sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Crítica de filme: Away We Go (Distante Nós Vamos)

Mais um do Festival do Rio. Dessa vez vi um filme de Sam Mendes, diretor dos excelentes American Beauty (Oscarizado), Road to Perdition e Revolutionary Road. Não vi Jarhead ainda. De toda forma, em sendo um filme de Sam Mendes, esperava algo forte, dramático, perturbador.

Mas não foi isso que vi.

E o que vi me surpreendeu.

O filme começa com o que talvez seja a maneira mais original de se descobrir que alguém está grávida. Sensacional e não vou nem pensar em contar. Mas isso já vale o filme. Feita a descoberta, o casal então se prepara para a vinda do rebento, contando com a futura ajuda dos pais de Burt (John Krasinski) já que os pais de Verona (Maya Rudolph) já faleceram. Aliás, Burt e Verona se mudaram para onde moram exatamente para ficar perto de membros da família para eventualidades como essa. Um belo dia, no sexto mês de gravidez, os pais de Burt (Catherine O'Hara e Jeff Daniels) contam a grande novidade: vão se mudar para a Bélgica um mês antes do bebê nascer e ficarão por lá por dois anos. Meio perdidos, Burt e Verona saem pelos Estados Unidos - e pelo Canadá também - para procurar um local para criarem o bebê.

O filme, então, se torna um road movie e, como tal, um filme de auto-descoberta. A cada lugar que vão, o casal apaixonado se encontra com outros casais com filhos e vêem o que pode ser o futuro deles. Essa busca pessoal pelo local perfeito para fundar uma família é o âmago do filme que, na verdade, é um filme que festeja a família, seja ela hippie, desleixada, séria demais ou de qualquer tipo. É um filme sobre o amor basicamente, o amor de um casal e do que o casal pode oferecer aos filhos.

Eu sempre ficava esperando alguma coisa torcida e ruim, no estilo Sam Mendes de dirigir mas nada. Trata-se de uma comédia dramática que não é nem comédia escrachada nem um drama no sentido, digamos, huuumm... "dramático". É uma belíssima estória sobre a força do amor e sobre a importância da família.

Sei lá. Chamem-me de sentimental, bobão, qualquer coisa mas não achei defeito nesse filme. A estória, como já disse, é lindíssima. A atuação do casal principal é inacreditavelmente boa, verdadeira. Os casais que encontram oferecem contrapontos importantes para criar o contraste sobre o que se deseja e o que se tem. É bem verdade que os casais chegam a ser caricatos mas isso não atrapalha o filme. O final também é bastante previsível mas não menos belo. É, estava "sensível" quando assisti a esse filme e, por isso, não consigo pensar em dar nota diferente da máxima. Na verdade, a cena da descoberta da gravidez no começo e outra cena, mais para o final, em que Burt e Verona descobrem que a aparente felicidade de um casal esconde uma profunda dor, já valem o ingresso (sei que estou me repetindo, mas é verdade).

Nada de errado no filme. Muito pelo contrário. Nota máxima, portanto.

Nota: 10 de 10

2 comentários:

  1. Concordo! É difícil elogiar este filme sem parecer "sentimental". A visão de mundo que emerge da obra é romântica. Os gêneros do road-movie e do filme de formação (bildunsroman - romance de formação, na literatura) - que são populares, massivos, e portanto, "comerciais" - são incorporados a arquitetura de um filme que tem um dimensão crítica e filosófica. O diretor (ou todos que participam de sua concepção artística, pois parece que os 2 atores são também autores...) consegue equilibrar as demandas do público mediano e do público crítico, incluindo cinéfilos. Há mesmo uma dimensão ecocrítica nele! A crítica ao modo de vida moderno (ou melhor, modos) é feita de uma perspectiva romântica na medida que valoriza a ligação com a terra/natureza, as raízes, os valores comunitários e a tradição. Mas não é ingênuo e/ou conservador. Esteticamente, apesar de manter a linearidade da narrativa e utulizar gêneros de apelo mais popular, utiliza o fragmento de uma maneira que me parece - à primeira vista (só vi o filme agora) romântica. Parece tratar-se da concepção de fragmento dos românticos de Iena, vide Schlegel ao falar da Poesia. Um ouriço, tensão que contém as contradições do todo. Isso ainda completado por um humor carregado de ironias (românticas?)que colocam abaixo mistificações de felicidade, ilusões do Ideal (ou dos Ideais). Em vários momentos o espectador é carregado para cima, rumo à felicidade do Ideal, para, de repente, ser puxado violentamente para baixo, em um movimento de ascensão e queda tipicamente romântico (uma "poétique de la chute", já escreveu um crítico à presença deste nos pequenos poemas em prosa de Baudelaire). Ao final, a certeza aparentemente ingênua do protagonista é compensada e colocada sob uma perspectiva crítica pela dúvida de sua compaanheira, também protagonista. É necessário recuperar antigos valores, estar em sintonia com a natureza, de forma autêntica. Não é garantia 100% do paraíso, é claro, mas é melhor caminhar com sonhos do que vazio, sem encontrar sentido em nada. O ser humano não vive sem sonhos, é de sua própria natureza, comprovado cientificamente. Pessoas privadas de vivenciarem o estágio de sono em que se sonha enlouquecem, morrem. Mas se acreditar nisso é ser romântico e portanto antiquado, ultrapassado, ou ingênuo, que seja, né? Fazer o quê?!

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  2. Correção! Leia-se "Bildungsroman" (do idioma alemão, pode traduzir-se ccomo romance de formação).

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."