terça-feira, 31 de agosto de 2010

Crítica de filme: Serenity


Serenity é uma produção cinematográfica dirigida por Joss Whedon em 2005 que funciona como fechamento para sua série de televisão meio faroeste, meio ficção científica Firefly. O que torna Serenity especialmente interessante não é o filme em si mas sim como ele acabou sendo feito.


Firefly, como muitos sabem, foi uma série de 2002 cancelada prematuramente, com apenas 11 episódios indo ao ar. Apesar da atenção que chamou, a audiência não foi grande o suficiente para justificar o investimento na cara produção. Isso acontece em televisão rotineiramente mas, no caso de Firefly, a situação tomou um vulto impressionante. Os fãs fervorosos se uniram e, em um esforço sem precedentes, conseguiram mostrar que haveria público ao menos para uma produção cinematográfica baseada na amada série de televisão. Há até um documentário sobre isso, intitulado "Done the Impossible: The Fans' Tale of Firefly & Serenity".

Com esse trunfo na manga, Joss Whedon conseguiu fazer com que a Universal comprasse os direitos de adaptação cinematográfica da série da Fox e iniciasse a produção de um longa-metragem. Uma campanha publicitária em três fases foi montada para introduzir o filme a um público que não conhecia a série e o lançamento ocorreu.

Mas deu tudo errado.

O filme custou 39 milhões de dólares à época e sua bilheteria total mundial não chegou a esse valor, o que fez com que a Universal amargasse um enorme prejuízo que, duvido, possa um dia ser compensado com a venda de DVDs e Blu-Rays. O fracasso, tenho para mim, se deu pela mesma razão que a série foi cancelada: os fãs eram e são fervorosos e muito vocais mas, ao mesmo tempo, são em número reduzido demais para criar massa crítica para um investimento dessa monta. Infelizmente, a chance que existia de o filme reiniciar o interesse pela série para que ela fosse renovada não mais existe e Serenity, juntamente com Firefly, ficarão para a história como um grande exemplo do poder dos fãs, para o mal ou para o bem.

Sobre o filme, fica bem difícil falar sobre ele sem contar o que é Firefly. A brilhante série de Joss Whedon conta a estória de um grupo de mercenários sob o comando do Capitão Malcolm Reynolds (Nathan Fillion) e suas aventuras fora da lei. Logo no início da série, a tripulação é acrescida de um casal de irmãos, Simon, um médico (Sean Maher) e River, uma garota desmemoriada e bem perturbada (Summer Glau).

Como o grande mistério da série é exatamente saber o que foi feito com River, é nisso que Joss Whedon foca sua atenção, começando com o momento, em flashback, de sua libertação por seu irmão, que investiu a fortuna e a carreira para salvá-la das garras do governo tirano. Mas Whedon consegue ir ainda além, nos premiando com uma excelente surpresa sobre a origem dos canibais espaciais chamados Reavers, que mal aparecem na série mas que a permeiam quase que completamente. Não posso falar muito mais sobre isso sob pena de revelar segredos do filme.

A trama é bem construída e consegue, de maneira razoavelmente eficiente, contar uma estória sem necessidade de prévio conhecimento da série. No entanto, ver apenas Serenity significa, apesar dos esforços de Whedon, ver um filme através de um vidro turvo. A série amplia os horizontes e deixa muito clara a riqueza de detalhes que cerca a estória. Em determinado momento, por exemplo, Whedon, de maneira chocante e sem cerimônia, decide matar um de seus personagens. Sem ter visto a série, fica mais fácil aceitar o que acontece. Com a série, é um típico momento "esse Whedon só pode estar de sacanagem!" que te obriga a pausar e passar a cena novamente para acreditar.

Momentos como esse e personagens bacanas tiram Serenity da vala comum das ficções científicas mas a necessidade de conhecimento de toda uma série para seu aproveitamento total e os efeitos especiais no nível de uma série de TV impedem o filme de ser efetivamente sensacional. Foi, na verdade, um filme feito com carinho especificamente para os fãs algo que, receio, nunca mais vá acontecer na história do cinema nas mesmas circunstâncias.

Nota: 8 de 10

4 comentários:

  1. Cara, muito bom seu blog, tá nos favoritos. Baseado nos seus textos já escolhi uns três filmes para assistir!

    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Leandro. É bom ler elogios pois, normalmente, as pessoas só escrevem para esculhambar. Em breve, farei várias outras críticas.

    Abraços,
    Ritter Fan.

    ResponderExcluir
  3. Concordo com o autor, acabei de assistir a série e o filme, os 14 episódios que foram feitos, e na sequência que tinham sido criados, A série assim como o filme é fantástica, ainda mais considerando o fato que foi criada em 2003, eu sempre vi o filme na locadora, nunca assisti, e...ainda bem, tive o previlégio de ver a série primeiro, concordo também com alguns comentários na net, para mim, Jornada nas estrelas que se cuide, essa série era bem melhor, talvez não ganhe em efeitos, e imagem, mas há de tudo um pouco, é um bela mistura, e o filme realmente foi feito na medida para quem assistiu a série, eu acredito que o diretor já sabia que talvez não era rentável, não faria massa crítica e talvez também tenha deixado isso de lado, e feito o que fez, para mim um excelente filme, com um ótimo fechamento para a série.

    ResponderExcluir
  4. Daniel, obrigado por seus comentários.

    É difícil prever se Firefly seria mesmo melhor que Jornada nas Estrelas. Como eu não gosto de Jornada na Estrelas, tendo a concordar com essa conclusão mas, considerando o rico universo de Jornada, com várias séries e vários filmes, alguns sensacionais mesmo para quem não gosta de Jornada, a comparação é complicada.

    Eu diria, sem titubear que em Firefly vemos claramente elementos com a tendência de torná-la uma das 5 melhores séries de ficção científica.

    ResponderExcluir

Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."