Há pouco mais de três anos, no dia 28 de dezembro de 2005, eu e alguns amigos decidimos assistir, semanalmente, grandes clássicos do cinema mundial. Esse encontro ficou jocosamente conhecido como Club du Film. Como guia, buscamos o livro The Great Movies do famoso crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, editado em 2003. Começamos com Raging Bull e acabamos de assistir a todos os filmes listados no livro (uns 117 no total) no dia 18.12.2008. Em 29.12.2008, iniciamos a lista contida no livro The Great Movies II do mesmo autor, editado em 2006. São, novamente, mais 100 filmes. Dessa vez, porém, tentarei fazer um post para cada filme que assistirmos, com meus comentários e notas de cada membro do grupo (com pseudônimos, claro).
Diretor: Luis Buñuel
Ano de lançamento: 1972
Data em que assistimos: 28.04.2009
Crítica: Na 15ª semana do Ano IV do Club du Film assistimos ao meu 12º filme por esse grande diretor. Não é nenhum segredo minha fixação por Buñuel. Adoro todos os seus filmes que oscilam entre obras primas irretocáveis e obras muito boas. O cara era um gênio.
Discreto Charme é seu antepenúltimo filme e quando eu achava que há havia visto os melhores dele (O Anjo Exterminador e A Bela da Tarde), eis que surge algo que consegue ultrapassar todas as minhas expectativas. Já imaginava que Discreto Charme seria sensacional mas não o melhor filme de Buñuel que vi até hoje.
O filme conta a surreal estória de 6 pessoas da classe média alta na França que tentam, tentam mas não conseguem fazer uma refeição juntos. Não tem mais estória que isso mas é brilhante mesmo assim.
Buñuel, em 1972, já havia há muito deixado sua fase puramente surrealista mas ele nunca realmente abandonou suas raízes. Em O Anjo Exterminador, Buñuel conta a estória de aristocratas que não conseguem sair de uma festa/jantar por razões misteriosas.
Em Discreto Charme, várias coincidências impedem que a refeição ocorra, começando com 4 das seis pessoas visitando o casal restante pois haviam sido convidados para o jantar. Ao chegarem lá, deparam-se com a mulher do casal totalmente despreparada e dizendo que o jantar era, na verdade, no dia seguinte. Assim, eles acabam saindo para jantar e chegam a um restaurante que estranhamente está com todas as mesas vazias. Depois de sentarem e discutirem um pouco sobre o que pedirão, eles começam a ouvir choros vindos de uma sala anexa. Ao investigarem, descobrem um morto que está sendo velado ali mesmo. Apesar da garantia dos garçons que o jantar será servido normalmente, eles obviamente deixam o local.
Situações como a acima se repetem por várias vezes com Buñuel aumentando o surrealismo um pouquinho a cada vez. Roger Ebert, o crítico de cinema americano, tenta explicar o filme, afirmando que a refeição é o ritual da burguesia criado para substituir a conversa pois os burgueses não teriam nada para conversar. Ok, é uma explicação interessante. No entanto, o próprio Buñuel, em sua autobiografia Meu Último Suspiro, que comentei aqui, afirma que suas obras não são para serem explicadas mas sim aceitas como são.
Com todo o respeito a Ebert, fico com Buñuel pois ele é o pai da criança. Ainda que se possa extrair um forte comentário social de Discreto Charme, interpretação que não está errada de forma alguma, o fato é que o filme me parece ser uma sucessão de sonhos e delírios do diretor (que também escreveu a obra, junto com Jean-Claude Carrièrre). Isso chega a ficar muito claro nos momentos finais da obra. O filme, aliás, foi indicado ao Oscar de 1973 por melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro. Acabou papando a estatueta de melhor filme, premiação mais do que merecida.
Breves comentários devem ser feitos sobre a escolha de atrizes por Buñuel. O cara era campeão. O elenco feminino de Discreto Charme é um espetáculo a parte. Stéphane Audran é um show por si só mas as demais não ficam muito atrás. É, talvez, o filme mais sensual do mestre depois de A Bela da Tarde, com a magistral Catherine Deneuve.
Notas:
Minha: 10 de 10
Klaatu: 10 de 10
Barada: 9 de 10
Nikto: 8 de 10
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