quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Crítica de filme: Hugo (A Invenção de Hugo Cabret)

Eu sei que, se você chegou aqui, é porque quer ler alguma crítica sobre A Invenção de Hugo Cabret. No entanto, vai logo um conselho: se você ainda não viu o filme, seria ideal que você fosse assisti-lo sem saber absolutamente nada sobre ele. Cada minuto é uma surpresa e um deslumbramento e não saber nada especificamente sobre esse filme é uma dádiva. Ou quase nada. Basta saber que é o primeiro filme "família" de Martin Scorsese, um dos grandes diretores vivos e que o uso do 3D, nesse caso, é brilhante, uma exceção que confirma a regra que 3D não serve para muita coisa. Assim, pare por aqui, veja o filme no cinema e em 3D e, se quiser, volte depois para ler meus comentários.

Se você clicou em "continue lendo", quer dizer ou que decidiu ignorar meu conselho ou que já viu o filme. De toda forma, os próximos parágrafos são completamente sem spoilers, algo difícil em um filme como esse já que um dos elementos mais importantes já pode ser considerado como tal.

Muito curioso que, esse ano, tenhamos dois candidatos ao Oscar de melhor filme que homenageiam o cinema. Será um sinal que Hollywood está carente? Que precisa de um afago? O Artista é um filme que mais diretamente trata de Hollywood, em um tributo bem objetivo. A Invenção de Hugo Cabret, porém, homenageia o Cinema em si, esse com letra maiúscula mesmo. O filme vai até muito antes da década de 20 tratada no filme mudo que está levando os críticos à loucura. Talvez por isso, Hugo Cabret seja mais genuíno em sua homenagem e certamente muito mais deslumbrante.

Baseado em um livro/graphic novel de Brian Selznick de mesmo nome, o filme conta a estória de Hugo Cabret (Asa Butterfield), um órfão que mora escondido em uma enorme estação de trem de Paris na década de 30. Ele vive de furtar comida das lojas que povoam a estação e, seguindo a profissão do tio desaparecido, mantém funcionando todos os relógios de lá. De seu pai (Jude Law), prematuramente falecido, ele herdou a capacidade de consertar quaisquer coisas e, também, um autômato que havia sido achado em um museu junto com um diário que o pai escreveu sobre como consertá-lo. Hugo passa todo seu tempo livre tentando achar peças para colocar sua herança funcionando.

Muito relutantemente, Hugo se aproxima de Georges (Ben Kingsley), um antipático vendedor de brinquedos em uma banca na estação pois ele tem, aparentemente, as peças que precisa. No entanto, quando o rabugento Georges descobre o livreto que Hugo tem com detalhes sobre o autômato, ele o toma do garoto e se recusa a devolver. Hugo fica desesperado e acaba aliciando Isabelle (Chloë Moretz), afilhada de Georges, para tentar pegar o livro de volta. E isso tudo tendo que driblar a incansável - mas atrapalhada - perseguição do Inspetor da Estação (Sacha Baron Cohen) que tem especial predileção pela captura de órfãos.

Contar mais do que isso é começar a estragar as surpresas. Basta dizer que, a partir da segunda metade do filme, Scorsese dá uma guinada na estória e ele passa a tratar da tal homenagem ao Cinema que mencionei acima sem, no entanto, que as partes fiquem desconexas. Na verdade, a primeira metade é uma linda preparação para a segunda.

Para começar, Scorsese tenta replicar, em pleno 2011, o mesmo tipo de deslumbramento que os primeiros filmes causaram nas pessoas que os assistiram. Não é à toa que ele mostra, dentro de seu filme, o curta francês de 1895 chamado L'Arrivée d'un train à gare de La Ciotat (ou "A Chegada de um trem à estação La Ciotat") que, conta a lenda, assustou multidões que mal conheciam o cinema pois mostrava o trem indo em direção à tela e passando. Imaginem só essa sensação! Mais para frente, Scorsese vai ainda além e reproduz a cena, de sua maneira, dentro da estória de seu filme.

