terça-feira, 7 de junho de 2011

Crítica de filme: X-Men: First Class (X-Men: Primeira Classe)

Tudo o que vi e ouvi sobre X-Men: First Class me deixou alarmado: personagens “Z” dos quadrinhos, uma indefinição sobre o que é o filme (um prequel, um reboot?), material de divulgação horroroso parecendo que foi feito por fãs, um diretor pouco testado (Matthew Vaughn), produção a toque de caixa e o fato de os últimos dois filmes dos mutantes terem sido muito ruins (no caso do último, péssimo na verdade).


A situação melhorou quando os trailers foram liberados, mas ainda fiquei com os dois pés atrás. No entanto, apesar de toda impressão ruim, o filme é sensacional, talvez a melhor adaptação de quadrinhos já feita, junto com The Dark Knight e Superman – O Filme (o primeirão lá de Richard Donner).

Na verdade, o filme é tão bom que talvez – em termos de adaptação de quadrinhos – ele seja ainda melhor que The Dark Knight, que é o supra-sumo da categoria. Minha teoria é simples: The Dark Knight é um filme adulto, baseado em um personagem de quadrinhos mas que não parece ser tirado de quadrinhos. É material para Oscar até. First Class parece mais efetivamente retirado das páginas dos quadrinhos, não da revista homônima que nunca li mas sei que não é com os mesmos personagens – mas sim dos quadrinhos como um todo. Há roupas espalhafatosas, poderes extravagantes, ótimas cenas de ação inseridas em um contexto histórico e um roteiro oras bom e sério e outras vezes completamente piegas, na fronteira do mal escrito.

Mas quadrinhos de super heróis são assim mesmo, com todas as características acima, especialmente se levarmos em consideração os quadrinhos da chamada Era de Prata, quando os X-Men foram criados e quando esse filme se passa. Em todos esses quesitos, First Class se mostra ainda melhor que The Dark Knight ainda que, claro, o filme do sisudo Batman seja uma obra mais completa e perfeita e absolutamente independente do fato de ser ou não baseada em quadrinhos.

No entanto, eu divago. O que me impressionou em First Class foi a qualidade da escalação do elenco. Michael Fassbender constrói um excelente Erik Lehnsherr (futuro Magneto), um homem que viu e sofreu os maiores horrores nas mãos dos nazistas e acabou tornando-se um caçador de nazistas, usando seu incrível poder sobre o magnetismo para alcançar seu fim da maneira mais violenta possível. Vemos em Erik alguém com quem podemos facilmente nos identificar e, ao mesmo tempo, na medida que o filme passa, vemos sua transformação na criatura que, no futuro, causaria muitas mortes com base no mesmo raciocínio extremista daqueles que ele passou a vida caçando. É difícil não torcer por Erik pois Fassbender  o vive com credibilidade e, acima de tudo, apesar do contexto "super-heroístico", com humanidade. 

Mas Erik não seria Erik sem o outro lado da moeda, o Professor Charles Xavier, vivido por James McAvoy. Diferente do Professor X a que somos apresentados na trilogia X-Men, Charles é um bon vivant, divertido e relaxado, ainda que suas teorias sobre os mutantes - ainda em sua versão preliminar - já estejam claras em sua mente.

Quando jovem, a família de Charles adota Raven, a mutante Mística (a bela Jennifer Lawrence) e os dois vivem e estudam juntos. Quando Raven é apresentada a Erik, as coisas começam a gradualmente mudar pois Erik, por incrível que pareça, aceita mais os mutantes como eles são do que o próprio Charles, mostrando que nem tudo no mundo dos super-heróis é branco ou preto. Há diversas tonalidades de cinza.

A estória é daquelas megalomaníacas, no melhor estilo 007: Sebastian Shaw (Kevin Bacon), um mutante muito poderoso e com uma estória em comum com Erik, começa a manipular as super potências mundiais para que elas entrem em conflito. Os X-Men, recém criados pelo governo e ainda sem nenhum treinamento, são jogados no meio da quase guerra que foi o conflito dos mísseis de Cuba. O pano de fundo verdadeiro para uma estória fictícia funciona perfeitamente, de maneira natural e bem construída, algo raro em filmes dessa natureza. Talvez tenha sido Bryan Singer (diretor dos dois primeiros filmes) o grande responsável por essa unicidade pois ele finalmente voltou à franquia dos mutantes em First Class.

Vemos uma série de personagens coadjuvantes desfilando na nossa frente mas todos eles recebem a atenção necessária. O Fera (Nicholas Hoult) não aceita quem ele é e tenta de toda maneira "curar" aquilo que considera ser uma aberração; Destrutor (Lucas Till) e Banshee (Caleb Landry Jones) não sabem controlar seus poderes e Mística tem um papel que só vai crescendo ao longo do filme.

