quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Crítica de filme: Hereafter (Além da Vida)

Está claro que Clint Eastwood já morreu mas teve seu cérebro transplantado para um andróide com sua aparência. É a única explicação para ele, no alto de seus poderosos, bem vividos e extremamente bem sucedidos 80 anos, não parar de fazer filmes e, melhor ainda, não discriminar gêneros. Tem muito diretor que deve morrer de inveja da vitalidade desse senhor.


Em um espaço de 10 anos, ele fez um filme por ano: uma comédia de ficção (Cowboys do Espaço, de 2000), um pesado drama policialesco (Sobre Meninos e Lobos, de 2001, que concorreu ao Oscar nas categorias melhor filme e diretor, dentre outras), um drama sobre boxe feminino (Menina de Ouro, de 2002 que levou o Oscar de melhor filme e direção, dentre outros), dois filmes sobre a guerra no pacífico, um sob o ponto de vista americano, outro sob o ponto de vista japonês (A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, de 2006, ambos concorreram ao Oscar, sendo que o segundo também por Melhor Filme e Direção), um filme de época sobre o desaparecimento de um menino (A Troca, de 2008), outro sobre um veterano de guerra que se envolve em briga de gangues em sua rua (Gran Torino, de 2008) e um filme sobre Nelson Mandela recém libertado da prisão clamando pela união de um país fragmentado por meio de um time de rugby (Invictus, de 2009).

Com Além da Vida, ele flerta com o espiritismo e já está preparando, para 2012, o filme J.Edgar sobre a vida do famoso diretor do FBI. Dizem, até, que já se comprometeu com uma nova refilmagem do musical (!!!) A Star is Born, tendo como atriz principal a Beyoncé (!!!).

Em suma, Eastwood merece todo o respeito possível. Talvez seja o maior diretor americano vivo hoje.

Mas Além da Vida não é um de seus melhores esforços cinematográficos. O filme, talvez pela falta de uma adjetivo mais adequado - e por não querer chamar um filme de Eastwood de ruim - é estranho. Estranho por que começa magistralmente com uma cena de tirar o fôlego do tsunami na Tailândia em 2006. Nunca vi e nem quero ver um tsunami pessoalmente mas o diretor conseguiu colocar o espectador - sem a moda do 3D, diga-se de passagem - imerso na destruição causada pela natureza. Essa cena inicial, responsável pela indicação do filme ao Oscar de efeitos visuais, é impressionante.

Estabelecido esse tom, porém, o filme para completamente e começa a nos mostrar a vida de três pessoas: Marie LeLay (Cécile de France), uma repórter parisiense que vivencia o tsunami, Marcus (Frankie e George McLaren), um menino inglês com problemas com a mãe drogada e, finalmente, George Lonegan (Matt Damon), um americano com poder paranormal de se comunicar com os mortos. Os três personagens têm estórias completamente distintas mas ligadas de forma tênue pela morte.

Mas tudo vai muito devagar em cada uma das três estórias. Eastwood não consegue criar um senso de urgência ou de perigo ou mesmo de dramaticidade em nenhuma das três partes paralelas do filme e isso acaba afastando o espectador. O tema - a vida após a morte - é instigante e tratado de maneira discreta, imparcial e bonita mas não é suficiente para tirar o espectador da apatia completa.

O final, apesar de completamente esperado desde o começo, acaba soando um pouco forçado, quase engraçado pela quantidade de coincidências. É verdade que tudo é passível de ser creditado ao "destino" ou aos "espíritos" mas Eastwood poderia ter feito tudo de maneira mais discreta.

Mas isso não significa que o filme seja imprestável. Além da cena inicial, que é imperdível, Matt Damon está muito bem no papel mais interessante do filme: um vidente que não consegue ter uma vida normal. Tudo que ele quer é não usar seu dom mas é algo inevitável na vida dele. Seu irmão quer aproveitar-se disso. Um possível caso morre de curiosidade quando descobre o que ele faz e por aí vai. O ator consegue encontrar um excelente equilíbrio entre timidez, medo e relutância. E Eastwood nos brinda com sua costumeira direção madura, atenta à detalhes e cheia de requintes.

No entanto, a estória fraca, pouco engajante e a desconexão entre os personagens principais torna o filme um  a das obras mais fracas do mestre.

Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.

Nota: 6 de 10

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