domingo, 18 de abril de 2010

Crítica de filme: Clash of the Titans (2010) (Fúria de Titãs 2010)


Sou um fã do Fúria de Titãs original. Adoro todos os personagens, especialmente a coruja metálica Bubo. O filme foi lançado em 1981 e dirigido pelo inexpressivo diretor Desmond Davis. No entanto, o filme tinha como estrelas os fantásticos Sir Laurence Olivier (Zeus), Claire Bloom (Hera), Maggie Smith (Thetis) e Ursula Andress (Aphrodite). Todos deviam, claro, estar precisando de uma graninha lá pelo começo da década de 80, caso contrário não teriam aceito papéis em filme decididamente B, com um roteiro tenebroso. Ainda por cima, todos eles são coadjuvantes em relação a Harry Hamlin, no papel de Perseus. Hamlin é um ator de uma nota só, completamente inexpressivo e quase uma caricatura de si próprio.

Mas o sensacional mesmo do original foi o trabalho em stop motion de Ray Harryhausen. Harryhausen, para quem não sabe, é o mestre dessa técnica e nos brindou com filmes como Simbad and the Eye of the Tiger, The Golden Voyage of Simbad, One Million Years B.C., Jason and the Argonauts e muitos, muitos outros. Sua técnica é impressionante e todo o filme em que ele trabalhou é, no mínimo, um prazeroso show visual.

No Fúria de Titãs original, Harryhausen animou não só a mencionada coruja metálica Bubo como, também, a Medusa, os escorpiões e o Kraken. São todos de tirar o fôlego ainda que, claro, pelos padrões hollywoodianos pasteurizados de hoje em dia, os mais jovens certamente acharão tudo uma porcaria. Não sabem o que estão perdendo.

Bom, como estava nos EUA no dia de estréia do novo Fúria de Titãs por lá (que só estréia dia 21 de maio por aqui), tratei de ir ao cinema, claro. Procurei assistir na melhor rede de cinemas existente, a Arclight Cinemas. Quem tiver a oportunidade de ver um filme nessa rede, especialmente no The Dome em Los Angeles, não vai querer outra coisa.

Mas eu divago. Tinha boas expectativas para o novo Fúria de Titãs pois gostei muito dos trailers e confio em Louis Leterrier, um diretor menor mas que fez bons filmes como Transporter 1 e 2, Danny the Dog e The Incredible Hulk. Nada assim sensacional mas, em linhas gerais, um bom currículo de ação. Obviamente que, apesar disso, estava com um pé atrás por se tratar de um remake de um de meus filmes favoritos (sim, favoritos). Fiz meus comentários sobre remakes aqui e já dá para sentir o que eu acho deles.

De toda forma, o que vi agradou a criança em mim e fez o adulto se arrepiar. A criança em mim se divertiu muito com a pancadaria interminável que é esse filme, com muitas espadas, lanças, flechas, monstros bacanas e mitologia grega misturada com mitologia nórdica (o Kraken, monstro principal do filme, é exclusivo da mitologia nórdica, erro tão absurdo que chega a ser engraçado, mas que vem desde o original de 1981).

A estória, para quem não sabe, nos mostra Perseus, semi-deus que é convocado a ajudar os humanos para destruir o monstro Kraken e salvar Andrômeda, passa por aventuras na Grécia contra figuras mitológicas. Não é muito mais do que isso.

Como disse, o adulto em mim sofreu bastante com o filme mas vamos começar pelo lado bom.

Primeiro, a estória da "origem" de Perseus é mais coerente nesse filme do que no original. Apesar de ela não ser contada de forma cronológica, a remontagem que podemos fazer na cabeça dá muito mais propósito à estória do que a mal ajambada desculpa do filme original.

Os efeitos especiais, apesar de não serem stop motion, claro, são muito bons e, de certa maneira, homenageiam Ray Harryhausen. Basta ver a eletrizante - e longa, muito longa - cena de batalha com os escorpiões gigantes. Eles são claramente fruto de computação gráfica mas uma computação gráfica que dá a impressão que são animatrônicos. Achei esse toque muito bacana e bem vindo.

Outra luta que impressiona é com a Medusa. Agora, o monstro é extremamente ágil e a cena é genuinamente cheia de suspense (dentro do que um filme de ação como esse permite, claro).

Infelizmente, o lado bom acabou aí.

O filme, apesar de nos apresentar uma estória um pouco mais coerente em relação ao Perseus, simplesmente não tem roteiro. Por que Zeus (Liam Neeson, um tanto quanto deslocado nesse filme, na mesma linha de Laurence Olivier no original) ajuda Perseus? Não me convenceu que o mero parentesco entre os dois seja suficiente para justificar as ações do deus supremo já que ele, basicamente, coloca o filho contra seus próprios interesses.

Depois, a motivação de Perseus é para lá de idiota. Ele tem que matar o Kraken não especificamente para salvar Andromeda (Alexa Davalos) - ainda que isso seja um efeito colateral - mas sim para poder se vingar de Hades (Ralph Fiennes), sem deixar claro exatamente como.

