Histórias Cruzadas é um filme no mínimo estranho pois trata do grave problema do racismo em pleno Mississipi da década de 60 sem realmente entrar em seus detalhes mais sórdidos e nos eventos mais chocantes. Baseado em bestseller literário homônimo de 2009, escrito por Kathryn Stockett, o filme tem a tendência de abordar o racismo mostrando apenas as questões mais superficiais como o banheiro construído unicamente para empregadas negras, sem realmente chocar a platéia. Mas talvez esse tenha sido o objetivo.
O filme é o resultado de um esforço conjunto de um elenco feminino estelar (não há papéis masculinos relevantes), encabeçado por Viola Davis no papel de Aibileen Clark, uma empregada negra que perdeu o filho de 24 anos, na cidade de Jackson, no já citado estado americano. Ela trabalha na casa de Elizabeth Leefolt (Ahna O'Reilly) cuidando de Mae Mobley (Eleanor e Emma Henry), uma menininha de cachinhos loiros. Aibileen, tendo dedicado a vida toda a cuidar dos filhos dos outros, não conhece outra vida. Sua melhor amiga é a falastrona e cabeçuda Minny Jackson (Octavia Spencer), empregada na casa da insuportável e extremamente racista Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard), que vive com sua mãe, Missus Walters (Sissy Spacek).
Tudo começa a mudar quando, de um lado, Skeeter Phelan (Emma Stone, a futura Gwen Stacy do Homem-Aranha de Marc Webb) volta da faculdade para conseguir um emprego no jornal local e, de outro, quando Minny, conhecida por seus excelentes dotes culinários, força sua demissão da casa de Hilly, por ousar utilizar-se do banheiro "dos brancos". Skeeter, uma garota que foi criada por sua adorada empregada negra Constantine (Cicely Tyson), resolve encantar uma editora de Nova Iorque (Elain Stein, vivida por Mary Steenburgen) escrevendo um livro sob o ponto de vista das empregadas. Para isso, consegue arregimentar a relutante ajuda de Aibileen, que começa a contar suas estórias. Em paralelo, Minny vai trabalhar na milionária casa de Celia Foote (Jessica Chastain) que, por ser forasteira, ter casado com um local rico que, por sinal, era noivo de Hilly e ter modos, digamos, fora da linha da educação da cidade, é ignorada e odiada pelas demais mulheres.
É muita gente, muitas estórias acontecendo ao mesmo tempo. O foco do filme, apesar de ser a criação do livro, com os depoimentos de Aibileen e, depois, de Minny, também trata dos vários outros aspectos: a relação de Aibilleen com Mae Mobley; a relação de Skeeter com sua mãe e sua aparente incapacidade de conseguir namoradas; a relação dominadora de Hilly com todas as demais mulheres jovens da cidade e com sua mãe já idosa; a relação - ou falta de relação - de Celia com as demais mulheres da cidade, além de sua incapacidade de ter filhos. Isso sem falar na relação de Aibileen com Minny e de cada uma delas com Skeeter.
Esse emaranhado de estórias, que plenamente justifica o título em português, acaba sendo responsável pela enorme duração de 146 minutos desse filme. O diretor e roteirista, Tate Taylor, até tenta mas não conhece manter coesa a massa de relações diferentes e, a partir da segunda metade, sentimos o ritmo acelerar-se, não por necessidade da trama mas sim para permitir que as estórias cheguem a algum fim satisfatório. Não é que o filme se perca. Não. O diretor consegue manter a separação e, por vezes, a inter-relação entre as estórias mas acontece que umas são muito mais interessantes que as outras e sua tentativa de dar à todas o mesmo número de minutos de tela acaba por retirar o impacto das questões realmente importantes, especialmente o racismo e preconceito prevalentes.
Essas várias estórias talvez sejam características do material fonte e creio que a visão leve do grave problema do racismo também. O filme tem cores vibrantes e personagens - em sua maioria - unidimensionais demais para esse tipo de drama. Skeeter é sempre boazinha, enquanto que Hilly é vilanesca ao ponto de fazer com que a enfermeira Ratched de Um Estranho no Ninho pareça uma amadora. Celia Foote é uma bobalhona inocente que não consegue fazer nada sozinha, nem mesmo entender o porquê de ser odiada na cidade.
Acaba que os únicos dois personagens que realmente se salvam são Aibileen e Minny e, mesmo assim, estou sendo benevolente pois Minny é mais uma espécie de alívio cômico, uma contra partida à complexidade de Aibileen, do que propriamente um personagem completo. Não que o papel de Minny seja ruim. Não é isso. Octavia Spencer está irretocável nele. Apenas acho que a seriedade do assunto merecia, talvez, um tratamento menos leve, ainda que eu tenha entendido o objetivo do filme.
Já Viola Davis tem para si o melhor e mais complexo personagem de Histórias Cruzadas e sua atuação está à altura. A atriz consegue demonstrar contenção, sutileza e uma profunda tristeza no papel de Aibileen. Ela sim representa toda o opressão dos negros naquela época, até hoje sentida.
No final das contas, apesar dos pesares, Histórias Cruzadas é um filme digno. Tenta fugir de uma abordagem mais pesada, preferindo agarrar-se a estereótipos um tanto cansativos mas que, em última análise, até consegue passar seu recado. Fica o destaque para Davis e Spencer em suas respectivas atuações, no entanto.
