quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Crítica de filme: Moneyball (O Homem que Mudou o Jogo)

Não entendo absolutamente nada de baseball. E olha que assisti a jogos pela televisão e também ao vivo em um estádio americano com um amigo de lá viciado pelo jogo me explicando cada jogada. No entanto, não sei o que filmes com baseball na trama têm que é difícil eu desgostar de algum. Adorei o filosófico Campo dos Sonhos, o divertido Uma Equipe Muito Especial, o engraçado Major League, os dramáticos Bull Durham e Fora da Jogada e por aí vai. Poderia listar vários outros. Moneyball, vale logo deixar claro, não foge à regra.


A estória do filme foi adaptada do livro Moneyball: The Art of Winning an Unfair Game (algo como Moneyball: A Arte de Ganhar um Jogo Injusto) de Michael Lewis que conta uma estória verdadeira muito recente, de 2003, sobre o gerente geral do time Oakland Athletics, Billy Beane. Beane, vivido por Brad Pitt, não tem muita saída. Acabou de sair de um campeonato em que foi eliminado pelo New York Yankees e seus três melhores jogadores saíram. Sem dinheiro, Beane começa a tentar comprar jogadores para substituir as perdas mas, em uma reunião com o pessoal do Cleveland Indians, depara-se com o jovem Peter Brand (Jonah Hill) que tem ideias novas sobre baseball e acaba contratando-o como seu assistente.

Basicamente, Brand usa uma equação matemática derivada da técnica conhecida como sabermetrics, que significa ignorar aspectos subjetivos na montagem de um time e olhar, apenas, para o lado científico, puramente matemático, baseado em estatísticas. Assim, pouco importa se determinado jogador é mulherengo e instável mas importa muito se ele tem uma boa percentagem de aproveitamento em arremessos em jogos. Em última análise, é um método para escolher, estatisticamente, os jogadores que representem melhor relação de custo-benefício. Com isso, Beane, sofrendo pressões enormes dos experientes olheiros (scouts) do Oakland Athletics, que se sentem relegados ao segundo plano, monta um time barato que é visto como perdedor certo. O resto é história e o filme mostra claramente se a estratégia de Beane e Brand dá ou não certo, pelo que vou parar de contar o filme por aqui.

Mas Moneyball não é exatamente um filme sobre baseball. Apesar do jogo estar presente a cada segundo do filme, pouco importa, para sua apreciação, se você entende ou não as regras ou se gosta ou não do esporte. O espírito mesmo é contar uma estória de superação, de coragem de quebrar paradigmas e enfrentar velhos hábitos, doa a quem doer. Beane foi ele mesmo um jogador que foi pinçado ainda na época de escola por olheiros. Ele sabe como o sistema funciona e sabe também o que não funciona. Ao se deparar com os comentários de Brand, ele consegue aquilo que precisava - e talvez já sentisse lá no seu âmago - para mudar a forma como o baseball é jogado (daí o título em português). Ele enfrenta até mesmo o técnico do time (Art Howe, vivido por Philip Seymour Hoffman) que se recusa a escalar os jogadores aparentemente ruins que compra.

A coragem de Beane, que ameça sua carreira com suas atitudes vistas como inimagináveis, é notável e uma verdadeira lição de vida. Mostra que ficar sentado repousando em berço esplêndido é, no mínimo, uma atitude covarde, mesmo diante de um modus operandi centenário. Ter a coragem de mudar e implementar essas mudanças apesar de todos os pesares é o motor que leva à revoluções e Beane tinha total consciência disso.

Apesar da mensagem edificante, porém, Moneyball não chega verdadeiramente a empolgar. Bom, na verdade, talvez eu esteja sendo injusto. Há um jogo, mais para o final do filme, que é sensacional na forma como ele nos é mostrado. Não há trilha sonora, Beane nem mesmo está no estádio (ele não assiste aos jogos!) mas, quando ele decide ir, tudo começa a dar errado. A tensão é excelente e a resolução da cena é brilhante. No entanto, o roteiro de Aaron Sorkin e Steven Zaillian peca um pouco por contar estórias paralelas que não impulsionam verdadeiramente o filme (como a relação de Beane com sua filha) e por manter o mesmo tom ao longo de quase todo o filme. Mas eu diria que essas são reclamações menores, que são facilmente soterradas pelo impacto geral do filme quando martela sua moral em todos os momentos anteriores.

Brad Pitt está bem no papel e apenas isso. Não acho que seja pela incapacidade do ator em mostrar um grande trabalho mas sim porque seu papel não exige isso. Talvez Beane seja assim mesmo: um cara que pouco demonstra emoção. Hill também está eficiente no papel do jovem Brand mas, novamente, não é uma atuação especialmente marcante.

Moneyball concorre a seis Oscar: Melhor Filme, Melhor Ator (Brad Pitt), Melhor Ator Coadjuvante (Jonah Hill), Melhor Edição, Melhor Mixagem de Som e Melhor Roteiro Adaptado.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 8,5 de 10

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Há vezes que eu fico decepcionado comigo mesmo quando saio do cinema, após ver um filme bem aclamado pela crítica, com um sentimento diferente do que os críticos descreveram em suas críticas. Não vi nada de especial em Moneyball. Assim como você, senti muita falta da trilha sonora no filme. Talvez a emoção tivesse sido melhor trabalhada com uma trilha sonora e não só o silêncio. Esperava bem mais desse filme. Ele é bom, e nada além de bom. =/

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  3. @ Bruno Melo:

    Obrigado por prestigiar meu blog!

    Um conselho: nunca fique decepcionado por achar algo diferente da maioria. Volta e meia isso acontece comigo e não há problema. Metade do "gostar" ou não de um filme está na impressão de momento, logo depois de sair do cinema. Recentemente, isso aconteceu comigo com O Artista. O filme, para mim, não é nada demais, apesar da adoração quase que unânime...

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  4. Gostei muito da análise, me deixou com vontade de assistir o filme.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."