sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Crítica de filme: Hors-La-Loi (Fora da Lei)

Fora da Lei é um filme argelino que concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro esse ano. Trata-se de uma espécie de épico familiar tendo como pano de fundo a luta pela independência da Argélia da dominação francesa, o que só veio a acontecer bem recentemente, em 1962.


No começo, somos apresentados à uma humilde mas orgulhosa família no deserto argelino vivendo de agricultura de subsistência em 1925. O pai é abordado por um oficial de justiça escoltado por soldados que diz que a terra onde ele nasceu, onde seu pai nasceu, onde seu avô nasceu, onde todos seus antepassados nasceram, não é mais dele pois ele não tem comprovação de propriedade e há uma ordem judicial para a retirada deles de lá.

A partir daí, o filme dá alguns saltos temporais rápidos, sempre marcando eventos importantes na conturbada estória da luta dos argelinos pela independência. Nesses saltos, somos apresentados aos filhos do camponês, já crescidos, e suas posturas diante do que está ao redor deles. O filho mais novo, Saïd (Jamel Debbouze) é um cara que se adapta à qualquer situação e vive de apostas em boxe e malandragens de rua em geral. O filho do meio, Abdelkader (Sami Bouajila) é o intelectual e o mais engajado na causa argelina. O filho mais velho, Messaoud (Roschdy Zem) é o mais quieto e responsável e o que acaba indo lutar pela França na Indochina, no começo do que depois veio a ser a Guerra do Vietnã.

As personalidades dos três, já marcadas no começo do filme, se mantém mais para frente, quando o filme finalmente para de saltar no tempo e se fixa no meio da década de 50 nos arredores de Paris. Saïd se mudou para lá com a mãe e vive em uma espécie de favela, como cafetão, dono de boate ou qualquer coisa semelhante. Abdelkader sai da prisão e começa, com Messaoud ao lado como uma espécie de guarda-costas, a atrair argelinos descontentes para aumentar o partido político radical - que prega a luta armada contra a França pela independência da Argélia - e articular planos para atacar as autoridades francesas.

O filme conta uma estória que, por sua natureza, prende o espectador. A narrativa, apesar de lenta e repetitiva, mantém uma linha mestra interessante, às vezes tratando de momentos históricos importantes, outras tratando de questões familiares como casamento, lealdade e por aí vai.

O maior problema de Fora da Lei é que ele tenta ser mais do que ele é. Ao se utilizar de filmagens verdadeiras da época e pular décadas no tempo, o diretor e roteirista Rachid Bouchareb dá impressão que se trata de um épico de grande alcance. No entanto, ao tratar dos estratagemas de Abdelkader por seu partido político e pela Argélia, o filme se converte em um típico filme de gângster genérico, fazendo até mesmo mímica da paleta de cores característica dos filmes noir. Essa falta de certeza sobre o que é o filme acaba sendo uma distração grande e também ajuda a torná-lo mais arrastado em seus já longos 138 minutos.

Mas, se visto sob a ótica de um filme sobre os valores da família, ele funciona muito bem, com excelentes atuações dos três atores principais. O filme é recomendado mas ele tem um potencial que, infelizmente, nunca é efetivamente alcançado.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 7 de 10

2 comentários:

  1. Oi! Gostei muito do seu blog, seus textos são ótimos, muito bem escritos. Já sou seu seguidor fiel.

    Abraços, e mais uma vez, parabéns!

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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  2. Muito legal sua crítica! Recomendei ela no final da crítica do mesmo filme que fiz no interrogAção.

    Abraõs

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."