terça-feira, 30 de agosto de 2011

Crítica de filme: Rise of the Planet of the Apes - 2011 (Planeta dos Macacos: A Origem - 2011) - Parte 10

Muito interessante o que a Fox acabou fazendo com sua famosa e duradoura franquia do Planeta dos Macacos. O estúdio optou por não seguir diretamente o filme de Tim Burton de 2001 e acabou produzindo um filme que pode funcionar tanto como uma espécie de explicação para o final surpresa do filme de 2001 quanto como um recomeço completo da série e, também, uma espécie de prólogo do filme original de 1968, além de ser, de certa maneira, uma refilmagem do quarto filme da série original, A Conquista do Planeta dos Macacos. E isso tudo empacotado em um filme muito interessante, repleto de ação, com um dilúvio de homenagens ao original mas que, no final das contas, consegue sair da mitologia estabelecida pelos filmes anteriores.


Vou tentar explicar o que quis dizer com isso nos próximos parágrafos. Tenham paciência, por favor.

O brilhante e jovem cientista Will Rodman (James Franco) inventou o que parece ser a cura para o Mal de Alzheimer, que aflige seu pai, Charles Rodman (John Lithgow). A cura, chamada de ALZ 112, é testada em um chimpanzé, com resultados impressionantes. No entanto, quando a invenção vai ser comunicada oficialmente aos diretores da empresa em que trabalha, tudo dá errado e as pesquisas param. No entanto, no meio da confusão inicial, descobre-se que a chimpanzé em que foi testado o ALZ 112 estava grávida e Will acaba adotando um bebê chimpanzé, que seu pai batiza de César. Will repara que o simpático bichinho herdou o ALZ 112 de sua mãe e, por isso, é um pequeno gênio. Vendo o sucesso de sua cura, ele, então, desesperado, a injeta no pai e tudo dá certo. Cinco anos se passam, César agora é um inteligentíssimo e grande chimpanzé que se comunica com Will, Charles e Caroline Aranha (Freida Pinto), a namorada veterinária de Will. Mas, claro, a desgraça se abate na família: César, que vive uma vida protegida em uma casa de subúrbio, acaba se envolvendo em uma briga depois que a doença de Charles reaparece e acaba sendo levado a um abrigo de símios comandado por John Landon (Brian Cox) e seu filho Dodge (Tom Felton). Lá, César passa a entender exatamente a natureza dos humanos e o porquê de ele ser tão especial em relação aos seu colegas de prisão. Uma rebelião começa a tomar forma na mente super-desenvolvida de César. Em outra linha da estória, uma variação do ALZ 112, o ALZ 113, começa a ser testado, com resultados desastrosos para os humanos.

O grande show desse filme é a tecnologia de captura de performance. Andy Serkis, que viveu Gollum na trilogia O Senhor dos Anéis e King Kong, na refilmagem de 2005 de Peter Jackson, dá vida brilhantemente ao César adulto. As feições símias do animal mesclam-se com a atuação de Serkis, ao ponto que não conseguimos ver onde começa um e acaba o outro. Não é, talvez, uma atuação para Oscar mas, certamente, o que Serkis faz em "A Origem" é tão impressionante que os demais atores desaparecem completamente, com exceção de John Lithgow. Mas não é só César que é objeto da computação gráfica. Os demais macacos também são apenas frutos de bits e bytes é há captura de performance nos principais. Apenas aqui e ali, os efeitos deixam a desejar, especialmente nas cenas em que César aparece ainda bebê.

Mas o filme - ainda bem - não é só efeitos especiais vazios, sem uma boa estória por trás. "A Origem" tem roteiro enxuto, que nos permite realmente acreditar no que está acontecendo nas telas: símios derrotando humanos em combate. Ok, é bem verdade que o terço final do filme, unicamente dedicado à revolta de César e seus seguidores, exige um esforço maior do espectador para acreditar no que está vendo. Isso porque César usa técnicas de batalha que dariam inveja ao imperador romano de quem seu nome foi tirado. No entanto, tudo isso vem em benefício do espetáculo, da grandiosidade e, também, da narrativa. No começo, vemos César, o animal de estimação. Depois, é César, o irmão mais novo de Will, mas ainda um ser inferior. Em seguida, depois que César descobre como os humanos tratam seus pares, vemos César o revoltoso. Ao final, vemos César, o conquistador, em um verdadeiro - e impressionante - arco de crescimento de personagem. Reparem só na cena em que César se recusa a ir para casa com Will, depois de encarcerado. Vejam a expressão do símio olhando para Will e, depois, ao se virar, olhando para a parede. Serkis e os magos da computação gráfica que trabalharam nesse filme merecem aplausos.

O diretor, Rupert Wyatt, trabalhando em cima de eficiente roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver que, por sua vez, beberam das aparentemente inesgotáveis fontes que são o livro de Pierre Boulle e os filmes da década de 60 e 70, nos apresenta um filme com bela fotografia e grande construção do personagem principal, além de uma tocante, ainda que breve, atuação de John Lithgow como o pai de Will. Lithgow faz a única atuação humana que merece nota no filme. Os demais têm, apenas, papéis burocráticos. Tenho para mim, porém, que Wyatt diminuiu o enfoque das atuações humanas exatamente para fazer com que o filme seja a estória dos símios contada pelos olhos de César. Na verdade, na medida em que César cresce, menos vemos James Franco no filme e, quando a revolta começa, Franco não é muito mais do que uma lembrança saudosa lá no fundo da mente de César.

