segunda-feira, 30 de março de 2009

Crítica de filme (em DVD): Kingdom of Heaven - Director's Cut (Cruzada - Versão do Diretor)

Ridley Scott, 5 anos depois de seu sucesso Gladiator, voltou aos épicos históricos com Kingdom of Heaven. Quando do lançamento, a crítica foi tão massacrante contra o filme que eu me deixei influenciar e acabei não assistindo no cinema. Com o lançamento do DVD e Blu-Ray contendo a versão do diretor (leia-se: a versão não mutilada pela Fox), as críticas favoráveis começaram a aparecer. Um filme que já era longo, de 144 minutos, tornou-se um Lawrence da Arábia (em termos de tamanho) do século XXI, com 192 minutos.

Nem sempre mais é melhor mas quase sempre, quando um diretor acrescenta quase 50 minutos ao seu produto original, quer dizer que tem alguma coisa errada com o que foi ao cinema. A obra de Ridley Scott deve ter se beneficiado muito desses 50 minutos pois o filme é muito bom, nada que se encaixe nas críticas fulminantes dedicadas ao seu original.

O filme conta uma versão bem romanceada da estória de Balian de Ibelin (Orlando Bloom), um herói das cruzadas. No filme, Balian é um ferreiro, que vive uma vida  difícil na França. Seu filho morreu no parto e sua mulher, entristecida, se suicidou. Naquela época, suícidio era coisa de bruxa e, como marido, ele foi preeso por compactuar com bruxaria. Libertado pelo lorde da região que precisa de sua ajuda, Balian dá de cara com Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), o irmão do lorde, que acabou de voltar de Jerusalém. Godfrey veio atrás de seu passado e logo revela que Balian é seu filho bastardo. 

Os dois e mais uma trupe fiel, partem de volta para Jerusalém. Godfrey logo vem a falecer e Balian toma seu lugar como fiel soldado do Rei Baldwin IV de Jerusalém, que havia conseguido, há uns 6 anos, uma frágil paz com Saladino, de acordo com a qual a cidade permanece sob o jugo cristão mas todos são lá aceitos para fins de culto religioso. Obviamente, essa paz é odiada pelos nobres templários, guiados por Guy de Lusignan (Marton Csokas), casado com Sybilla (Evan Green), a irmã do rei. Começa, então, uma queda de braço com Balian no meio, um lado pela manutenção da paz o outro pelo começo da guerra.

Um detalhe importante sobre a trama e sobre Ridley Scott. O rei está morrendo pois tem lepra. Guy está louco para que isso aconteça pois, assim, Baldwin V, filho de Sybilla e seu enteado, toma o poder. Como ele é muito jovem, Guy tornar-se-ia o efetivo regente e, claro, começaria a guerra. O detalhe sobre Scott: a lepra faz com que o rei passe o filme inteiro coberto totalmente por panos e com uma máscara de metal escondendo sua deformidade. Mesmo assim, não sei bem o porquê, Scott resolveu escalar um ator de primeira linha para atuar só com os olhos: Edward Norton. Não faz muito sentido pois nem mesmo a voz do ator ouvimos direito já que a máscara atrapalha.

Bom, passado esse preciosismo do diretor, cabe dizer que Scott foi muito bem sucedido em recriar a época e os cenários, certamente usando o que aprendeu com Gladiator. O ataque a Jerusalém por Saladino é fantástico (não é spoiler pois é um fato histórico) e fica pau-a-pau com as batalhas de Lawrence of Arabia e Lord of the Rings. O filme é uma grande desculpa de 3 horas para o diretor depurar sua melhor técnica de mostra batalhas por todos os ângulos possíveis.

As atuações que Scott conseguiu arrancar de seus atores são também muito boas. Orlando Bloom, normalmente bem, digamos, limitado, está convincente como Balian. Eva Green está ótima como Sybilla, assim como Liam Neeson como Godfrey, Jeremy Irons como Tiberias e Michael Sheen  (de The Queen e Frost/Nixon) em breve - e dolorosa - aparição como o irmão de Balian.

O filme, pela sua duração, acaba se perdendo em alguns longos momentos de "nada". As cenas de Balian transformando o deserto que são as terras de seu pai em um oásis até que são bacanas mas completamente deslocadas no filme e só uma desculpa para o mocinho "pegar" a mocinha. Outros momentos meio contemplativos com Balian no deserto são também bem chatinhos.

Mas o que derruba o filme é a "suspensão de descrença" exagerada que Ridley Scott exige de seus espectadores. 

Explico. 

Em Gladiador, vemos um centurião romano virar um gladiador assassino empurrado por um sentimento fortíssimo de vingança. A construção do personagem é completamente crível e Russel Crowe, claro, ajuda no trabalho pequeno que os espectadores têm para acreditar em sua transformação.  Em Kingdom of Heaven, Scott quer nos fazer acreditar que um ferreiro (ok, com alguma experiência na fabricação de máquinas de guerra como é explicado no começo) não só é o melhor ferreiro do mundo, como um excelente agricultor, um estrategista do nível de Churchill, um líder como Roosevelt e um espadachim inacreditável. Fala sério...

O cara é um plebeu no começo do filme e Scott quer nos fazer crer que sofrimento e a revelação que ele é um nobre na verdade (bastardo, mas um nobre de toda forma) fizeram um "clique" na cabeça dele e o transformaram em um sensacional guerreiro? Tente outra vez, Scott. Apesar das três horas, faltou construção do personagem para permitir esse pulo. Ficou muito forçado e gritantemente mentiroso. A realidade, no caso, é muito melhor: Balian já era um nobre e, como tal, guiou os guerreiros cruzados em várias batalhas contra Saladino até culminar na batalha por Jerusalém. Não foi um ferreiro que fez isso tudo, não mesmo (nada contra os ferreiros, por favor).

Mas tudo bem. Como disse, o filme é uma desculpa para Scott usar suas técnicas de direção de espetáculo e é espetáculo que ele nos dá ao ponto de esquecermos (um pouco) esse furo no roteiro. Esperem só as catapultas começarem a funcionar para vocês verem se não falo a verdade.

Nota: 8 de 10

Um comentário:

  1. Baixar o Filme - Cruzada [Kingdom of Heaven] - http://mcaf.ee/sm6vj

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."