É impossível um filme mais americano que esse. Nem mesmo filmes patrióticos de guerra conseguem se aproximar dos valores muito queridos ao povo dos Estados Unidos se comparados com A Christmas Story. Passado na década de 40, o filme conta a estória de um Natal na vida de Ralphie que quer porque quer ganhar do Papai Noel uma "official Red Ryder carbine-action 200-shot range model BB rifle with a compass in the stock", ou seja, uma espingarda de chumbinho. Logo de cara já dá para ver que o filme não é do tipo politicamente correto que irritantemente tentam nos empurrar hoje em dia. Afinal de contas, uma criança de nove com uma espingarda de chumbinho é um absurdo inenarrável, não?
Pois bem, esse é um filme de Natal 100% honesto, ou seja, sem nenhum caráter religioso. É o Natal como 95% das crianças do mundo o encara: a melhor época para se ganhar presentes. Ralphie faz de tudo para convencer os pais, a professora e até o Papai Noel (de uma loja!) que ele definitivamente precisa de uma espingarda. Basicamente, a vida dele depende disso. Mas, para seu horror, todos, sem exceção, dizem que ele vai acabar arrancando se ganhar a espingarda.
Ao redor dessa estória bem objetiva, vemos Ralphie enfrentar os valentões de sua escola, participar de uma aposta em que um coitado de um garoto acaba sendo convencido a encostar a língua em um poste congelado, levar o irmão mais novo todo encasacado para a escola, fazer a melhor redação do mundo (sobre a espingarda, claro), ficar na fila para sentar no colo do Papai Noel (no bom sentido, claro!) e tudo mais que uma criança de nove anos, durante o Natal, em uma cidade do estado de Illinois, ou seja, bem abaixo de zero, faria. E Peter Billingsley é, literalmente, talhado para esse papel.
Devo confessar, porém, que, vendo o rostinho angelical do garoto da capa, fiquei receoso que o filme seria chato e arrastado. Ainda bem que me enganei e acabei me divertindo bastante com o filme e entendendo definitivamente por que ele é uma espécie de uma tradição nos natais americanos.
É claro, também que, como todo o filme que preza os "valores" norte-americanos, não poderia faltar uma ode à família. Os pais de Ralphie (Melinda Dillon e Darren McGavin) se amam, se provocam e, sobretudo, amam os filhos. São uma família perfeita.
O filme é, basicamente, um retrato utópico de como todos nós gostaríamos de ser e um verdadeiro escape à realidade que nos cerca. Divertido, muito bem dirigido mas, em última análise, não merece essa idolatria toda dos americanos.
Sobre o Club du Film:
Há quase quatro anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como "Club du Film". Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São mais 102 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo.
Notas:
Minha: 7 de 10
Barada: 7 de 10
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