sábado, 26 de fevereiro de 2011

Crítica de filme: Kynodontas (Dente Canino ou Dogtooth)

Pensei que iria demorar para ver um filme mais bizarro que Rubber mas vejo que estava completamente enganado. Comecei a ver o filme grego Dente Canino sem ter a menor idéia sobre o que ele era. Não havia lido a sinopse ou qualquer outra coisa sobre ele a não ser que concorre a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar desse ano. Saí do filme achando que Rubber nem foi tão bizarro assim e extremamente impressionado pela Academia ter indicado esse filme. Ficarei mais impressionado ainda - e muito feliz - se o filme efetivamente abocanhar a estatueta.


Dente Canino é um filme que as pessoas só acreditarão vendo. Em um primeiro momento, ele é somente um monte de cenas em tese desconexas, sobre uma família que vive sem qualquer contato com o mundo exterior, em uma casa cercada de jardins, nos subúrbios gregos (algo que, de longe, lembra A Vila de Shyamalan misturado com a estética de Meu Tio, de Jacques Tati - nunca achei que faria essa conexão...). Apenas o pai sai da casa (sempre de carro), ficando a mãe, o filho e as duas filhas o dia inteiro em casa, sem televisão, sem rádio, sem marcas de produtos, ou seja, totalmente alijados do mundo que os cerca.

Os pais mantém os filhos sob suas regras, que são completamente inventadas. Uma delas é que somente quando o dente canino de cada um deles cair é que eles estarão prontos para saírem de casa, mas sempre de carro. Outra é que o gato (sim, o gatinho doméstico) é o animal mais selvagem que existe. Algumas palavras têm significados diferentes nessa bolha criada pelos pais para seus filhos. E por aí vai.

Apenas observando essas cenas, o espectador estará diante de um filme digno do Teatro do Absurdo, com uma forte veia de humor negro. A cada momento, as coisas evoluem mais, mostrando sexo (o pai traz uma mulher de fora, vendada, para transar com o filho), danças, violência sádica e um quê de incesto.

Mas um observador atento verá que o filme é mais do que uma sucessão de bizarrices divertidas, tensas ou violentas. Verá que o filme é uma crítica do diretor e co-roteirista Giorgos Lanthimos à sociedade atual, a como criamos nossos filhos. Será que super-protegemos nossos filhos? Será que ensinamos conceitos corretos? Mas, afinal de contas, o que seria correto?

Dente Canino não exige explicações, para dizer a verdade. Pedir lógica a esse filme é destruir toda sua base. É até difícil criticá-lo de maneira veemente pois ele depende muito de sentimentos básicos na hora de assisti-lo. Eu, particularmente, senti-me como durante A Fita Branca, de Michael Haneke: estupefato. Fiquei literalmente de boca aberta o filme inteiro, tendo demorado uns bons 15 minutos para eu me ajustar à "realidade" da família.

Dente Canino é um filme que sacode as convenções da sociedade e até do que é um filme. Exige uma cabeça aberta do espectador e, para aqueles que sobreviverem, o filme os presenteia com algo indescritível, que desafia qualquer tentativa de explicação.

Só vendo para entender o que é esse filme. Mas vá preparado.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 9 de 10

2 comentários:

  1. Este pensar bem antes de escrever algo "com um mínimo de inteligência" me soou como uma atitude de prepotência. Pelo pouco que sei, blog não é academia.

    Espero, contudo, que até mesmo essa pequena e curta crítica contenha um teor mínimo da inteligência necessária para aceitação e publicação.

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    1. Prepotente é estar preso a convenção boçal de que acadêmicos são autoridades. O mundo é cheio de auto didatas geniais. Academia é moedor de carne, fábrica de reprodutores do conhecimento que interessa. Menos, corvinho.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."