sexta-feira, 5 de março de 2010

Crítica de filme: La Teta Asustada (A Teta Assustada ou The Milk of Sorrow)

Soube de A Teta Assustada quando o filme foi listado como possível concorrente ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Quando saiu os efetivos candidatos e ele se manteve lá, firme e forte, tratei de intensificar minha caçada a ele e qual não foi minha surpresa quando esbarrei com o filme em minha locadora. Ele estava lá, quietinho na prateleira e talvez eu tenha sido o primeiro a alugá-lo tendo em vista a surpresa da moça que me atendeu no balcão.

Esse é mais um filme que, visto o péssimo sistema de distribuição cinematográfica que temos e a pouquíssima quantidade de salas de cinema no país, foi lançado diretamente em DVD. Não que esse filme, de baixo orçamento, precise ser visto na telona do cinema mas é sempre melhor do que em casa, com as distrações de costume.

De toda forma, A Teta Assustada, filme peruano dirigido por Claudia Llosa, conta a estória de Fausta, moça de singular beleza, moradora de uma espécie de favela ao redor de Lima. Sua mãe, estuprada quando da revolução há uns 25 anos, com Fausta ainda no útero, passou, segundo diz a lenda local, a doença da Teta Assustada para a filha. Trata-se de um pavor de viver transmitido pelo leite materno à criança recém nascida. Fausta, de fato, não tem vida que não seja cuidar de sua mãe idosa. No entanto, logo no começo do filme, a mãe morre e Fausta, então, parte para uma luta para enterrá-la de forma minimamente digna em seu vilarejo de origem. Para isso, ela tem que se livrar dos grilhões que a impedem de ir à esquina sozinha. Ela tem um medo visceral, certamente martelado em sua cabeça pela mãe (ou transmitido pelo leite materno, para quem preferir assim acreditar) de ser estuprada. Não consegue tocar em nenhum outro ser humano. É um bicho do mato em todos os sentidos da palavra.

Diante do dilema, Fausta enfrenta os perigos da vida fora de casa para juntar dinheiro para enterrar sua mãe, conseguindo emprego de doméstica em um casa de uma milionária meio ruim das idéias em Lima (usada, claramente, com símbolo do colonialismo). Lá, ela passa a conviver, de forma muito relutante, com o jardineiro, um homem bom que só quer ajudá-la.

Já ia me esquecendo de dizer: o medo de Fausta de ser molestada é tanto que ela literalmente plantou um tubérculo (uma batata de verdade!) em sua vagina e esse é o símbolo maior de sua incapacidade de viver. O embate psicológico entre querer viver e o temor de experimentar cria cenas maravilhosas e delicadas. Em uma delas, o jardineiro traz um presente para Fausta e o leve roçar das mãos dele na pele dela, a faz largar o presente no chão e correr desesperada. O rosto da atriz Magaly Solier consegue, de forma magistral, passar essa aflição, esse horror de Fausta pelo simples fato de estar fora de casa.

O filme também festeja a tradição nativa dos peruanos, fazendo questão de mostrar o que aparentemente são danças locais e tradições do povo colonizado pelos espanhóis. Outro ponto que não é esquecido é a criatividade do povo para conseguir dinheiro, trabalhar e ter lazer.

Fica claro o pouco orçamento que a diretora Claudia Llosa teve para fazer o filme mas sua criatividade econômica e a atuação de Magaly Solier compensam essa deficiência. É um filme que, a princípio, parece bem estranho mas que, aos poucos, vai atraindo o espectador para o dilema da protagonista.

Nota: 7,5 de 10

Um comentário:

  1. O filme faz uma boa síntese de como a cultura indígena incorporou elementos dos colonizadores espanhóis. Tem uma crítica sobre isso em
    www.artigosdecinema.blogspot.com/2014/04/a-teta-assustada-la-teta-asustada.html

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."