sexta-feira, 12 de junho de 2009

Club du Film - Ano IV - Semana 16: 12 Angry Men (12 Homens e Uma Sentença)


Há pouco mais de três anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo (com pseudônimos, claro).

Filme: 12 Angry Men (12 Homens e Uma Sentença)

Diretor: Sidney Lumet

Ano de lançamento: 1957

Data em que assistimos: 02.06.2009

Crítica: Colocamos o filme para rodar sabendo que era um "filme de tribunal". No Club du Film, somos quase todos advogados e isso sempre quer dizer que o filme que veremos provavelmente é no mínimo bom. 12 Angry Men (12 Homens e Uma Sentença), porém, é o "filme de tribunal" mais atípico possível.

Primeiro porque de tribunal mesmo só vemos alguns segundos, quando o juiz, ao final das manifestações dos advogados das partes, passas as instruções para os 12 componentes do júri popular. Segundo porque é um filme de tribunal sem advogados, sem autor da ação, sem réu (a não ser um breve vislumbre do rosto dele), sem juiz (a não ser pelas já faladas instruções que ele passa ao começo) e sem o tribunal em si. Tudo se passa em uma sala apenas, com uma mesa, um banheiro, um ventilador, duas janelas e os 12 membros do júri conversando para chegar à uma decisão. 

Só sabemos do caso a partir das lembranças de cada um dos jurados, em ordem não cronológica. Não há flashbacks. Sentados à mesa, 11 dos 12 jurados decidem condenar o réu, o que significa que ele será morto já que o crime que ele teria cometido foi o assassinato do próprio pai. A decisão tem que ser unânime e os jurados querem ir para casa. O 12º jurado vota pela absolvição e então começa a briga solitária dele para mostrar que não dá para ter tanta certeza assim que o réu cometeu o crime.

Henry Fonda é o jurado dissidente e, em seu brilhante papel de um arquiteto calmo e ponderado, que começa a levantar dúvidas sobre o que viu e ouviu jurante o julgamento, ele dá um show. Sem nunca dizer que o réu é inocente, Fonda (o jurado nº 8 pois ninguém tem nome nesse filme) vai semeando dúvidas onde a certeza antes existia. Ele tem que mostrar que há "reasonable doubt" e que, com isso, os jurados não podem condenar ninguém. O trabalho do ator, no começo solitário, é fantástico e digno de Oscar (que ele não ganhou, por sinal). 

No entanto, mais fantástico ainda é o que os 12 jurados representam. Cada um deles representa um microcosmo dos Estados Unidos em 1957. Há o imigrante astuto que sofre preconceito, o trabalhador de baixo nível social que é preconceituoso, o publicitário falastrão e raso, o idoso orgulhoso, o líder natural, o pai durão com uma pesada carga de culpa e outros. As diferenças sociais e psicológicas de cada um dos personagens vai aflorando de forma natural e bela. Os embates se intensificam na medida em que Fonda segue mostrando, de forma inabalável, que os fatos que foram expostos durante o julgamento não poderiam ter acontecido da forma como foram narrados pelas testemunhas. 

O preconceito americano (mas que não é exclusivo dos americanos), porém, é o que mais se mostra evidente. Afinal, o réu é um negro jovem que já entrou no tribunal derrotado e com a pecha de assassino. Ora bolas, o que mais ele poderia ser? E esse preconceito vaza nos discursos de pelos menos dois jurados, com a concordância de muitos outros. 

E, em cima disso tudo, há o diretor - Sidney Lumet - que utiliza apenas uma sala para dar um show de direção. A sala, muito quente, ajuda na sensação de claustrofobia que o filme passa e no desespero decorrente da certeza que há algo errado com o julgamento que os jurados acabaram de assistir mas que tão rapidamente decidiram condenar o réu. A iluminação, os close-ups, a colocação da câmera, o preto-e-branco, tudo funciona para dar ao filme uma sensação de realidade inacreditável. 

Acima de tudo isso ainda, há uma discussão sobre o próprio sistema de júri popular. Funciona mesmo? O filme é uma denúncia de um sistema falho ou um elogio a um sistema próximo do perfeito? As duas mensagens são passíveis de serem extraídas. Resta ao espectador escolher uma delas e, também, se identificar com algum jurado. E não se enganem, os espectadores vão se identificar com alguém; talvez não queiram dizer com quem, mas que se identificarão, ah, se identificarão...

Notas:

Minha: 10 de 10
Barada: 9 de 10
Nikto: 8 de 10

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