sábado, 6 de março de 2010

Crítica de filme: A Single Man (Direito de Amar)

Resolvi assistir a esse filme quase que exclusivamente pelo fato de Colin Firth estar concorrendo ao Oscar de Melhor Ator pois sabia que era uma estória envolvendo gays e, muito sinceramente, estou meio cansado desse tema, uma vez que os filmes mais recentes sobre isso são todos exagerados, caricatos e feitos para chocar, vide Brokeback Mountain e Milk.

O que vi foi uma surpresa total. Esperava mais do mesmo e me deparei com um brilhante filme de um diretor estreante, Tom Ford. Para quem não sabe, Tom Ford era, até 2004, um estilista que há 10 anos trabalhava na Gucci. Foi, basicamente, o responsável pelo rejuvenescimento da marca e é considerado como um dos mais importantes estilistas atuais. Largou tudo por várias razões e passou a se dedicar ao cinema. A Single Man é o resultado disso e que resultado!

Tratando de um dia apenas na vida de um professor britânico gay, radicado em Los Angeles, A Single Man é estética pura. Colin Firth vive George, o tal professor que, não tem muito tempo, perdeu seu "marido" em um acidente de carro. Esse episódio o traumatizou profundamente e o filme começa na exato momento em que ele decide se matar para se juntar ao amado.

Além de discutir a questão dos homossexuais na década de 60, mostrando como eles eram reprimidos e impedidos de se mostrar à sociedade, o filme nos apresenta  a um ritual fantástico de preparação para o suícidio e termina com um excelente e irônico final que, apesar de sério, acaba nos deixando com um sorriso de satisfação.

Mas os dois aspectos que realmente chamam a atenção são a atuação de Colin Firth e a direção de Tom Ford.

Colin Firth, um excelente ator, encontrou em A Single Man seu melhor papel. Não por acaso, ele concorre ao Oscar nessa categoria e, muito sinceramente, ainda que as chances dele sejam poucas diante do favoritismo de Jeff Bridges em Crazy Heart (que também merece o prêmio, vale dizer), eu diria que, dentre todos os concorrentes, ele é quem verdadeira e efetivamente merece a estatueta. Ele não faz o papel de gay aberto mas sim de um homem inteligente e contido mas que não deixa de transparecer seu homossexualismo nos momentos certos. Tendo sido impedido de ir ao velório de seu "marido", Jim (Matthew Goode, o Ozymandias de Watchmen, aqui e aqui), ele demonstra de forma sutil o sofrimento por que passa, sempre, porém mantendo a compostura. Colin Firth conseguiu fugir dos clichês dos papéis de homossexual e criar um personagem próprio, crível e com profundos sentimentos. E o mais bacana é que Firth ainda é acompanhado de uma atriz coadjuvante excelente, a atriz Julianne Moore, no papel de sua amiga de longa data Charley.

A direção de Tom Ford é outro destaque. Não só ele conseguiu extrair o máximo de Colin Firth como, também, usou de todo seu conhecimento de estética e nos apresentou um filme que só pode ser classificado de lindo, com uma reconstituição de época genial e especial concentração em elementos de design, das roupas dos personagens até a impecável casa e o excelente carro de George. Fora isso, Ford trabalhou com uma paleta de cores quase toda em tons de cinza, demonstrando não só a paranóia e tristeza de uma época em que a Guerra Fria estava em seu auge (a crise dos mísseis de Cuba permeia todo o filme) mas também e principalmente a tristeza de George. Em determinados momentos, as cores vivas voltam, muitas vezes em extremo close-up, para demonstrar os sentimentos de George em relação a determinadas pessoas, animais ou objetos. Para muitos isso pode ser uma maneira barata de se deixar transparecer os sentimentos mas, da maneira com Tom Ford faz, a sutileza impera.

Outro ponto para o diretor foi fugir dos clichês do gênero. Para começar, o filme dá, claro, preponderância às questões dos gays mas esse tema poderia ser, com pouca dificuldades, transposto para outras situações que não necessariamente tratam da chamada "minoria". O filme é mais sobre o desejo de viver do que sobre gays. Aliás, se a distribuidora nacional queria arrumar um título brega para filme, que pelo menos tivessem colocado Direito de Viver pois, como está, ele não faz muito sentido. A alternativa era só traduzir do inglês diretamente. Não é muito difícil.

De toda forma, esse filme deveria estar concorrendo ao Oscar de Melhor Filme pois não dá para entender sua ausência enquanto que coisas sem graça como The Blind Side estão lá na lista. Outros prêmios a que ele deveria concorrer era o de direção (no lugar de Lee Daniels de Preciosa) e fotografia (no lugar de Harry Potter 6).

Nota: 9 de 10

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