Scorsese tenta e, ao meu ver, com enorme sucesso, replicar a sensação de verdadeira novidade, algo que falta muito hoje em dia em que vemos filmes sempre com mais e maiores explosões e efeitos sem significados. Ficamos meio que "acostumados" a ver os efeitos e dificilmente vemos algo de cair o queixo de verdade. O filme de Scorsese se esforça em deixar seu queixo no chão o tempo todo. O diretor trabalha cada detalhe de seu filme, tendo criado vários cenários em tamanho real para afastar a sensação de muitos efeitos especiais. Mas, mesmo assim, o filme é recheado de efeitos e todos eles incrivelmente bem feitos e de tal maneira costurados dentro do filme que fica difícil dizer quando acaba a realidade e começa a mágica.

Aliás, "mágica" é mesmo a palavra de ordem nesse filme. Dos momentos iniciais em que a câmera faz enormes e longos travellings por cada mínimo detalhe da estação de trem até os minutos finais em que literalmente "cai a cortina", Scorsese produz pura mágica cinematográfica, exatamente na mesma linha do grande homenageado do filme e que vou deixar como um mistério para não estragar nada para ninguém. Scorsese, um ítalo-americano do Queens conhecido por seus violentos filmes de máfia, faz, em A Invenção de Hugo Cabret, certamente seu filme mais sentimental e, talvez, seu mais pessoal, homenageando a arte em que se tornou mestre. Mas a homenagem é humilde (sim, suntuosa, mas mesmo assim humilde), cheio de referências e, principalmente, deferências. Um verdadeiro cavalheiro fazendo um tributo para talvez o maior nome do início do Cinema sem perder de vista, porém, outros grandes personagens da época.

Quem não conhece ao menos um pouco história do cinema vai perder um tanto da magia e beleza da homenagem desse filme, especialmente a partir da segunda metade. Mas, mesmo, assim, A Invenção de Hugo Cabret é uma joia que precisa ser vista por todos, incondicionalmente. Tenho certeza que, aqueles que pouco conhecem sobre o nascedouro da Sétima Arte ficarão muito interessados depois e sairão pesquisando por aí em ferramentas de busca. Só vale já notar uma coisa: a estória contada no filme, tirando o próprio Hugo Cabret e o autômato, é, basicamente, verdadeira, até seu finalzinho. Esse é um outro elemento de tirar uma lágrima furtiva do espectador.

E não posso fechar essa crítica sem falar sobre o 3D. Como ficou claro no primeiro parágrafo, acho essa tecnologia um caça-níquel dos estúdios. No entanto, como toda regra precisa de exceções para ser regra, A Invenção de Hugo Cabret é um desses casos. O 3D é utilizado para impulsionar a estória do filme e Scorsese, que jamais havia utilizado a tecnologia, o faz com efeitos incríveis, de se tirar o chapéu. O 3D serve tanto para ajudar no deslumbramento do espectador, na linha do filme do trem que mencionei acima, como, também, nos momentos exagerados, para criticar seu próprio uso sem rédeas. Scorsese é mesmo um diretor incrível. Nunca pensei que diria isso mas vejam o filme em 3D se possível, por favor!

Apesar da nota abaixo, o filme não é completamente sem defeitos. Talvez seja um pouco longo demais (tem 127 minutos) e tenha um roteiro desnecessariamente complicado. No entanto, dou ênfase ao "talvez" pois, para mim, o tempo passou voando e apreciei o esmero de cada desvio que o filme dava para contar estórias paralelas, notadamente a do Inspetor da Estação e uma florista.

A Invenção de Hugo Cabret concorre a 11 Oscar: Melhor Filme, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Diretor, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Roteiro Adaptado.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 10 de 10

5 comentários:

  1. Concuerdo contigo, el uso del 3D en Hugo es brillante. La actuación del niño es muy buena.

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  2. O filme é brilhante me emocionei com história do cinema.

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  3. Bem legal o filme só não tive a oportunidade de assistir no cinema nota 20 para o filme recomendo.

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  4. eu vi no cinema adorei :)

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."