domingo, 31 de janeiro de 2010

Crítica de filme: Invictus

Depois de Changeling (A Troca) e Gran Torino, ambos lançados em 2008, chega no Brasil o filme dirigido por Clint Eastwood em 2009: Invictus. Trata-se de uma fotografia da manobra política de Nelson Mandela ao usar o time de rugby da África do Sul, os Springboks, para unir um país fortemente dividido entre brancos e negros.

Mandela é vivido por Morgan Freeman, em sua profícua parceria com Eastwood (fizeram juntos os oscarizados Unforgiven (Os Imperdoáveis) e Million Dollar Baby (Garota de Ouro)). Matt Damon é François Pienaar, o capitão do time de rugby recrutado por Mandela para ganhar a Copa do Mundo daquele esporte. Acontece que os Springboks formam o time dos brancos, sendo o símbolo da elite odiada pelo negros. Aliás, o filme mostra bem isso pois começa mostrando uma escola de alto nível na África do Sul em que os alunos jogam, bem uniformizados, o rugby.  A câmera faz um travelling desconcertante e nos mostra, do outro lado da estrada, um time de meninos negros jogando futebol descalços em um campo de terra batida em frente a uma favela. Nesse momento Eastwood nos revela que essa realidade existia até pouco tempo atrás, em 1991. Mandela acaba de ser libertado da prisão depois de 27 anos encarcerado e cruza a estrada de carro para a festa dos meninos negros e para o horror do treinador de rugby.

Em 1994, com Mandela chegando ao poder, a Comissão de Esportes, toda formada por negros, resolve mudar o nome, as cores e o emblema dos Springboks, de forma a apagar esse símbolo do Apartheid. Mandela intervém e consegue forçar a manutenção do time como está e, então, parte para unificar o país, fazendo negros e brancos torcerem pelo mesmo time.

Vale notar que o filme não é sobre esportes e sim sobre esse esforço de Mandela. Tanto é assim que nenhum jogo é mostrado com vagar, a não ser o último, em que Clint Eastwood consegue provar que sabe dirigir filmagens de esportes tão bem quanto dirige qualquer outra coisa. Cria tensão onde tem que criar mesmo que todos nós saibamos o resultado do jogo.

Mas o filme tem um grande defeito: Morgan Freeman. Apesar de eu gostar muito do ator, ele é ele. Não consegui, em nenhum momento, vê-lo como Nelson Mandela pois, para mim, ele não se camuflou no papel do líder sul-africano. Isso me distraiu todas as vezes que ele apareceu, o que acontece 80% do tempo do filme. É claro que isso não é suficiente para tornar a obra um filme ruim mas Clint Eastwood arriscou muito alistando seu amigo para o papel.

Outro problema também tem relação com ator e papel mas não com a escolha do ator em si. Matt Damon consegue fazer um ótimo capitão Pienaar, com sotaque e cabelo loiro. Conseguimos efetivamente esquecer Jason Bourne. No entanto, seu papel é fraco pois ele é um capitão sem carisma e sem nenhuma liderança. Talvez Pienaar tenha sido assim mesmo mas uma licença poética de Eastwood, aqui, não cairia nada mal. Afinal de contas, Eastwood apelou para suspense barato - talvez por ter entendido que o filme não se sustentava sozinho - ao dar a impressão que dois ataques terroristas se abateriam sobre Mandela. O segundo  é até um pouco ridículo pois, como o filme é histórico, sabemos que ele jamais aconteceu. Assim, se Eastwood fez isso, ele poderia muito bem ter transformado Pienaar em um líder inspirador assim como o próprio Mandela.

Por último, talvez com a intenção de focar na utilização política do rugby, Eastwood tenha simplificado demais o trabalho de Nelson Mandela. No entanto, nesse quesito, tendo a compreender a posição do diretor: não se trata de um filme biográfico mas sim, como mencionei no começo, uma fotografia de um momento específico.

Mas o filme, apesar dos problemas, se segura e empolga nos momentos certos, trazendo boa dose de tensão mesmo sem entender o rugby, como a  maioria dos brasileiros.

Nota: 7 de 10

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