quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Crítica de filme: The Fighter (O Vencedor)

O Vencedor (péssima escolha de título em Português, para variar) é um dos filmes que concorrem aos mais importantes Oscar, mais precisamente aos de Melhor Filme, Melhor Diretor (David O. Russel), Ator Coadjuvante (Christian Bale), Atriz Coadjuvante (Melissa Leo e Amy Adams), Melhor Roteiro Original e Melhor Edição.


O filme conta a estória real do lutador de boxe peso-leve Micky Ward (Mark Wahlberg) que é treinado por seu  irmão Dicky Eklund (Christian Bale) e agenciado por sua mãe Alice Ward (Melissa Ward). Como todo filme de boxe, há as derrotas e as vitórias mas, nesse filme, o ponto forte e o que o diferencia um pouco de um drama comum nessa linha tipo Rocky, é o foco na família, especialmente em Dicky Eklund e seus próprios problemas.

No primeiro terço do filme, o diretor, David O. Russel (do ótimo Three Kings) optou por uma abordagem bem no estilo de documentário, quase que fazendo um meta filme pois um documentário está sendo filmado na trama do filme, sobre a vida de Dicky. Dicky alardeia que o documentário é sobre seu "retorno", já que o ex-lutador vive de sua fama passada e uma grande vitória no ringue. No entanto, Dicky entregou-se ao crack e não consegue largar o vício, o que obviamente estraga completamente sua carreira. Agora, ele vive de treinar seu irmão para lutas não muito justas, vivendo como se fosse um sanguessuga. Esse "retorno" que Dicky fala é seu retorno à fama através de seu irmão que seguiu seus passos.

Quando a verdadeira intenção do documentário fica clara para Dicky (para os espectadores isso fica evidente bem mais cedo), Russel meio que muda seu estilo de filmagem e passa a tratar o filme como um filme comum de boxe em que vemos a escalada de Micky em direção à superação.

Mas, como eu disse, o fator familiar sempre fortemente presente no filme, torna-o um pouco diferente ao menos. Vemos, de um lado, as tentativas de superação de Dicky e, do outro, de Micky, cada um seguindo seu caminho. No meio disso, temos a namorada de Micky, Charlene Fleming (Amy Adams) influenciando-o a se virar sozinho, sem apoiar-se tanto na família. No canto oposto desse "ringue" familiar, temos Alice, a mãe dos lutadores e de mais uma penca de irmãs sanguessugas, que servem mais como uma equipe de guarda-costas. Micky tem que escolher entre família e carreira e Dicky tem que escolher entre as drogas e um semblante de vida digna. O paralelismo das tramas é bem evidente e, tratando-se de uma estória real que se tornou um filme americano, qualquer espectador com um mínimo de experiência cinematográfica vai saber exatamente como o filme acaba mesmo sem ter ouvido falar em Micky Ward (exatamente o meu caso, aliás).

Assim, o roteiro acaba perdendo o suspense e limita o engajamento do espectador com a luta dos irmãos. E não ajuda o estilo documental de Russel pois, para ser próximo da realidade, ele mostra que está usando uma câmera de mão, com filme granulado e sem trilha sonora contundente. Funcionaria em um filme de ficção mas, no caso concreto, Russel termina de matar qualquer interesse que se possa ter pela estória.

Bem, para ser justo, Russel quase consegue matar o interesse pela estória. O que salva o filme é o conjunto de atuações sensacionais. Com exceção de Amy Adams - não me entendam mal, ele atua até bem mas é que, para mim, não consigo separá-la do papel de Giselle, no conto de fadas Encantada, que minhas filhas vêem dia sim dia não - todos os demais atores estão sensacionais.

Mark Wahlberg que nunca foi um ator muito acima da média, talvez esteja em seu melhor papel até hoje. Conjuga de maneira muito convincente as características de um irmão preocupado, um rapaz ingênuo, de alguém com muito amor pela família e por Alice e de um grande lutador de boxe. Cria um personagem que consegue amealhar credibilidade sem precisar exagerar na pieguice e nas lágrimas, como fez Stallone no primeiro Rocky.

Christian Bale, eu sinto dizer, é um ator com sérios distúrbios psicológicos. Acho que o grande papel dele em American Psycho deve tê-lo abalado profundamente... Digo isso pois, assim como Robert de Niro em priscas eras, ele emagrece e engorda de uma maneira inacreditável. Ele fez O Operário em 2004 em que parecia um refugiado de campo de concentração nazista. Logo em seguida, em 2005, ficou forte para viver Bruce Wayne em Batman Begins. Não satisfeito, em 2006 ele voltou a emagrecer para níveis enlouquecedores para viver um prisioneiro no Vietnã no filme O Sobrevivente, de Werner Herzog. Obviamente, em 2008, voltou à forma para fazer The Dark Knight. Aí então, às vésperas de começar a filmar o terceiro Batman, ele emagreceu tudo de novo para fazer O Vencedor. Haja cabeça e disciplina para isso tudo!

Só por essas transformações físicas Bale já mereceria reconhecimento. Mas ele alia à isso uma atuação sensacional e, nesse filme, como um drogado em completa negação de que é drogado, ele está perfeito. Assim como Wahlberg, ele não tenta ser mais do que precisa e não exagera, apelando para o lado sentimental. Acerta na mosca em sua impressionante atuação.

Mas o prêmio "Enfermeira Ratched" vai mesmo para Melissa Leo, interpretando a desgraçada da mãe de Micky e Dicky. Ela explora os filhos até a última gota de sangue, completamente ignorando o vício de Dicky e as lutas injustas de Micky. Para ela, o importante é conseguir uns trocados aqui e ali com as lutas porcarias que consegue. Pontos para Melissa Leo pelo papel que nós dá vontade de pular na tela do cinema e enforcar seu personagem.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 7,5 de 10

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."