Histórias Cruzadas concorre a quatro Oscar: Melhor Filme, Melhor Atriz (Viola Davis) e duas vezes Melhor Atriz Coadjuvante (Octavia Spencer e Jessica Chastain).
Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.
Nota: 7,5 de 10
Acho que gosto não se discute e o nome do seu blog já diz tudo. Achei The Help um filme lindo, a proposta não era entrar na discussão sobre racismo propriamente dito, mas mesmo assim, isso não foi ignorado, a proposta, a meu ver, era abordar as relações humanas atravessadas por questões culturais de outras épocas (que, às vezes, parece ainda ser esta época). Aí está a sutileza desse filme. Pode ser uma crítica mulherzinha, mas quando li sua crítica a Meia-noite em Paris, aceitei a máxima "gosto não se discute mesmo"! Mas respeito muito a opinião alheia, talvez não o que você disse sobre pessoas escreverem idiotices, porque considerei grosseria de alguém que se autointitula "metido a crítico", logo, sujeito a escrever idiotices... Mas, enfim, a arrogância persegue a todos, alguns conseguem ser fortes e resistir, outros se rendem, pena que alguns que se rendem, nem sempre, deveriam ser arrogantes...
ResponderExcluirLaura, eu também respeito opiniões, todas elas. O que não respeito é gente vindo aqui dizer que eu sou um imbecil porque escrevo isso ou aquilo. Não é seu caso, óbvio. No entanto, quando digo "idiotices", quero dizer esses xingamentos sem sentido (eu não faço isso pois sou acho que sou civilizado). Já recebi vários xingamentos até piores aqui. O que coloco na mensagem de postagem é só uma de remédio contra esse tipo de "idiotice" dos outros. Esclarecido?
ExcluirSobre seus comentários do filme, repare que eu gostei de The Help. Você gostou mais, aparentemente e acho isso ótimo. Mas tenho para mim que o filme tem suas falhas. E ele não é nada sutil para mim, muito pelo contrário. Daí minha nota 7,5.
Sobre Meia-Noite em Paris, eu não entendi. Você não gostou do filme? Eu dei 9,5 e olha que nem gosto dos filmes do Woody Allen normalmente. Se você não gostou, seria interessante saber o porquê.
É, realmente, vc é METIDO A CRÍTICO! Acho que vc não entendeu o filme, ele não mostra questões superficiais, ele mostra um lado da história. O lado das mulheres e das mulheres empregadas negras! Como vc mesmo ressalta ele não da destaque para os homens, acho que vc sentiu falta disso, né?! Vc deve ter achado uma história muito pra mulherzinha! Fico me perguntando como fazer um banheiro exclusivo para uma pessoa, para que esta não venha utilizar o mesmo das demais pessoas da casa, possa ser um coisa superficial?!!! O foco do filme não é fazer o livro, mas sim a historia de cada uma daquelas mulheres e o que aconteceu, acontece e ira ocorrer com cada uma. Não as vejo como um "emaranhado", acho que ele conseguiu, sim, deixar com que as historias de cada uma fluíssem sem ser uma coisa cansativa e só serviu para entendermos melhor a historia e o porquê de cada uma ser como é, e ele não queria mostrar o racismo, só o usou como plano de fundo para as historias, para liga-las. Achei que todas fizeram papeis ótimos com destaque claro para Viola Davis e Bryce Dallas Howard que estão extremamente... não tenho nem palavras para defini-las. Só um ultimo ponto que achei, particularmente, interessante, foi que, não é mostrado a história de Skeeter com a sua empregada. Esse, sim, é um ponto negativo do filme. Eu fiquei esperando pra saber o que ela teria pra falar, já que ela era uma defensora das empregadas e amava tanto a sua cuidadora!!!! E se vc fala o que quer ouve o que não quer, então se não quer escultar o que as pessoas tem a dizer era melhor não ter criado esse blog. Que frase RIDÍCULA é essa: "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."
ResponderExcluirEu não xinguei ninguém e não mereço ser xingado. Apenas dei minha opinião sobre um filme que vi e cuja nota foi boa, ou seja, 7,5. Não entendi o ataque histérico que você deu acima, com todo respeito. Veja mais filmes sobre preconceito racial e você notará a pegada "pop" desse. Respire, acalma-se e discuta civilizadamente. Abraço, Ritter.
ExcluirRealmente.O nome do seu blogue diz tudo,é evidente que o filme não tinha a intenção de chocar o tema da forma mais bruta pois essa já foi muito explorada,mostra um lado muito interessante da história da segregação racial de forma leve mas não menos importante ou chocante,a intenção era essa e eu o achei um belo filme,e todas as atuações foram muito boas ,cada um fez sua parte absurdamente bem.
ResponderExcluirSe você precisar de idiotas para ter sucesso ,isso significa que você é tão idiota que precisas de outros para conseguir o que quer,fika dika,nen todas as frases de efeito são boas ou dignas ou verdades absolutas ,esta então fez sucesso por causa de pessoas que precisam acreditar nisso ou seja?.
ResponderExcluirAmei o filme sua critica, seu blog e a mensagem abaixo.É impossível agradar a todos ne rrs
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