Finalmente! Precisou de um grande diretor (David Fincher) e de um grande roteirista (Steve Zaillian) para que conseguissem transformar o fraco (mas interessante) primeiro livro de Stieg Larsson da trilogia Millenium em um filme bom (ótimo na verdade) já que a tentativa sueca foi para lá de medíocre.
Mas eu tinha poucas dúvidas de que isso iria acontecer. Fincher está ainda para fazer um filme ruim (eu dou um desconto para Alien 3, sua estréia no cinema, pois a Fox notoriamente destruiu a visão do diretor). Aliás, é difícil ele fazer um filme que esteja abaixo de bom. O mesmo vale para Zaillian, que escreveu O Homem que Mudou o Jogo junto com Aaron Sorkin, O Gângster e A Grande Ilusão, dentre vários outros ótimos filmes.
Tudo o que faltou ao filme sueco está presente na versão hollywoodiana: arrojo visual, direção certeira e, principalmente, coragem para alterar o livro em momentos essenciais que não funcionaram nem no próprio livro nem na primeira versão cinematográfica. Fincher mostra a que veio logo na sequência dos créditos iniciais em que dá uma de "abertura de filme de James Bond" e nos apresenta a garota da tatuagem de dragão em meio a uma espécie de líquido negro "vivo", criado em bela computação gráfica, tudo isso com música de Trent Reznor e Atticus Ross ao fundo. Funciona como uma espécie de lembrança que o que estamos prestes a ver ficará em nossa memória.
Para os poucos que não conhecem a estória, vale uma recapitulação.
Mikael Blomqvist (o carismático 007 Daniel Craig), um famoso jornalista sueco, perde uma briga judicial contra Hans-Erik Wennerström (Ulf Friberg) por conta de um artigo que escreveu acusando o milionário dos mais variados crimes. Blomqvist sabe que merece a condenação pois não fez o dever de casa corretamente e saiu escrevendo sobre fatos não verificados. No entanto, por outro lado, Blomqvist sabe que Wennerström é sujo. Condenado a pagar uma indenização que acabará com todo seu colchão financeiro, o jornalista teme pelo futuro de sua publicação, Millenium, que certamente terá sua reputação abalada pela besteira que fez. Entra, então, Henrik Vanger (Christopher Plummer), um ex-industrial que contrata Blomqvist para investigar a morte de sua sobrinha Harriet (Moa Garpendal) há 40 anos por alguém da família, como ele desconfia. Para convencer Blomqvist, Vanger diz que tem provas contra Wennerström e as entregará ao final da investigação.
De forma a permitir que Blomqvist entreviste os demais membros da família Vanger, quase todos vivendo em região isolada da Suécia, Vanger diz que Blomqvist está escrevendo sua biografia. Mais para frente, Blomqvist recebe a ajuda de uma super-hacker de aparência muito estranha e cheia de tatuagens e piercings chamada Lisbeth Salander (Rooney Mara).
Apesar do filme ser longo (158 minutos), Zaillian foi capaz de limar diversos momentos incongruentes do livro, criando uma narrativa mais enxuta que Fincher teve capacidade de converter em um filme que prende a atenção - e o fôlego - do começo até quase o fim. Para começar, eles mantiveram a estória na Suécia, sem americanizar nada de forma tão escancarada. Segundo, a estória pregressa e os dilemas morais de Blomqvist, para mim as partes mais interessantes do livro, são basicamente eliminadas do filme, fazendo com que nós mergulhemos diretamente na trama de investigação, violência e assassinato. Teria sido interessante ver os aspectos morais das escolhas de Blomqvist mas a objetividade de Fincher e Zaillian funciona muito bem também, extraindo e ampliando os aspectos mais, digamos, terríveis da obra de Larsson.
O requinte da fotografia e direção de arte do filme, passando um aspecto de frieza asséptica para contrastar com a torpeza moral de alguns personagens (ou de todos, dependendo de como você interpretar o filme) impressiona. Repare o uso das cores em todos de preto e branco e ocre. Tudo muito opressivo e triste, transmitindo, talvez, o que está por vir e o que já aconteceu no seio da família Vanger.
E a estória de Salander, aliás vivida magistralmente por Rooney Mara, entrecorta a de Blomqvist de maneira muito eficiente, com cortes bruscos, pesados (que por vezes causam estranheza, devo confessar), até que, mais para frente, os personagens convergem para um ponto só. Mas tudo isso não seria nada se Zaillian não tivesse tomado precauções para untar a estória, corrigindo grandes falhas do livro. Um exemplo claro é como ele liga o começo do filme ao seu segundo epílogo, envolvendo Wennerström. Da mesma maneira, Fincher, em seu melhor estilo Seven, consegue ser extremamente brutal nas duas grandes cenas entre Salander e seu guardião, Nils Bjurman (Yorick van Wageningen) e, novamente, sem largar a narrativa mais para a frente, no desenrolar do filme.
Fincher termina o filme de maneira diferente do livro onde interessa mas poderia ter ido além e cortado o segundo epílogo, com Salander se transformando quase que literalmente em um 007 feminino. Eu até entendo a necessidade desse final mas teria ficado mais feliz se ele durasse apenas uns 2 ou 3 minutos, durante os créditos finais. Tornaria o filme mais ágil, curto e satisfatório. Mas nem Fincher é perfeito, não é mesmo?
Millenium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres concorre a cinco Oscar: Melhor Atriz, Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som.
Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.
Nota: 9 de 10
Sem palavras... sem folego... fiquei tensa demais! É um filme pra não colocar defeito.
ResponderExcluirASdorei sua crítica.
ResponderExcluirate vc entrar na sinpse do filme demora nao? cansa ficar lendo lendo ate chegar no que interessa que e o filme. o resto e irrelevante
ResponderExcluirAchei a crítica meio tendenciosa, nunca que esse filme vai ultrapassar o livro. Aliás, david fincher pegou uma obra prima e transformou em um típico thriller americano e enlatou pra ser consumido em massa.
ResponderExcluirNão entendi. Eu disse que achei o livro fraco e que o filme é bem melhor e não o contrário. E, na minha opinião, esse filme está longe de ser um enlatado americano... Fincher não costuma fazer enlatados...
ExcluirGostei muito mais da versão sueca. Sempre bom ver filmes bem feitos por outros países!
ResponderExcluirA versão de Fincher é muito melhor que a sueca.
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