segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Crítica de filme: Midnight in Paris (Meia-Noite em Paris)

Não sei exatamente por onde começar mas talvez o melhor caminho seja começar por uma ou duas confissões: a primeira delas é que, há muitos anos, por razões que hoje sinceramente não me lembro, criei uma barreira anti-Woody Allen na minha cabeça. Assim, parei de ver os filmes dele. Notem que não tinha e não tenho nada contra os filmes em si mas sim contra a pessoa de Allen e resolvi parar de dar dinheiro para ele. Infantilidade? Com certeza. Mas aí vem minha segunda confissão: sou extremamente teimoso e, quando decido alguma coisa, é quase impossível eu voltar atrás, mesmo que a lógica determine o contrário. Só estabeleci exceções para filmes dele em razão de eventuais indicações ao Oscar, já que, desde que me conheço como gente, vejo todos os indicados para essa premiação. Assim, foi com muito atraso e só depois da lista de indicados ser informada pela Academia é que eu finalmente assisti Meia-Noite em Paris.


É aquela velha estória: antes tarde do que nunca. Minha esposa e meus amigos viviam me dizendo que o filme era maravilhoso e que eu adoraria. Resultado? Estava preparado para me desapontar completamente.

E, mais uma vez, quebrei a cara.

Meia-Noite em Paris é um filme maravilhoso. Não gosto muito de classificar filmes com superlativos dessa natureza mas tentarei oferecer uma explicação. Para começar, a estória é ótima em sua simplicidade, quase um fábula: Gil (Owen Wilson) é um roteirista de Hollywood que está em Paris de férias com sua noiva Inez (Rachel McAdams) e a família da noiva. Ele tenta aproveitar Paris com passeios pela cidade à pé enquanto que ela age como a típica turista, nunca entendendo os sentimentos de seu parceiro. Gil também tenta escrever um livro sobre o dono de uma loja que vende memorabilia, tudo para tentar fugir da mesmice de Hollywood. Na verdade, o livro é sobre ele mesmo pois Gil é um homem nostálgico de uma época que nunca viveu, a década de 20 em Paris. Inez quer mais é se divertir com seus pais e uma dupla de amigos insuportáveis para Gil, especialmente o pedante Paul (o ótimo Michael Sheen) que parece saber tudo sobre tudo.

Aí entra a parte da fábula. Gil, o homem que vive com a cabeça nos anos 20, é magicamente transportado, toda meia-noite, para exatamente essa década, quando faz amizade com ilustres visitantes e moradores da cidade como Hemingway (Corey Stoll), Scott e Zelda Fitzgerald (Tom Hiddleston e Alison Pill). Não vou contar muito mais pois a descoberta dos personagens famosos que Gil encontra faz parte da magia desse filme. Woody Allen, assim como em A Rosa Púrpura do Cairo, acertadamente não dá qualquer explicação para o fenômeno, permitindo uma total e despreocupada apreciação da simples estória.

Em linhas gerais, não há muita profundidade no que Allen quer contar. O roteiro é muito bem amarrado, nunca cansa pois a todo momento nos apresenta personagens novos que são historicamente relevantes no mundo das artes (vários atores muito famosos fazem pontas de poucos minutos) e permite que nós, espectadores, sentemos e relaxemos, como se estivéssemos em um daqueles bistrôs parisienses olhando a vida passar. No entanto, não há quaisquer questões filosóficas mais profundas do que talvez a resposta para a pergunta "porque nós nunca estamos satisfeitos com o que temos?" e suas variações.

Paris é mesmo a grande homenageada aqui. As lentes de Allen são extremamente benéficas com a cidade, apenas mostrando imagens de cartão postal, com belíssima fotografia e ótima trilha sonora. O começo mesmo do filme nada mais é do que uma sucessão de imagens famosas da cidade por uns 10 minutos com um agradável jazz ao fundo. Quando a estória começa, já somos apresentados a Gil como sendo um apaixonado completo pela cidade e, mesmo quem porventura não goste da cidade (eu mesmo não sou um super-fã), passa a gostar.

E Owen Wilson é outra peça fundamental do filme. Com aquele seu jeito desarrumado, com seu marcante nariz torto e enorme ar de simplicidade, ele conquista a platéia com sua atuação de corpo e alma. Ele aceita a situação que vive com a maior tranquilidade, sem questionar muito, como se fosse a coisa mais natural do mundo. E é graças a ele que também conseguimos aceitar as viagens temporais (ou será que são sonhos?) sem fazer qualquer questionamento. Longe de ser um grande ator, Wilson, pelo menos comandado por Allen, é muito agradável; quase uma pessoa comum como nós. E talvez esteja aí o verdadeiro triunfo do filme.

Meia-Noite em Paris é um daqueles raros filmes que dá vontade de começar a ver novamente assim que acaba e nos obriga a combater um sentimento nostálgico que talvez nem saibamos que temos.

Meia-Noite em Paris concorre a quatro Oscar: Melhor Filme, Melhor Direção de Arte, Melhor Diretor e Melhor Roteiro.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 9,5 de 10

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