Só o tempo dirá se a série cinematográfica de Harry Potter terá o mesmo sucesso duradouro de Star Wars. Se levarmos em conta a legião de fãs que derramou dinheiro nos cofres da Warner e nos bolsos de J.K. Rowling pelos filmes e pelos livros do bruxinho, o potencial de Potter igualar-se à hexalogia (??) de George Lucas é muito grande, mesmo que não tenha o mesmo apelo no lado de merchandising. Particularmente, como já disse quando comentei o livro que deu base a esse (meio) filme, não sou fã do bruxinho mas, por ser fã de Star Wars (da trilogia original somente, para deixar claro), entendo perfeitamente e simpatizo com o que sentem os Pottermaníacos.
Quando fiz meus comentários sobre HP 6, deixei bem claro meu desprazer com a série cinematográfica. O grande problema - talvez causado pela legião de fãs, não sei - foi o tratamento do meio cinematográfico de maneira igual ao meio literário. Apesar de muitos reclamarem que, nos filmes anteriores, faltaram determinadas passagens do livro ou os diretores e roteiristas mudaram a "cor da barra da túnica de um professor que aparece em um parágrafo em um dos livros de Rowling", a grande verdade é que os filmes tentam transliterar os livros para as telas grandes, criando enormes desequilíbrios na trama. Cinema é cinema, livro é livro. Dentro do gênero fantasia, vale comparar com a trilogia do Senhor dos Anéis de Peter Jackson. Lá, Jackson, que também escreveu o roteiro, soube efetivamente adaptar, retirando importantes cenas dos livros, criando outros e dando relevância a personagens que mal apareciam na obra de Tolkien. Isso levou à criação de filmes irretocáveis, perfeitos exemplos de como adaptar um livro para o cinema.
Mas, provavelmente com medo de atrair a ira dos fãs e sob a supervisão intensa de Rowling, a Warner decidiu fazer o máximo possível para tornar os filmes cópias em movimento do livro, criando obras longas demais (HP 6, dirigido pelo mesmo David Yates de HP 7, partes 1 e 2, tem 153 minutos de um absoluto marasmo, em que nada acontece, a não ser nos 15 - e mal feitos - minutos finais). Assim, minhas esperanças para HP 7 eram nulas, especialmente quando soube que a Warner havia decidido extrair o máximo de leite da vaca, dividindo o último livro em dois filmes, nenhum deles com menos de duas horas.
Depois de ler o último livro, porém, a chama de minha esperança reacendeu um pouco pois Rowling soube, dessa vez, dividir a ação de maneira mais equilibrada, escrevendo um ótimo livro. Consegui, com a leitura, vislumbrar, sem fazer cara feia, uma efetiva - ainda que desnecessária - divisão do livro em dois filmes, coisa que, aparentemente, é moda agora (o último Crepúsculo e O Hobbit também serão desmembrados - também desnecessariamente - em dois filmes cada).
Um pouco da estória (contém SPOILERS do filme anterior somente): Harry Potter e seus amigos, agora sem Dumbledore, ao mesmo tempo que têm que fugir de Voldemort e dos Death Eaters, precisam localizar e destruir os horcruxes restantes, receptáculos das mais variadas naturezas onde Voldemort escondeu pedaços de sua alma. No meio da caçada, começamos a aprender um pouco sobre um passado sombrio de Dumbledore e sobre as Relíquias da Morte do título do filme.
Há um bom ritmo de ação nesse filme, que prende a atenção mesmo quando Harry, Hermione e Ron ficam meses exilados nos cantos mais remotos da Inglaterra. Esse tempo - um tanto contemplativo - foi bem utilizado por David Yates como uma espécie de calma antes da tempestade, ao mesmo tempo em que os atores (Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint) nos brindam com as melhores atuações de todos os filmes até aqui. É bem verdade que a atuação do trio nunca foi mais do que medíocre mas, em HP 7.1, eles demonstram que talvez tenham efetivo futuro fora dessa franquia, especialmente Emma Watson.
Outra manobra interessante de Yates para introduzir um assunto inventado (sem precisar) por Rowling no último livro é muito bem vinda: ele se utiliza de uma bela animação para apresentar a estória das Relíquias da Morte. Com isso, em momento em que o ritmo do filme começa a cair, o diretor consegue chamar a atenção do espectador com algo bastante original (pelo menos dentro da mesmice da série até aqui).
É bem verdade que esse filme acaba de forma aberta, como se fosse um cliffhanger de final de temporada de televisão, mas isso era óbvio e mais do que esperado, tendo em vista a escolha mercená... digo, artística de se dividir o filme em dois. Mesmo com isso, é fácil concluir que, até agora, HP 7.1 é o segundo melhor filme da série, perdendo apenas para o ótimo HP 3 (O Prisioneiro de Azkaban) dirigido pelo mexicano Alfonso Cuarón, que acabou imprimindo a estética sombria que veio a marcar a série desde então.
Aliás, sobre a estética sombria, não consegui entender a fotografia do português Eduardo Serra nesse filme: tudo escuro demais, quase impossível de distinguir algumas cenas. O início do filme, com Snape andando na direção da casa onde estão Voldemort e os demais Death Eater é um breu só e que continua quando ele entra na casa e atrapalha todas as demais cenas noturnas. E não é um escuro sombrio como o de Cuarón (e do ótimo fotógrafo Michael Seresin em HP 3) mas sim um escuro cuja única classificação que consigo dar é "irritante". Fico imaginando - e não vou ver dessa maneira, óbvio - como serão as cópias 3D da Parte 2, pois elas são obrigatoriamente ainda mais escuras.
Dentro das limitações de "ter que filmar o livro todo, tintin por tintin", Yates fez certamente seu melhor trabalho na série Harry Potter até aqui, ajudado por um bom material base de Rowling e, com isso, o filme conseguiu sair da mediocridade do capítulo imediatamente anterior, sendo efetivamente bom, com chances de, quando visto em conjunto com a Parte 2, ser talvez até melhor que HP 3.
Que a força esteja com Harry!
Mais sobre o filme: IMDB, Rotten Tomatoes, Box Office Mojo e Filmow.
Nota: 7 de 10
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