domingo, 14 de março de 2010

Crítica de filme: Alice in Wonderland (Alice no País das Maravilhas)


A mais nova criação de Tim Burton, Alice in Wonderland, foi lançada nos cinemas norte-americanos há duas semanas e vem se mostrando um estrondoso sucesso. Já soma mais de 200 milhões do dólares nos EUA o dobro disso mundialmente. No Brasil, o filme estréia dia 23 de abril mas eu tive a oportunidade de assistí-lo nos Estados Unidos.

Alice foi filmado para ser um filme comum, em 2D. No entanto, com o sucesso impressionante de Avatar, ele e mais vários outros filmes (como o vindouro Fúria de Titãs) foram convertidos em pós-produção para o 3D e lançado das duas maneiras. Não é, certamente, o melhor uso da tecnologia e tenho lido várias reclamações sobre a qualidade da conversão de Alice. Assim, não tive dúvidas ao pedir um ingresso para a sessão 2D, ou seja, para ver o filme da forma como Tim Burton originalmente o imaginou.

O filme é baseado nos livros de Lewis Carroll mas não é uma transposição para as telas do que ele escreveu. Ele funciona muito mais como uma  espécie de continuação direta do famoso desenho da Disney de mesmo nome, de 1951. A linguagem visual do filme se compara em muito à linguagem visual do amalucado e bem bacana desenho da Disney. Nós encontramos Alice (a surreal Mia Wasikowska) já crescida, com 19 anos, mas ainda sonhadora. Ela está prestes a ser pedida em casamento de surpresa, perante toda a realeza inglesa. Ela descobre o "segredo" e foge perseguindo o Coelho Branco e acaba, mais uma vez, chegando ao País das Maravilhas que ela, porém, não se lembra de já ter visitado. Lá, ela começa a se envolver com os personagens de sua primeira aventura e tem que lutar contra a Rainha Vermelha ao lado da Rainha Branca.

Mas, claro, apesar de não haver um distanciamento muito grande entre a linguagem visual do desenho e o filme, o toque de Tim Burton está presente. As bizarras criaturas criadas por Carroll e eficientemente transpostas para a tela pela própria Disney em 1951, ganharam contornos ainda mais interessantes. Não há nada no filme, em termos puramente visuais, que não vá agradar aos fãs de Tim Burton. A Rainha Branca (Anne Hathaway) é a caricatura de uma garota mimada. A Rainha de Copas (ou Rainha Vermelha) é um deleite de maldade exagerada. Helena Bonham Carter, que faz a rainha (famosa pelo "cortem-lhe a cabeça!") foi transformada por Tim Burton em um enorme cabeção ambulante, preso em um corpo de anão. Singular! Crispin Glover está excelente e quase que irreconhecível como o estranhíssimo Valete de Copas (Knave of Hearts). Alan Rickman empresta sua voz à Lagarta Azul (Blue Caterpillar), maravilhosamente recriada nesse filme. O mesmo acontece com o Coelho Branco (Michael Sheen), Dormouse (Barbara Windsor) e Tweedledee/Tweedledum (Matt Lucas).

Mas os grandes destaques em termos de personagens são mesmo o Cheshire Cat (Stephen Fry), um fantamagórico gato que sorri, desaparece e voa e, claro, o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp). Tenho para mim, na verdade, que a grande motivação para se fazer esse filme foi Depp no papel do completamente doido Chapeleiro Maluco e Burton não economizou em sua caracterização e sua presença (bem constante) na estória. Não seria demais concluir que o Chapeleiro é o principal do filme, sendo Alice apenas uma desculpa para trazê-lo à tela grande mais uma vez. Enquanto que, no desenho de 1951, o Chapeleiro tem apenas um relativamente breve mas memorável cena, na recriação de Burton ele é onipresente. Desde quando Alice e o Coelho Branco o encontram na cabeceira da famosa mesa de chá, até quando ele luta ao lado dos heróis, Depp é um show. Ele conseguiu, de forma muito eficiente, misturar aquela voz engrolada que é a marca registrada de Jack Sparrow na série Piratas do Caribe com sua caracterização de personagens bizarros como Ed Wood, Ichabod Crane (Sleepy Hollow) e Sweeney Todd.

E a festa visual não acaba por aí. O exército da Rainha Vermelha, como todo mundo sabe, é formado por cartas ambulantes, que carregam lanças. Sem ser exatamente uma cópia do desenho de 1951, Burton conseguiu ser muito original na recriação. A batalha desses soldados com os da Rainha Branca, que são peças de xadrez, é sensacional, tudo, claro, dentro do estilo Burton de ser.

Não poderia deixar de dizer que há uma espécie de fixação de Burton com olhos. Desde a maquiagem meio "morta-viva" de Alice, com destaque aos seus olhos fantasmagóricos, passando pela espetada no olho da monstruosidade "canina" da Rainha Vermelha e terminando nos enlouquecedores olhos (que efeito brilhante!) do Chapeleiro, o tema "visão", de forma bastante torcida e corrompida, está presente a todo momento nesse filme.

Mas o filme tem defeitos que não permitem que ele seja alçado ao panteão de um dos melhores filmes de Burton. Para começar, os personagens, incluindo Alice, são muito mal desenvolvidos. São personagens em regra muito unidimensionais, bons ou maus, feios ou bonitos, tristes ou felizes. Não há meio termo, não há uma construção cuidadosa de suas personalidades. Isso acaba nos levando a não se preocupar verdadeiramente por eles, a não torcer para que escapem ou seja derrotados. A frieza impera e esse foi o maior erro de Burton. E é estranho que isso aconteça em Alice pois Burton nos fez sentir pelos mais variados e estranhos personagens, inclusive o assassino Sweeney Todd. Houve um distanciamento inexplicável do diretor em Alice, algo que não é ditado por eventuais exigências da estória.

O outro grande problema de Alice é o final. Sem estragar eventuais surpresas (ainda que elas sejam escassas ou, na verdade, inexistentes), Linda Woolverton (a roteirista) criou um fiz apressado, que não combina efetivamente com a estória. Ainda que seja uma estória de amadurecimento - isso fica claro - o final revela uma habilidade em Alice que não decorre naturalmente de tudo que aconteceu nos 100 minutos imediatamente anteriores. Fica parecendo uma enganação, uma vontade de dar um fim bacana a uma estória que não pede exatamente isso. Fora a situação fática que algo como o que acontece ao fim simplesmente não aconteceria na vida real da Inglaterra no século XIX.

O filme merece ser visto? Sem dúvida alguma e, pelo festival visual, até mais de uma vez (pelo menos por quem aprecia o estilo do diretor). No entanto, Alice não é o grande filme que eu esperava.

Nota: 7,5 de 10

2 comentários:

  1. Curti seu blog, qnd lançar o filme aqui eu comento melhor auhauha
    Bjao se der passa no meu
    http://amuupoint.blogspot.com/

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  2. Esse filme é um pouco bacana, mais não é o que eu esperava, o chapeleiro maluco ganhou quase mais destaque que a Alice, eu também não gostei da personagem alice, ela fica confusa e sem saber o que fazer o filme inteiro e no final ela simplesmente decapita o Jabberwock, criatura que todo temiam, como assim?

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."