quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Mais um do mestre


Eu não dou notas aos filmes de Buñuel. Apesar de ser "metido a crítico", não tenho coragem de classificar o diretor mais sensacional de todos os tempos junto com Kurosawa. Meu objetivo é achar e assistir a todos os filmes desses dois diretores, uma tarefa complicada considerando que, no Brasil, lançamentos de clássicos ou não acontecem ou acontecem por intermédio de empresas notoriamente piratas, com cópias de baixa qualidade.

De toda forma, consegui assistir a El. É só assim mesmo: El. Em português é "O Alucinado", um título para lá de descritivo, como notarão.

El, de 1953 (fase mexicana de Buñuel) conta a estória de Francisco e Gloria. Francisco é um aristocrata mexicano, de meia-idade, vivido sensacionalmente por Arturo de Córdova e Gloria é uma jovem argentina, de boa estirpe, vivida por Delia Garcés. Gloria está noiva de Raul Conde (Luis Beristáin) mas, ao esbarrar em Francisco em uma igreja, eles se apaixonam. Gloria reluta mas, com a insistência e a corte de Francisco, acaba cedendo e casando com ele.

Mas aí é que os problemas - e o filme - começam. A personalidade possessiva e paranóica de Francisco começa a se mostrar, de pouco a pouco, com sinais aqui e ali. A obsessão de Francisco, que acha que o mundo conspira contra ele, começa a seriamente afetar o casamento e a destruir a vida de Gloria, que passa, basicamente, a ser uma prisioneira do marido. Ela não pode sair de cada pois ele acha que todo homem que passar por Gloria é um amante da mulher.

Parece a estória de Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Francisco vai se transformando em um ser disforme, completamente diferente daquela pessoa que Buñuel nos apresenta no começo do filme, ainda que as pistas de sua transformação estejam todas lá. De acanhado ele se torna brigão, de educado ele se torna grosso, de delicado ele se torna abusivo. O ator que o vive faz um trabalho sensacional e sua canastrice inicial se mostra uma excelente tática teatral para realçar seu lado paranóico mais adiante.

Buñuel, com direção segura, mais esconde do que mostra, deixando-nos aflitos pela vida de Gloria. A casa de Francisco é, no começo, uma bela mansão, com um magnífico átrio, que logo nos chama a atenção. No entanto, ao longo do filme, sem alterar o cenário, Buñuel nos chama a atenção para detalhes da decoração que refletem a mente retorcida de Francisco. A casa é um eco do dono e Gloria caiu na armadilha! E os espectadores também, o que é ótimo.

É ver para crer.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."