que muda a vida de Mateo e acaba transformando-o em Harry é a entrada de Lena em sua vida. Lena é amante de um milionário e aspirante a atriz que quer por que quer participar do filme que Mateo começaria a filmar. Em 2008, quando o cego Harry reconta sua estória de 14 anos antes, a presença de Lena se dá apenas por fotos, o que deixa claro que algo de muito ruim provavelmente aconteceu. Lena é vivida pela musa de Almodóvar, Penélope Cruz, que faz caras e bocas de Audrey Hepburn, em um ótimo papel de muitas camadas e transformações. Talvez o filme, mais do que um filme sobre cinema, seja um filme sobre Penélope Cruz ou melhor, do caso de amor platônico (ao menos em tese) de Almodóvar pela atriz espanhola.
Seja como for, Los Abrazos Rotos é um ótimo filme que mostra um grande amadurecimento do já ótimo Almodóvar.
Nota: 8,5 de 10
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