Além disso, Perseus deixa muito claro que é um pescador e nada mais, não tendo nem mesmo tocado em armas. No entanto, em questão de dias, Perseus se transforma em um guerreiro nato. A explicação que tentam dar é que ele é um semi-deus, como se o simples fato de ser semi-deus significa que a pessoa automaticamente é um guerreiro (Baco é um deus e não é um guerreiro, muito pelo contrário...). O treinamento dele com o guerreiro Draco (Madds Mikkelsen, o ótimo Le Chiffre de Casino Royale) é patético. Leva três minutos, sendo que Perseus consegue segurar os golpes do super tarimbado soldado já na primeira tentativa, desarmando-o (!!!) na segunda.

E como explicar Io? Trata-se de personagem importante que não existia no filme original. Talvez seja uma substituição à coruja Bubo que, aliás, aparece por alguns segundos no filme. Io é uma misteriosa mulher (Gemma Arterton) que diz acompanhar a vida de Perseus. Ela o guia e o ajuda em sua jornada mas os dois, de maneira muito estranha, começam a se aproximar romanticamente. É algo inesperado e completamente deslocado no filme. O final dela, então - não vou contar, fiquem tranquilos - é ridículo, de fazer rir.  É um genuíno momento "What the fuck?"...

Ralph Fiennes, coitado, faz o único deus que não se veste com brilhantes armaduras, mas sim com uma túnica preta bem surrada. Acho que a Warner quis economizar e aproveitou o figurino do ator na série Harry Potter pois, desde o primeiro momento em que ele aparece, não consegui deixar de pensar em Voldemort...

O ator principal, Sam Worthington (o cara está em todas, não?) é o perfeito equivalente a Harry Hamlin do original: um ator de ação sem nenhuma sutileza que só tem duas caras, zangado e mais zangado.

Mas o Oscar de personagem sub-aproveitado fica mesmo com Calibos (Neil McCarthy). No original, ele é, basicamente, o vilão principal. No remake, ainda que sua origem seja mais interessante pois está amarrada com a de Perseus, ele aparece em cena duas ou três vezes e, sinceramente, não é lá uma ameaça tão grande.

E o clímax com o aparecimento do Kraken? Bom, posso dizer que os efeitos especiais são sensacionais e o monstro muito bacana. No entanto, são uns 15 minutos para o monstro apenas se levantar da água. Sim, 15 minutos só disso. Ok, tem muita destruição nesse processo mas, mesmo assim, é tempo demais. Quando ele finalmente se levanta, o filme literalmente acaba. E esse era o monstro que derrotou os Titãs mencionados no começo do filme... Que porcaria, hein?

O novo Fúria de Titãs, sem dúvida alguma, apesar de seus enormes defeitos, diverte. Deixe seu cérebro na porta e assista-o esperando muito pouco. A maior vantagem dele é fazer com que aqueles que cresceram com o original façam uma "viagem no tempo" e, após sair do cinema, queiram ver Bubo novamente.


Nota: 5 de 10

6 comentários:

  1. Na mitologia grega existe uma figura igual ao kraken, so que o seu nome verdadeiro é ceto.

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  2. Legal sua critica

    so que em relação ao filme original esse ai da ate raiva de assistir!

    achei muito ruim eles terem tirado o bubo,

    Cade os enigmas o urubu gigante, Thallo, o escudo, as bruchas, nossa praticamente tudo!

    decepcionado com o filme!

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  3. Segundo a mitologia grega Perseus é filho de Zeus com a filha de Acrisio ....no filme ele é filho da esposa de Acrisio! Perseu na mitologia é o neto de Acrisio!! Errooooo

    e a Bubo jogadaaaaaa literalmente de lado no filme....odiei!!!
    ahh e tempo gasto ao Kraken!

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  4. Acabei de voltar do cinema, assisti em 3D, e cara a sua recomendação de deixar o cérebro na porta... é exata. Era o que eu devia ter feito.
    Mas me diverti sim, adorei as cenas do Hades (as aparições são incríveis) e do Draco (Mads Mikkelsen é sensacional: "When I spit in gods eyes, then i will smile" foda).

    Mas o franboesa de ouro vai pro Sam Worthington, pô normal, nem eu acreditei no personagem, mas porra, o cara ganhou pra isso, custava tentar não ser um puta dum canastra?? Mads Mikkelsen é um ator sérião e topou de boa toda aquela viagem. Sam Worthington é bom ator com a pele azul, olho amarelo e bem longe da terra.

    Eu esqueci que era o diretor do Hulk, que era remake...esqueci. Como não assisti o original trashão, fiquei me perguntando: mas aquela porra de coruja, era o que?

    E ah, hora do historiador chato, Cetus da Mit.Grega é o "Kraken".
    O nome é forte, Cetus não é tão sonoro quanto "RELEASE THE KRAKEN!"

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  5. O super critico lê chifre e de casino royale o cara que sangra os olhos e joga poker com james bond e nao do quantum of solace fica a dica super critico

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."