quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Crítica de livro: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres (Män som hatar kvinnor)

Os Homens que Não Amavam as Mulheres é o primeiro livro na chamada trilogia Millenium, nome extraído da revista que o personagem principal, Mikael Blomqvist, publica na Suécia. Escrito pelo prematuramente falecido autor sueco e jornalista Stieg Larsson, esse livro inaugurou uma febre pela trilogia, resultado em sua adaptação também para uma trilogia de filmes suecos (todos produzidos a toque de caixa e lançados em 2009) e, agora, uma nova adaptação, dessa vez norte-americana e ainda só desse primeiro livro, pelo diretor David Fincher.


Acontece que eu me sinto forçado a nadar contra a correnteza e afirmar que o livro é bonzinho apenas, quase medíocre, longe de ser sensacional como dizem por aí. E eu explico minhas razões para essa conclusão.

A trama começa lentamente com Blomqvist sendo condenado à prisão e ao pagamento de indenização por calúnia a um industrial sueco (Hans-Erik Wennerström) em vista de uma reportagem que escreveu. Blomqvist sabe que fez besteira e sabe que merece a condenação, mas também sabe que Wennerström é sujo e que esse baque destruirá sua carreira e, provavelmente, sua editora.

Mas eis que ele é convocado pelo industrial sueco aposentado, Henrik Vanger, para investigar a morte de sua sobrinha, Harriet, há 36 anos. Vanger desconfia fortemente que alguém de sua família foi o assassino e, por isso,  diz que a função de Blomqvist é escrever sua biografia, o que dá a perfeita desculpa para ele entrevistar os demais membros da família. A sardinha que Vanger balança na frente de Blomqvist para que ele aceite a missão quase impossível é a promessa de revelação de informações importantes que demonstram a sujeira por detrás do império de Wennerström. Mais para frente, para ajudar Blomqvist, a estranhíssima "geninha punk traumatizada" Lisbeth Salander (a tal "garota com a tatuagem de dragão", do título desse livro e dos filmes em inglês) é trazida para a trama.

A estória em si é muito interessante, pelo menos em sua concepção. O problema é a execução. Para começar, Larsson investe páginas e mais páginas para discutir o dilema moral por que passou - e ainda passa Blomqvist - considerando que, mesmo sendo ele um consagrado jornalista, falhou ao apurar fatos sobre Wennerström para criar um artigo de cunho sensacionalista. Essa parte da estória é tudo que nós não esperamos de um romance sobre a investigação de um crime e é essa parte, na verdade, que me chamou mais atenção pelo seu frescor e originalidade. Todos os detalhes das razões que levaram Blomqvist a fazer o que fez são explorados, construindo um personagem complexo e muito interessante.

Mas aí Larsson meio que esquece essa parte da trama e começa uma nova, relacionada com a investigação do crime no seio da família Vanger. Seria ótimo se uma parte tivesse efetiva influência sobre a outra mas, na verdade, são duas estórias separadas que se encontram só bem no finalzinho e, mesmo assim, por um deus ex machina bem safado. E, pior, a investigação, levada à cabo na desolada e gelada região onde mora a família Vanger, é pouco interessante, com uma resolução apressada e dois epílogos patéticos, forçados e extremamente óbvios.

Toda a personalidade interessante que Larsson incutiu em Blomqvist na primeira parte dá lugar a um cara chato, amargurado e com pouca vontade de fazer alguma coisa. Em cima disso, o autor ainda introduz Lisbeth Salander com suas próprias e também interessantes estórias particulares, a principal delas envolvendo estupro e vingança. No entanto, Salander é aquele personagem-armadilha, criado para mostrar como o autor é "bom" e como os leitores engolem qualquer coisa. Não que Salander não seja intrigante mas, dentro da trama maior, ela parece uma maneira que o autor encontrou para "encher linguiça". Ela é magérrima, calada, super nerd e inteligente. Além disso, tem uma certa beleza, é órfã, toda tatuada e sem uma definição sexual pré estabelecida. Ou seja, uma perfeita maneira de fisgar um público que precisa de personagens "fora do comum", "bacanas" e que desafiam o "senso comum".

