segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Crítica de filme: Rubber (Festival do Rio 2010 - Parte 13)

Leiam a sinopse oficial desse filme:

"Em algum lugar do deserto californiano, um pneu telepático acorda subitamente para uma missão demoníaca, isto é, assassinar todos os seres que vir pela frente. Os habitantes da região assistem incrédulos aos crimes cometidos por esta espécie de serial killer das rodovias, que sente-se (sic) misteriosamente atraído por uma bela jovem. Em paralelo, uma investigação é lançada."

Leram? Pois bem. Quando dei de cara com isso na revista da programação oficial do Festival do Rio 2010, não tive dúvidas, comprei o ingresso. Como não comprar? Era simplesmente doido demais para ignorar.

Quando começou o filme, minha primeira surpresa: é um produção francesa - não americana como seria de se imaginar - dirigida por um diretor francês, Quentin Dupieux. É falado em inglês mas a origem é lá do Velho Mundo. Muito interessante.

A outra surpresa que tive é que estava obviamente preparado para ver aquilo que está na sinopse. Um filme completamente nonsense que eu daria, no máximo, nota 5. Acontece que Rubber consegue ser mais do que aparenta. Sim, a besteirada toda prometida pela sinopse está lá intacta, da maneira que vocês podem - ou não - imaginar.

Acontece que há mais.

O filme começa com a câmera focando umas 10 ou 12 cadeiras pretas colocadas em pleno deserto da california. Um contador (Jack Plotnick) segura vários binóculos nas mãos. Ao longe, um carro chega e, vagarosamente, começa a derrubar cadeira por cadeira, que se desmancham ao mais leve toque. Depois desse ritual, o carro para e, do porta malas, sai um xerife (Stephen Spinella) todo paramentado, inclusive com os essenciais óculos escuros. Ele entrega os óculos escuros ao motorista que dá para ele um copo d'água. Em seguida, o xerife (seu nome é Chad) olha para a câmera e faz a pergunta: "Por que o E.T. de Spielberg é marrom?" Ele mesmo responde: "Não tem nenhuma razão" ("no reason")". E continua: "Por que em JFK, de Oliver Stone, JFK é assassinado?" E responde novamente: "Não tem nenhuma razão". Faz mais umas 5 perguntas, até mesmo sobre a vida real ("Por que não enxergamos o ar que respiramos?"), respondendo a todas as perguntas com "no reason". Termina seu discurso derramando o copo d'água no chão e a câmera se afasta para revelar que, na verdade, ele não estava falando conosco, mas sim com um platéia de 10 a 12 pessoas a quem são finalmente entregues os binóculos que estavam no contador. O contador aponta na direção em que eles têm que assistir ao espetáculo e o filme "Rubber" finalmente começa.

Quentin Dupieux fez mais do que ele poderia fazer com a sinopse que começa essa crítica. Ele fez de Rubber um metafilme, ou um filme dentro de um filme e a razão para isso? Ora, "no reason" é a resposta certa. É a mesma resposta que se dá para as perguntas "por que um pneu?" e "por que telepático?". Isso separa o filme da vala comum das idiotices completas que inundam o cinema mundo afora. Os espectadores estão cientes do que está acontecendo e acompanham o sanguinolento caminho do pneu assassino da mesma maneira que nós, espectadores, acompanhamos o que acontece com os espectadores.

Sobre o pneu, bem, ele faz mesmo aquilo que a sinopse promete e no momento em que a novidade das mortes do emborrachado psicótico desaparece, o que não demora muito, para dizer a verdade, Dupieux trata de acabar o filme. Novamente, mostrou inteligência.

Rubber é uma pérola. Uma sensação da Semana da Crítica do Festival de Cannes de 2010 que pode muito bem se tornar um daqueles filmes cultuados por aí.

Mais sobre o filme: IMDB.

Nota: 7 de 10

6 comentários:

  1. Gostei muito do filme, alias sempre gosto de coisas que saem do lugar comum, como vinganca, ou grandes viradas da vida. Realmente o diretor conseguiu "dar vida" ao pneu. Passa muito isso quando nosso amiguinho ve seus irmao serem " assassinados na fogueira"

    abs
    Mourinha

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  2. Filme genial. Para os usuarios do orkut,criei uma comunidade do mesmo.

    http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=113116563

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  3. O filme mostra mais do que "vimos".
    Diria que o diretor foi muito inteligente, e fez uma obra ao estilo "Donnie Darko".

    Quer saber mais sobre o filme ? Minha análise está na comunidade criada pelo Montanha.

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  4. O filme Rubber é simplesmente horrivel, chato, mediocre, mal escrito, mal dirigido. Não tem nada de cult, nem de inteligente. Apenas, uma originalidade: imaginar que um pneu tem vida e pensa. Um nonsense absurdo e entendiante. Um trash movie. Quem duvida tire a prova: assista e depois me diga.

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  5. huumm comecei a ver e nao gostei nada, e secante, sinceramente, xD

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  6. Eu achei o filme incrível. Para mim ele faz uma crítica bem construída sobre os filmes atuais. O cara aí em cima disse que o filme não é "cult". O filme não é cult ou você só está acostumado com besteiras comuns que se dizem ser cult?

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Pensem antes de escrever para escreverem algo com um mínimo de inteligência. Quando vocês escrevem idiotices, eu apenas me divirto e lembro de Mark Twain, que sabiamente disse "Devemos ser gratos aos idiotas. Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido."