sábado, 24 de dezembro de 2011

Crítica de TV: Sherlock - 1ª temporada


Sherlock Holmes, criado em 1887 por Arthur Conan Doyle, médico e autor escocês, é, talvez, um dos personagens fictícios mais famosos do mundo. Transposto para as telas de cinema e da televisão incontáveis vezes, o maior detetive de todos os tempos ganhou, em 2009, nova versão cinematográfica reimaginada, batizada simplesmente de Sherlock Holmes, estrelada por Robert Downey Jr. e Jude Law (como Watson) e dirigida por Guy Ritchie. No entanto, o filme de Ritchie, apesar de se passar na era vitoriana, trouxe um Sherlock Holmes mais na linha do que se espera de filmes de ação atuais, com ação insana e mistérios mais simples para consumo da massa (com a trama devidamente explicada de maneira bem didática).


Mas por que falar do filme de 2009 se a crítica é sobre a série de TV da BBC, de 2010? Primeiro, porque a comparação é inevitável. Segundo, porque a série efetivamente mostra um Sherlock mais próximo ao dos livros do que no filme de Guy Ritchie: um intelectual com muito pouco trato social que é brilhante na investigação dos crimes mais estranhos.

E olha que a série se passa nos dias de hoje, com celulares, computadores e automóveis. A transposição dos personagens e das estórias para os dias atuais não prejudica nem um pouco pois os roteiristas souberam tratar o material com todo o respeito que ele merece. Não que o filme de Ritchie seja ruim, longe disso, apenas não trouxe o verdadeiro Sherlock Holmes de volta às telas. Mas na telinha da BBC, temos o espírito do personagem mais uma vez e é isso que conta.

Essa série também é interessante pois, no lugar da estrutura usual de episódios de 45 minutos, a BBC optou por fazer apenas três filmes de 90 minutos mais ou menos cada um. Apesar de estranho, a vantagem do formato é que ele evita correrias no desenvolvimento da trama e, também, que o espectador tenha que esperar uma ou duas semanas para a resolução de determinada estória.

Sherlock é vivido por Benedict Cumberbatch, ator de televisão britânico, que em breve será visto nas telas grandes em Tinker, Tailor, Soldier, Spy, filme baseado em obra de John Le Carré e protagonizado por Gary Oldman e War Horse, o próximo filme live action de Spielberg. Além disso, Cumberbatch fará a voz de Smaug, nos filmes que adaptarão o livro O Hobbit, de Tolkien. O ator faz um Sherlock jovem e completamente alijado da realidade do dia-a-dia. Ele tem a capacidade de olhar para uma determinada cena de crime e desvendar tudo o que se passou mas não sabe, por exemplo, que a Terra gira em torno do Sol.

Cumberbatch está magnífico com o grande detetive e faz um par perfeito com o Dr. John Watson, que é veterano de guerra do Afeganistão assim como o Watson original era veterano de guerra no mesmo país (só que no século XIX). Watson é vivido também de maneira irretocável por Martin Freeman, ator de O Guia do Mochileiro das Galáxias e também do futuro O Hobbit, em que fará o papel de Bilbo Baggins.

Além da grande escolha de atores, os roteiristas e produtores souberam iniciar bem a série. O primeiro filme (ou episódio, como queiram), A Study in Pink, é uma releitura do primeiro livro de Sherlock Holmes: A Study in Scarlet. Apesar de um início semelhante, o desfecho (para aqueles que esperam algo muito parecido ao livro) é completamente diferente mas igualmente interessante. A Study in Pink trata de suícidios em Londres que, apenas ao olhos de Holmes, não são suicídios, mas sim assassinatos. A estória revela, também, como os dois amigos se conheceram. É também uma perfeita oportunidade para nos acostumarmos com os trejeitos de cada personagem. Holmes fala rápido ao descrever uma cena e Watson fica como o interlocutor com os espectadores, fazendo as perguntas que gostaríamos de fazer. É uma típica estrutura de filmes dessa natureza mas que a química entre os dois atores faz funcionar perfeitamente. Vale destaque, também, para a linguagem visual de se colocar as mensagens de textos trocadas em celulares (sim, Holmes com celulares!) saltando na tela para nossa leitura.

O filme seguinte chama-se The Blind Banker e tem uma estrutura que deixa a desejar. Talvez mais confiantes em seu "produto", os produtores partiram para um filme que, por um lado, parece mais ousado mas, por outro, tem uma execução repleta de clichês (como uma flecha gigante apontada para a namorada de Watson e inimigos orientais provavelmente egressos da família Chang). Na verdade, o capítulo começa bem, com Sherlock sendo chamado para investigar um furto em um banco. Chegando lá, ele encontra símbolos pintados na parede e, de maneira absolutamente engenhosa, descobre que eles formam uma mensagem endereçada a um dos empregados. Mas, a partir da segunda metade do filme, ele fica muito clichê e dependente de reviravoltas para lá de mirabolantes. O tom mais contido do primeiro episódio foi meio que esquecido mas isso, ainda bem, não estraga completamente o segundo pois, ainda assim, temos Cumberbatch e Freeman apurando ainda mais a química entre eles.

O terceiro e último episódio chama-se The Great Game e é muito bem feito. Tudo começa com Holmes sendo contratado por seu irmão Mycroft para resolver um crime envolvendo um funcionário do governo. Holmes, claro, basicamente ignora seu irmão, para desespero de Watson. No meio disso tudo, um novo assassino começa a jogar um jogo mortal com Holmes. Ele coloca explosivos em pessoas e dá algum tempo para Holmes desvendar crimes completamente sem relação com a pessoa que está para explodir. Cada crime não tem, aparentemente, uma ligação com o anterior e vão desde mortes ocorridas há 20 anos até coisas recentes. Extremamente intrigante, com um final muito bacana. Sem revelar nada, tenho certeza que muitos vão estranhar a escolha de ator para fazer um personagem que aparece ao final mas eu, particularmente, achei no mínimo diferente e ousado e, exatamente por isso, minha curiosidade foi aguçada para a próxima temporada.

Aliás, a segunda temporada, também composta de 3 filmes de 90 minutos cada, começará a passar na BBC de Londres no dia 1º de janeiro de 2012. É esperar para ver.

Mais sobre a série: IMDB, TV.com.

Nota: 8,5 de 10

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