quinta-feira, 23 de junho de 2011

Crítica de filme: Cars 2 (Carros 2)

Podem falar o que quiser da Pixar mas, com pequenos gestos, ela se mostra uma sensacional empresa de entretenimento, talvez a maior de todas. Doc Hudson, o juiz da cidade de Radiator Springs e mentor de Relâmpago McQueen no primeiro filme, tinha a voz de ninguém menos do que Paul Newman. Esse grande ator faleceu em 2008, dois anos depois do lançamento do primeiro Carros e a Pixar teve a decência - e aí minha menção aos "pequenos gestos" - de matar o personagem em Carros 2 e, ao mesmo tempo, mostrar respeito por ele nas falas dos protagonistas. Uma delicada homenagem a um dos maiores nomes do cinema.


Dito isso, Carros 2 é, para usar trocadilhos como gostam de fazer alguns críticos, a primeira grande "derrapada" da Pixar. Saem as cuidadosas construções de personagens e roteiros impecáveis que caracterizaram os 11 filmes anteriores da produtora e entram as explosões, destruições e um dilúvio de personagens novos conforme determina a cartilha padrão de Hollywood para continuações desnecessárias.

O primeiro Carros é geralmente considerado como o pior filme da Pixar, ainda que os detratores sempre tenha o cuidado de ressaltar que, mesmo assim, é superior à maioria dos filmes animados que são oferecidos por aí. Particularmente, considero Carros apenas ligeiramente inferior ao mais fraco filme da Pixar, Vida de Inseto, de 1998. Ou seja, Carros é, no meu livro, uma pequena obra-prima, mesmo que seu público-alvo seja mais claramente o infantil, um desvio nas estórias da Pixar que consegue como ninguém equilibrar a balança entre crianças e adultos.

Com Carros 2, a Pixar fez seu primeiro filme sem identidade. Ao mesmo tempo que é declaradamente feito para crianças, tem uma trama confusa de espionagem envolvendo o uso de combustíveis alternativos e não tem corridas de verdade, o que pode alienar os pequenos. Sim, é verdade que há vários carros e outros meios de transporte (aviões, guindastes e coisas do gênero) novos para vender mais brinquedos mas isso somente não ajuda os pequenos a grudarem na tela como as corridas e a trama simples mas bem amarrada do primeiro ajudavam.

As mensagens "subliminares" da importância da amizade e de se aceitar as pessoas como elas são não são nada subliminares. Elas estão didaticamente colocadas a cada segundo da trama e são repetidas à exaustão, algo pouco característico da Pixar. Isso tudo mais a desconexão do roteiro e a quantidade de explosões e pirotecnias acabam alienando até os adultos.

Mas, por mais que a Pixar tenha trocado os pés pelas mãos em Carros 2, nem tudo se perde. Para começar, a qualidade da computação gráfica é incrível. As recriações de Tóquio, Paris, Londres e uma fictícia Porto Corsa (na Itália) são deslumbrantes. O mesmo vale para os designs geniais dos novos personagens (até a Rainha da Inglaterra na versão automobilística o filme tem). Os trocadilhos constantes com tudo do mundo automobilístico são ótimos, até mesmo quando são para lá de óbvios e desnecessários como o "Big Bentley" no lugar do Big Ben em Londres.

Fin McMissile (no original com a voz de Michael Caine) é uma excelente adição à lista de personagens memoráveis de Carros, talvez a única realmente digna de nota. Ele é um agente secreto britânico que acaba confundindo o caipira Mate com um espião americano, envolvendo-o em uma trama internacional de sabotagem de um novo combustível alternativo chamado Allinol. Assim, todo o foco de Carros 2 está na trama de espionagem, com as corridas como pano de fundo apenas. Mate torna-se o protagonista e McQueen é visto apenas aqui e ali, quando conveniente para a trama ou quando John Lasseter (o diretor e o chefão dos departamentos de animação da Pixar e da Disney) se toca que o carrinho vermelho era o principal no primeiro filme.

Não achava que esse dia chegaria mas posso dizer que Carros 2 não está na "escala Pixar" de filmes animados, que começa a partir da nota 10 (por exemplo, a nota 8,5 que dei para Toy Story 3 significaria 18,5 no mundo normal das animações). Carros 2 não só não alcança a nota 10 das animações não-Pixar com nem chega perto, sendo apenas mais uma entre tantas outras. É certamente uma boa diversão para a família mas não muito mais do que isso. É a melhor chance de algum outro estúdio levar o Oscar de melhor filme animado (meu voto, até agora, fica com Rango, da Paramount e ILM).

De toda forma, a Pixar merece o crédito e tem o direito de errar depois de 11 acertos consecutivos. Espero que, com isso, o desejo do estúdio de sair fazendo continuações (a próxima será Monsters University, em 2013, continuação de Monsters, Inc.) diminua e John Lasseter parta para roteiros 100% originais, como é o caso de Brave, o lançamento do estúdio para 2012.

Ah, já ia me esquecendo. Como de praxe, há um curta metragem antes de Carros 2 chamado Férias no Havaí que conta com os personagens de Toy Story. Ele conta a estória dos brinquedos tentando compensar a frustração de Barbie e de Ken quando eles descobrem que não estão indo para o Havaí com sua nova dona. Não sei se a falta da qualidade Pixar em Carros 2 contaminou também o curta mas esse é o menos inspirado do estúdio, especialmente depois do incrível Dia & Noite do ano passado.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 7 de 10

3 comentários:

  1. Torço pra que não seja o fracasso que dizem que é.

    http://cinelupinha.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. 1º que eu me senti muito feliz ao saber que eu não sou a única a ter detestado (quer dizer dormido no) o primeiro... 2º que eu fui assistir ao segundo com uma criança de 5 anos, e acho que dei mais risada que ela (ou pelo menos ri mais alto)
    Bom, tudo é uma questão de perspectiva... Se você espera Pixar, se decepciona, se espera Disney, nem tanto...

    ResponderExcluir
  3. Carros 2 é ótimo como o primeiro e foi os dois melhores filmes da pixar mas o diferente só é o foco do filme que é em mate mas relanpago ainda leva uma lição que é a moral mas o filme não é de baixa , baixa é quem fala mal desse explendido filme da pixar.

    ResponderExcluir

Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."