sábado, 26 de fevereiro de 2011

Crítica de filme: Restrepo

Restrepo é um documentário longa-metragem que concorre ao Oscar desse ano. Trata-se de um apanhado de imagens da guerra travada pelos Estados Unidos contra os talibãs no Afeganistão, com todo o foco no terrível dia-a-dia dos soldados em um dos lugares mais perigosos do mundo.
O documentário surpreende ao mostar o verdadeiro trabalho de “formiguinha” que é a guerra atual, apesar de toda a alardeada tecnologia hoje empregada em situações semelhantes. Todos nós nos lembramos, boquiabertos, daquela imagem de um míssel americano acertando perfeitamente seu alvo durante a guerra do Kuwait em 1990 e 1991, imagem essa que foi repetida à exaustão por todas as televisões do mundo como exemplo das “guerras cirúrgicas” e das promessas de pouquíssimas baixas humanas em conflitos. Era o futuro, no presente.

Pois bem, corta para quase hoje em dia, no vale Korengal no Afeganistão, conhecido como o local de guerra mais perigoso do mundo. Nesse buraco esquecido nas areias do tempo, vemos um pelotão que, depois de muito esforço, monta um posto avançado em uma colina antes tomada por talibãs. Eles nomeiam o posto de Restrepo em homenagem a um colega morto há pouco tempo. O pelotão é acompanhado pelos diretores desse documentário (Time Hetherington e Sebastian Junger), que estavam em missão para a Vanity Fair.
Ficam aqui meus elogios para o trabalho dos diretores que, segurando o que só posso imaginar sejam câmeras digitais bem portáteis, enfiaram-se no meio do inferno e conseguiram voltar para contar a estória. O que eles mostraram, porém, é que toda a tecnologia não ajuda em nada em situações como a do vale Korengal, onde as árvores atiram e o solo esfaqueia.

Lembram do fiasco do Vietnã? Pois bem, apesar do documentário não fazer referência a essa outra guerra de “formiguinha” – e nem precisa – estamos em um novo Vietnã. Tecnologia não conta, apenas a vontade dos soldados de permanecerem vivos, apesar de muitos morrerem.

E isso o filme mostra bem. Os soldados são todos muito unidos e mostram-se como seres humanos com falhas e sentimentos. O comandante do pelotão, em determinado momento, até se desculpa para a câmera por ter bombardeado um vilarejo e matado civis inocentes. Ok, pode ser jogo de cena para atrair a simpatia do espectador na cabeça dos mais cínicos, mas quero crer que não. São filmagens feitas no calor do momento e, nessas horas, fica difícil esconder sentimentos. Em outra cena, depois de uma morte no grupo, vemos soldados chorando, tristes mesmo, não necessariamente com raiva do inimigo. Vemos homens com quem nós podemos simpatizar.

Nisso, o documentário é perfeito.

Mas há pecados também. Primeiro, a sensação de passagem do tempo – o filme se passa ao longo de 12 meses – é completamente inexistente. Seria algo fácil de resolver com legendas explicativas mas creio que tenha sido escolha dos diretores deixar os espectadores um pouco desnorteados. Apenas não gostei dessa escolha.

Depois, o documentário é um apanhado de cenas um tanto quanto soltas, com alguns combates aqui e ali mas nenhum deles criando empolgação ou senso de urgência suficientes para dar sentido a tudo o que estava acontecendo.

Para fechar, Restrepo, o soldado morto que é tão importante para os amigos que eles fizeram questão de usar seu nome para batizar o posto avançado, quase não é explorado. Não é que o documentário precisasse de uma melosa introdução contando a vida do rapaz e o sofrimento da família. Mas simplesmente o vemos por segundos em uma filmagem borrada e, depois, mais nada, silência profundo. Acaba que ele perde o significado e o impacto ao longo do filme.

Em suma, é um bom libelo anti-guerra que merece ser visto mas com reservas.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 6 de 10

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