domingo, 27 de fevereiro de 2011

Crítica de filme: Inside Job (Trabalho Interno)

Trabalho Interno é um documentário sobre a crise financeira mundial de 2008 que concorre ao Oscar de Melhor Documentário e é, aparentemente, o favorito. Devo dizer, logo de cara, que o filme merece os elogios que vem recebendo e, se receber o prêmio, ele será 100% merecido.

E a razão principal não é por sua perfeição como documentário pois ele tem falhas (que eu relevei completamente diante de suas qualidades), mas sim porque ele serve como um balde de água gelada em todos nós, que dormimos diante de tamanha crise global. É um choque elétrico no sistema para fazer ele voltar à vida e a funcionar com todo o vigor. É completamente impossível assistir a esse documentário de maneira passiva já que ele mais parece um filme de horror.

Já vi muita gente reclamar do didatismo desse filme e como ele não trata das mazelas sofridas pelas vítimas do sistema financeiro. Para esse pessoal, com todo respeito, eu digo: besteira!

O filme é sobre o colapso do sistema financeiro mundial. Todo mundo sabe que isso aconteceu, alguns sabem mais ou menos o porquê mas ninguém - que não seja do mercado financeiro ou estudioso dessa área - tem os detalhes do que ocorreu (e ainda vem ocorrendo) e, principalmente, sabe exatamente o que significam termos como "derivativos", "subprime" e CDO. Assim, o didatismo, que realmente é alto nesse documentário, faz-se completamente necessário, essencial até para que o filme alcance o maior número possível de pessoas. Se o diretor Charles Ferguson não tivesse investido tempo trabalhando definições e usando exemplos bem simples que se repetem ao longo da fita, o documentário seria hermético e de difícil digestão.

A boa notícia é que Ferguson consegue ser didático sem ser chato. Consegue explicar sem nos chamar de burros. E consegue evoluir da explicação para as conseqüências. É bem verdade que, às vezes, ele até pode exagerar, mas ele tinha um função a cumprir e garanto que ele a cumpriu muito bem: assustar os espectadores.

Sobre as mazelas das vítimas do sistema financeiro, creio que quem diz que Ferguson não tratou disso não viu o mesmo filme que eu vi. De fato, ele não entrevista as vítimas mas, com isso, também não apela para os dramas pessoais, para o sentimentalismo barato. Ele as mostra aqui e ali mas sem torná-las o foco do documentário. Na verdade, esse documentário é um alerta e as vítimas são todos nós, espectadores, não só os que efetivamente perderam suas casas. O festival de horrores que ele mostra ao longo de 120 minutos deixou-me com o coração disparado e uma forte azia. Se isso não é fazer um filme eficiente, eu não sei o que é.

Ferguson pontilha seus comentários e aulas de economia for dummies com entrevistas editadas de maneira esperta, que evitam longos discursos dos entrevistados. Ele entrevista desde a cafetina de um bordel de luxo especializado em clientes de Wall Street até a Ministra de Finanças da França, passando por professores de Harvard, o mega-especulador George Soros e ex-membros do Tesouro dos Estados Unidos. Ele não deixa ninguém escapar e, muitas vezes, ele dá uma de Michael Moore e cutuca veementemente os entrevistados, com resultados constrangedores e incrivelmente alarmantes. Mas fiquem tranqüilos que o estilo Moore de ser aparece poucas vezes e de maneira muito requintada, quase que perfeitamente natural nas entrevistas. Prestem atenção especialmente nos professores de economia que recebem dinheiro para escrever teses dizendo que tudo está uma maravilha. São momentos imperdíveis de tragicomédia.

Atualíssimo e narrado por Matt Damon, Trabalho Interno é um filme obrigatório para todos nós que queremos entender um pouco do tamanho do problema ao nosso redor para nos preparar para o que ainda está por vir. Afinal, em tese, pelo jeito que as coisas estão andando, esse documentário terá continuação...

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 9 de 10

2 comentários:

  1. parabéns! òtima análise.

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  2. Parabens pela análise, vi o filme pela terceira vez (gosto de economia) e ainda assim fiquei admirado. Sabia que Wall Street controlava Washington ha algum tempo, mas nao sabia que o controle era tao grande, a ponto dos "tentaculos" chegar até as grandes universidades americanas. E ainda tem partido no Brasil que é contra do Estado financiar os partidos... 1-3bi que custaria isso pode até parecer "salgado", mas diante da corrupçao instalada que aparece no filme os respectivos prejuizos, preferia ter partidos financiados pelo Estado pra falar a verdade.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."