domingo, 11 de abril de 2010

Club du Film - 5.37 - Ugetsu Monogatari (Contos da Lua Vaga)

O Club du Film (mais sobre ele ao final desse post) completou 4 anos de existência no dia 29.12.2009, quando assistimos Rouge (A Fraternidade é Vermelha), o terceiro filme da Trilogia das Cores do diretor polonês Krzysztof Kieslowski.  Rouge foi, na verdade, o primeiro filme do 5º ano. Mas consideramos toda a trilogia como uma sessão apenas, para não fazer muita confusão na contagem de filmes. Assim, Ugetsu Monogatari foi o quinto filme do 5º ano e o quarto do ano de 2010, pois o assistimos no dia 26.01.10.

Ugetsu é um sensacional filme japonês dirigido por Kenji Mizoguchi e lançado em 1953. Trata-se, de forma bem simplista, de uma estória de fantasmas. Mas, claro, chamar Ugetsu de um filme de fantasmas, não dá a dimensão do que ele é de verdade.

Trata-se da estória de Genjurô (Masayuki Mori), uma ceramista em pleno Japão feudal do século XVI. Nessa época, o Japão passava por um destruidor período de guerras civis e Genjurô descobre que pode fazer fortuna com seus potes de cerâmica. Seu vizinho Tobei (Eitarô Ozawa) não acredita muito nele e só pensa em ser um samurai e ir para a guerra. Tobei, no entanto, não tem dinheiro para comprar o material necessário e acaba se juntando a Genjurô na empreitada de cozinhar potes de cerâmica para vendê-los na cidade próxima. Suas respectivas esposas, Myiagi (Kinuyo Tanaka) e Ohama (Mitsuko Mito), no entanto, estão preocupadas com o vindouro ataque dos soldados ao seu vilarejo. Os quatro mal escapam e, no dia seguinte, voltam para recuperar seu potes e panelas e passam a vendê-los em uma cidade do outro lado do lago. Ao atravessarem o lago - em belíssima tomada, aliás - eles se depararam com os horrores da guerra e isso fica como um aviso para o futuro deles. Por causa disso, Genjurô deixa seu filho e esposa às margens do lago e promete voltar em alguns dias.

Ao chegarem na cidade e fazerem algum dinheiro, separações ocorrem: Tobei compra sua roupa de samurai e, apesar dos apelos da esposa, se junta ao exército; Genjurô, por sua vez, vai entregar seus produtos em uma mansão ocupada por Lady Wakasa, uma estranha dama da aristocracia japonesa.

Tobei faz de tudo para crescer rapidamente entre os soldados e mente caminho acima, até se tornar um "reconhecido" samurai. Genjurô é enfeitiçado por Lady Wakasa, que o quer como marido. Lady Wakasa é o tal fantasma da estória e Genjurô, totalmente subjugado, passa a se deliciar com os conforto oferecidos. Os dois homens, basicamente, esquecem suas vidas anteriores e passam a vive fantasias. Obviamente, as ambições dos dois acaba levando a consequências graves que o fazem acordar para a realidade.

O filme tem uma fotografia belíssima em preto-e-branco e tem imagens impressionantes, como a já citada travessia do lago e, também, a cena em que Tobei descobre o que aconteceu com sua mulher. O final é puro lirismo e é belíssimo, fazendo qualquer marmanjo disfarçar as lágrimas.

A reconstrução de época pareceu-me impressionante, com detalhes sobre o vilarejo, a guerra e o mercado da cidade onde Genjurô e Tobei vão vender seus produtos que dão a impressão não só de veracidade mas, também, de uma árdua pesquisa do Japão feudal. Nada parece fora de lugar e aceitamos tudo com muita naturalidade, inclusive a aproximação de Lady Wakasa e de sua serviçal. Nada indica o aspecto fantasmagórico do filme a não ser, talvez, a cena do lago que, como disse, funciona como um prenúncio do que veremos pela frente.

A estória de fantasmas japonesa não é, normalmente, estória de horror como no ocidente. Os fantasmas são usados mais como alegorias e alguns são bons, com objetivos benignos na estória. O filme é, principalmente, um descortinamento e um estudo sobre a ambição e o quanto ela pode cegar os homens. É, também, uma estória de redenção e expiação.

Sobre o Club du Film:

Há pouco mais de quatro anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como "Club du Film". Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São mais 102 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo.

Notas:

Minha: 9 de 10
Klaatu: 9 de 10
Barada: 9 de 10
Gort: 9 de 10

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."