domingo, 7 de março de 2010

Crítica de filme: In the Loop

In the Loop ainda não tem previsão de estréia no Brasil e muito menos um título nacional. Ele concorre ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado (baseado na série britânica The Thick of It).

In the Loop, em poucas palavras, é uma sátira política engraçadíssima, daquelas de fazer a barriga doer de tanto rir. Ela mostra a incompetência tanto do governo britânico quanto do americano e o que a comunicação truncada entre os dois pode gerar. É uma espécie de Dr. Strangelove de menor escala e mais desbocado.

Armando Iannucci, escritor e produtor da série The Thick of It, dirige In the Loop quase que em estilo de mockumentary. O grande destaque do filme é seu roteiro afiadíssimo, atual, repleto de gírias bem britânicas (confesso que boiei em várias) e  extremamente ácido. Na verdade, os diálogos deixam claro o que o direitor e roteirista Iannucci acha dos políticos em geral. É mais ou menos o que nós, brasileiros, achamos também dos nossos políticos.

Outro ponto alto do filme é o personagem Malcolm Tucker (Peter Capaldi). Ele é um spin-doctor que poderia ser traduzido livremente para algo como manipulador de opinião. Ele tenta controlar o que sai da boca dos membros do governo britânico e, no caso de algo dar errado, não tem limites para torcer o que foi dito até que o resultado seja satisfatório. No entanto, Malcolm é um dos maiores bocas-sujas que já vi no cinema. Seu linguajar absurdo, envolve xingamentos e frases extremamente originais, tais como (sem tradução pois traduzir perde metade da graça):

- "Within your 'purview'? Where do you think you are, some fucking regency costume drama? This is a government department, not some fucking Jane fucking Austen novel! Allow me to pop a jaunty little bonnet on your purview and ram it up your shitter with a lubricated horse cock!"


- "Climbing the mountain of conflict"? You sounded like a Nazi Julie Andrews!"


- "Just fucking do it! Otherwise you'll find yourself in some medieval war zone in the Caucasus with your arse in the air, trying to persuade a group of men in balaclavas that sustained sexual violence is not the fucking way forward!"


E por aí vai. Chamar alguém de Julie Andrews nazista é simplesmente brilhante dentro do contexto do filme. O mesmo vale para os vários apelidos cinematográficos que ele dá a colegas, como "Ron Weasley", "bebê do Eraserhead" e "mulher de Crying Game". Eu podia estar abobado no dia em que assisti mas eu literalmente choreir de rir, ao ponto de ter que pausar o filme para não perder nada e conseguir recuperar o ar.

A estória? Bem, temos o Secretário Britânico de Estado para o Desenvolvimento Internacional, Simon Foster (o hilário Tom Hollander), falando enormes besteiras sobre eventual possibilidade de guerra. Ele é um idiota que não consegue ficar quieto e acaba soltando declarações bombásticas toda vez que é entrevistado (está no cargo há apenas 48 horas) e, com isso, acaba arrumando amigos e inimigos em Washington. Nos EUA, temos James Gandolfini (o Tony de The Sopranos), um general pacifista que, junto com a Secretária Assistente para Diplomacia Karen Clarke (Mimi Kennedy) tentando impedir a guerra e, do outro lado, o  Secretário Assistente de Política Linton Barwick (David Rasche), tentando fomentar a guerra. Todos querem usar as declarações imbecis de Simon Foster para defender seu ponto de vista. Nessa confusão temos os assessores de todos criando mais problemas ainda, com vazamentos de informações confidenciais para a imprensa e, claro, Malcolm Tucker fazendo o que faz de melhor: xingar e manipular.

O filme merece ser visto e, ainda que tenha poucas chances de ganhar, seu roteiro é, realmente, material para Oscar.

Nota: 9 de 10

Um comentário:

  1. Concordo com quase tudo. O filme, uma crítica política afiada, é ótimo, principalmente por causa dos diálogos do personagem Tucker. Parabéns pelo blog, muito bem escrito seu texto. Também tenho um blog em que escrevo sobre filmes, mas não é tão bem-feito: moviesbeingwatched.blogspot.com

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."