Mas Wyatt e a dupla de roteiristas não se contentaram em fazer um filme completamente novo, sem ligação com a mitologia anterior. Eles conseguiram, de maneira brilhante, adicionar elementos dos filmes originais (principalmente do primeiro) que não obstruem a trama. Vão desde as frases famosas de Charlton Heston até o nome dos símios enjaulados, passando por um outro elemento que de tão bem costurado na trama, permite aos mais atentos a conclusão de que esse filme é um prelúdio do primeiro, como disse no primeiro parágrafo. Quem já viu o filme e quiser se divertir com as inúmeras referências e homenagens à mitologia, dêem um pulo nesse site aqui, em inglês.

A mais importante referência, porém, é a menção a um vôo tripulado para Marte comandado por um astronauta chamado Taylor e que, na segunda parte do filme, conforme vemos nos jornais, desaparece misteriosamente. Fica evidente o possível gancho com o Taylor do primeiro filme (Heston). Por isso, "A Origem" pode ser visto com um prelúdio do filme original, assim como pode ser uma refilmagem de A Conquista do Planeta dos Macacos, já que a base narrativa é a mesma, apenas com efeitos muito superiores e uma explicação científica que faz sentido. Ainda por cima, é possível também concluir que esse filme explica, de certa maneira (ênfase no "certa maneira"), o último final surpresa do filme de Tim Burton, de 2001. E Wyatt fez tudo isso sem recorrer a viagens no tempo!

O trabalho de Wyatt, porém, não é perfeito. A crítica social que permeava todo o primeiro filme desaparece por completo em "A Origem". Em seu lugar, temos uma fraca tentativa de se criticar experiências com animais e falar da crueldade com animais em geral. Mas esse aspecto fica mesmo só na tentativa pois não tem uma resolução satisfatória e nem mesmo é destaque na trama. E o final em si não é bem um final, pois serve quase que unicamente para criar um gancho para uma continuação. Não que Wyatt tenha feito o que Tim Burton fez em 2001, martelando um final qualquer (ainda que eu não desgoste completamente). Wyatt foi bem mais comedido e, fugindo do padrão da série, não fez um final surpresa, apenas lógico mas que não fecha completamente a trama. Há uma pequena cena no meio dos créditos mas que é bem desnecessária já que o acontecimento lá retratado fica mais do que evidente no desenrolar da trama. No entanto, tenho certeza que a produtora exigiu esse fim para deixar ainda mais clara a questão.

De toda maneira, Planeta dos Macacos - A Origem (não poderiam ter traduzido como A Origem do Planeta dos Macacos só para combinar com todos os demais títulos?) é um excelente filme e uma verdadeira surpresa. Aliás, é a segunda surpresa vinda da Fox esse ano, pois X-Men: Primeira Classe é um dos melhores filmes de 2011 até agora, para minha total perplexidade.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 9 de 10

12 comentários:

  1. Também gostei muito! Agora, que o Cesar é sinistro, isso é. Impressive!

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  2. Mais sinistro é aquele chimpanzé caolho com cicatriz... Aquele bicho dá medo...

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  3. Caramba, você REALMENTE gostou do filme! Achei muito interessante, e concordo com você no que diz respeito aos atores e ao filme ser desse porte envolvente que é.

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  4. Muito ansioso para assistir. Assim que for possível, quero conferir suas opiniões.
    Abs.

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  5. O filme é bom, o roteiro é redondinho. Só que pra mim faltou aquele clima de estar de fato no planeta dos macacos.

    E tem 2 aspectos que eu considerei negativos: Recorrer a manipulação genética/cura de doença pra explicar a inteligência dos macacos é bem clichê! Inclusive essa mesma premissa(cura para o alzheimer) já foi usada anos antes no filme Do Fundo do Mar para justificar tubarões inteligentes.

    A outra falha pra mim foi relacionar o gás que torna os macacos inteligentes com a queda dos humanos. Muito cômodo para o roteiro usar o mesmo gás para justificar a evolução de uma espécie e a extinção de outra.

    Por isso eu não considero esse um prelúdio do primeiro. Prefiro muito mais acreditar que a humanidade se destruiu sozinha e que depois de anos de evolução natural os macacos chegaram ao domínio do planeta, como é sugerido no original!

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  6. Hoje eu li que já definiram a continuação, que se chamará "Dawn of the Planet of the Apes", algo como "O Despertar do Planeta dos Macacos". Aqui talvez se chame "Planeta dos Macacos - O Despertar". Sua estreia americana será em 23.5.2014. Estou curioso!
    E citando o Rafael, a visão dele exposta em seu último parágrafo, embora não seja condizente com o romance de Pierre Boulle, era justamente a mensagem do filme original com Charlton Heston. Pois, excluindo as continuações, que ninguém saberia se teria ou não quando o filmaram, a mensagem era a da Guerra Fria. Isto é, Taylor chega a um futuro onde a Terceira Guerra (a nuclear) teria acontecido mesmo. Esta era a mensagem em época pós-crise dos mísseis cubanos. Mas como foi um megassucesso, pegaram o livro de Boulle e desenvolveram toda uma saga relacionando o fim da humanidade com a ascensão da macacada. Ficou legal, mas se tivesse ficado só na Guerra Fria, acho que o filme teria um impacto mais memorável!
    Mesmo assim, curto demais todos os filmes da série. Fazer o quê? São muito bons!

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."