quarta-feira, 28 de abril de 2010

Club du Film - 5.40 - Der Letzte Mann (A Última Gargalhada)

Der Letze Mann (O Último Homem, em tradução literal) foi o sétimo filme do 5º ano do Club du Film (mais sobre o Club ao final desse post). Assistimos ao filme no dia 02.03.10.

O filme foi dirigido pelo alemão F.W. Murnau, o mesmo do magistral Nosferatu, de 1922. Feito em 1924, Der Letzte Mann conta a estória de um porteiro de hotel (sem nome) encarnado pelo então famoso ator Emil Jannings. Ele tem extremo orgulho do que faz pois usa uma farda e porta um enorme e bem cuidado bigode. Seu emprego impões respeito no cortiço onde mora, sendo a razão principal para todos os seus vizinhos o tratarem com reverência. No entanto, um dia, quando está ajudando clientes do hotel com pesadas malas, o pobre porteiro, já com certa idade, sente dores nas costas e para por alguns segundos para tomar um gole d'água. Isso é suficiente para o gerente do hotel vê-lo dessa maneira e substituí-lo logo no dia seguinte, colocando-o na função de faxineiro de banheiro. O mundo do orgulhoso porteiro literalmente desaba e ele acaba furtando a farda para evitar o escárnio de seus vizinhos. Obviamente que o segredo vaza e o porteiro acaba se reduzindo à uma triste imagem de um velhinho sem motivo para viver.

A estória é simples mas o filme é de uma beleza inacreditável. Primeiro, apesar de ser 1924 e as câmeras de filmar ainda serem bastante grandes e incômodas, Murnau dá leveza à elas, fazendo-as andar pelos cenários, descer de elevador, atravessar vidraças e portas giratórias. É impressionante sua técnica, não deixando nada a dever aos filmes modernos que, muito claramente, beberam dessa fonte maravilhosa.

Segundo, esse filme mudo é o único filme de longa metragem verdadeiramente mudo. Não há nenhum uso de inter títulos com legendas explicando o que está acontecendo (há uma solitária exceção que tratarei mais a frente). Tudo acontece, tudo é contado, tudo é exposto apenas e tão somente com imagens. É uma aula de cinema como raramente se vê hoje em dia em que cada cena tem que ter duas narrativas de fundo, flashbacks, remontagens e muita pirotecnia para que todos entendam cada detalhe do que está ocorrendo. Em Der Letzte Mann, a sutileza e a precisão das imagens é tudo.

Terceiro, Emil Jannings está inacreditável no papel do porteiro. Ele começa grandalhão, peito estufado, sorriso no rosto e vai, aos poucos, definhando até a figura patética sentada em um banquinho no banheiro dos fundos do hotel. Dá verdadeira tristeza ver a transformação. Muitas desgostam de filmes mudos não só pela ausência de falas mas, especialmente, pelo aspecto caricatural da atuação dos atores. E é verdade que isso ocorre mas a explicação é simples: pelos idos dos anos 20, as técnicas de filmagem ainda não eram perfeitas o suficiente para captar todos os detalhes de uma atuação, fazendo com que os atores fossem forçados a atuar de forma teatral. Também nessa linha, estamos falando de atores muitos deles oriundos do teatro, ainda com grande presença no cotidiano das pessoas e o "ranço" teatral se faz presente em muitos papéis. No caso do porteiro de Jannings, porém, essa atuação exagerada no começo faz parte da personalidade do personagem tanto que, ao ser necessária a suavização dos gestos e das expressões, Jannings consegue tirar de letra, mostrando que era um ator completo. Tem muito ator moderno que se diz verdadeiro ator que deveria assistir esse filme várias vezes por semanas a fio...

Sobre o único inter título, vale um aviso para quem quer ver esse filme ainda sem que eu estrague o prazer: COMENTAREI SPOILERS A SEGUIR.

Vocês foram avisados.

Murnau acaba seu filme verdadeiro com o espírito do porteiro completamente massacrado pelo acontecimentos do filme. Ele é uma sombra do que era e o filme deveria efetivamente acabar assim. Por pressão dos produtores, porém, Murnau foi obrigado a filmar um final feliz completa e absurdamente improvável e ele usa o inter título para explicar ao espectador a razão de ter feito isso. Lidas as legendas, vemos o porteiro milionário, após ganhar uma inesperada herança, comendo quilos de comida no restaurante do hotel, sob o olhar furioso de seu ex-chefe. É esse final que é referenciado nas traduções americana e brasileira do título original alemão.

Esse final estraga o filme? Certamente que não. Murnau explica tudo antes e torna o que acontece depois uma curiosidade apenas, algo que, tristemente, vem acontecendo mais e mais especialmente em filmes americanos: a introdução do deus ex machina para mudar completamente o final de filmes tristes e pesados.

Sobre o Club du Film:

Há pouco mais de quatro anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como "Club du Film". Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São mais 102 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo.

Notas:

Minha: 9,5 de 10
Barada: 7,5 de 10

Um comentário:

  1. Der letzte Mann é um tema Nietzscheano e está ligado ao enigma da morte de Deus.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."