No entanto, Salander é um personagem forçado no livro, uma muleta na verdade. Ela está ali mais para desfilar suas esquisitices e traumas do que para contribuir para a resolução do caso ou mesmo para o andamento da estória. Aliás, ela pouco faz de verdade.

E os dois epílogos são de dar dor nos olhos. Um deles, relacionado à uma surpresa (que não contarei, fiquem tranquilos) é tão óbvio que me fez rir. Fico imaginando se alguém que não seja marinheiro de primeira viagem em livros de mistério e crimes realmente não descobriu o que acontece no final no máximo lá pela metade do livro. O outro, já voltando para a estória de Wennerström e meio que mal e porcamente fechando o círculo, é empurrado goela abaixo além de ser tratado de maneira apressada pelo autor.

Mas vejam: não é um livro terrível. Apenas não chega a ser realmente bom. Ele até diverte por algumas horas se você não for exigente mas não esperem muito mais que isso.

Nota: 5 de 10

6 comentários:

  1. Pelo o título é um livro que não me chama atenção para a leitura, portanto não me interessei em ler e, agora com sua critica não vou ler mesmo, se quero ler livro de investigação criminal leio Agatha Christie.

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  2. Parabéns fazendo critica também de livros gostei poderia sempre postar a critica de um livro. a cabana, a menina que roubava livros, o caçador de pipas, a cidade do sol, ponto de impacto

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  3. Não concordo com sua visão de Lisbeth como uma personagem muleta, na verdade, ela tem o seu charme por suas diferenças, e tal,concordo, mas tá longe de ser muleta, talvez no primeiro livro isso não fique tão claro, mas sim Lisbeth é a principal, eu diria mais até que Mikael. Ela é uma mulher vítima de violência ( ódio dos homens que não amam as mulheres), e seu modo de agir, seu senso de justiça mira justamente esses homens e essa sociedade que comete ações e violência contra as mulheres, é a sua vingança, os dois livros seguintes, continuam nessa trajetória, e o caso investigado é justamente Lisbeth, e uma série de acontecimentos, violência que viveu desde a sua infância. Ela é o tema dos livros seguintes (apesar de achar toda a história sobre ela pouco realista), mas é. Mikael é por assim, uma imagem do autor do livro, tendo bastante similaridade com ele, pode se dizer que é o principal, pode, mas Lisbeth é mais ao meu ver, e é além de tudo o reflexo do tema principal investigado.

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    1. Concordo com você, Cíntia. Confesso que esperava ansioso por cada capítulo que tratava de Salander. Personagem de uma singularidade e originalidade cativante. Estou ansiosíssimo para ver o filme norte-americano do livro 1(chega para mim semana que vem com o volume 2 da Trilogia Millennium) e iniciar a leitura dos volumes seguintes. Um abraço.

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    2. Concordo com o ponto de vista da Cíntia. Salander está longe de ser uma personagem muleta. Citando apenas um exemplo, diante de tantos, ela quem desvenda toda a sujeira de Wennerström. E mais: ela é aquela pessoa que todos desprezam e julgam, mas que choca com seus comportamentos e temperamentos muitos deles inesperados. Ela é um espelho que tem o poder de revelar males coletivos.

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  4. Devorei o livros nestas duas últimas semanas (não o concluí antes devido ao tempo escasso de lazer que tenho) e defino-o como um livro bárbaro e de um enredo muito bem estruturado e interessante. A temática, muito pouco explorada em livros, cativa por sua singularidade e os personagens, em especial Lisbeth Salander, nos prendem na história e ao término garantem aquela sensação gostosa de "quero mais". Semana que vem inicio "A menina que brincava com fogo" já com muitas expectativas. Pelo que li de vários críticos e leitores da Trilogia, não me decepcionarei.

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."