Do lado dos "bandidos", temos o excelente canastrão Kevin Bacon na pele de Sebastian Shaw vivendo um daqueles vilões tirados dos filmes do 007: espalhafatoso, cheio de geringonças bacanas e com planos mirabolantes. Sua mão direita, Emma Frost, é vivida por January Jones, da excelente série Mad Men. Seus poderes de telepatia e de se transformar em diamante não fazem lá muito sentido mas tudo vale para ver a bela atriz - que se revela bem limitada em atuação aqui - com reveladoras roupas. 

Os demais personagens do lado de Shaw, Azazel e Maré Selvagem, não têm o menor desenvolvimento mas cumprem sua função de ilustrar ótimas cenas de ação, como a invasão do conglomerado governamental onde os jovens mutantes estão hospedados. 

No entanto, como era de se esperar de um filme que foi colocado no fast track da Fox e acabou saindo em apenas um ano, ele não é sem defeitos. Na categoria maquiagem, o que fizeram com o Fera e com a Mística teve resultados risíveis. Na categoria roteiro, alguns diálogos como o constrangedor "Beast.... Mutant and Proud" poderiam ter sido cortados mas, dentro do conceito de transposição de diálogos de quadrinhos para as telas, diálogos esses notoriamente simplistas e superlativos, até que os vários roteiristas acabaram fazendo um bom trabalho. E o mais bacana ainda é que os roteiristas ainda fizeram esforço para encaixar esse filme na mitologia já estabelecida pelos demais filmes, respeitando muito da mitologia dos quadrinhos dos personagens. 

É claro que há inconsistências se você for um daqueles chatos que ficam vendo cada detalhe da trama para comparar com os outros filmes ou se você for um daqueles fãs que não aceitam quaisquer mudanças em personagens. Eu respeito esse tipo de sentimento mas discordo fortemente.

Mas todos os defeitos são pequenos se comparados com o espetáculo inebriante que vemos na tela. Efeitos competentes criam uma excelente batalha final e o embate de mentes entre Erik e Shaw e entre Erik e Charles impulsionam o filme de maneira certeira e brilhante. 

E isso sem contar com as duas pontas muito bem boladas no filme, uma delas com o melhor "F bomb" de um filme PG-13 que já vi em minha vida (nos EUA, filmes PG-13 só têm direito a uma "F bomb").

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 10 de 10

9 comentários:

  1. Gostei da crítica, quero ver logo esse filme, desde criança sou fissurada no universo Marvel.

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  2. estava na dúvida, agora é certo de ir logo ver o filme, valeu!

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  3. Esse filme vez com que pela primeira vez um publico aplaudiu um filme no cinema daqui. O ator que faz Magneto mostrou tanta competência quanto o da trilogia original, e a direção foi sensacional! A cena da transformação do fera, e o treinamento dos mutantes foram perfeitas! Sem duvida a nota não poderia ter sido diferente da que foi dada aqui. Parabéns pela ótima critica.

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  4. Ois.
    Alguém poderia me explicar essa parte?!
    "E isso sem contar com as duas pontas muito bem boladas no filme, uma delas com o melhor "F bomb" de um filme PG-13 que já vi em minha vida (nos EUA, filmes PG-13 só têm direito a uma "F bomb")."
    Não sei o que é "F bomb", nem PG-13.
    Obrigada

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  5. @ Ana:

    "Fbomb" é como os americanos se referem aos palavrões em filmes. Basicamente é o uso de "fuck", daí a tal "Bomba F".

    Sobre PG-13, é a classificação etária nos EUA dada a esse filme. Significa que o filme é recomendado somente para maiores de 13 anos.

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  6. Obrigada pela resposta! E depois de ter visto pela segunda vez o filme no cinema, eu nem lembro de palavrão nenhum... Onde foi isso?!
    E parabéns pelo blog, muito bom.

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  7. @ Ana:

    SPOILER

    Acontece no momento em que Erik e Charles vão recrutar Logan (Wolverine) em um bar, com Hugh Jackman fazendo a ponta mais bacana do filme.

    Eis o diálogo(em inglês):

    Erik: Excuse me, I'm Erik Lehnsherr.
    Charles: Charles Xavier.
    Logan: Go fuck yourself.

    Obrigado pelo elogio e por ler o blog! Seus comentários e perguntas serão sempre bem vindos.

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  8. Putz! Agora lembrei... Os americanos levam isso de palavrão muito a sério, aqui no Brasil qualquer comédia romântica tem o triplo disso e é considerada livre.

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  9. @ Ana

    He, he.

    Gosto muito de nossos amigos lá no norte mas que eles são hipócritas, eles são! :-)

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."