segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Crítica de filme: Memórias de Xangai (Festival do Rio 2010 - Parte 12)

Memórias de Xangai (Hai Shang Chuan Qi no original e I Wish I Knew em inglês) é um documentário chinês dirigido por Jia Zhang-ke, com 138 minutos de duração. Ele tenta documentar, por meio de depoimentos de 18 idosos chineses, vários momentos históricos da cidade, remontando até meados do século XIX, quando Xangai teve os portos abertos para o comércio internacional, até o início da revolução cultural e a vitória dos comunistas no país.


O tema é muito interessante e poderia ser um ótimo documentário. Acontece que Jia Zhang-ke fracassa tremendamente, mais do que eu imaginava que fosse possível considerando o material disponível. É tão grande o problema do filme que nunca vi tanta gente saindo no meio de filme como nessa vez. Foram dezenas e dezenas de pessoas e logo a partir dos primeiros 40 minutos. Incrível.

Para começar, o filme exige um alto grau de conhecimento de detalhes da história da China e especificamente de Xangai pois não há narrativa auxilar alguma, apenas os relatos dos 18 chineses. Assim, ficam à mercê do que eles querem falar, com a menção a lugares, pessoas e situações que podem ser conhecidas para eles mas não para o mundo em geral. Não há, também, ajuda visual alguma pois o que o diretor nos mostra é, apenas Xangai atual, sem fotos ou filmagens antigas. Como se isso não bastasse, os entrevistados são, todos eles, conhecedores dos fatos por intermédio de terceiros, ou seja, não conviveram - como adultos - o que nos relatam.

Assim, o que temos é, basicamente, monólogos de 18 chineses idosos falando sobre a impressão que tiveram das mais diversas situações quando ainda eram crianças. E a cereja no topo do bolo é que o diretor não tenta agrupar os entrevistados em temas ou em alguma ordem cronológica. Eles falam sobre o que querem e, quando ouvimos o entrevistado seguinte, o assunto já mudou e temos que novamente nos ajustar ao que está sendo dito, dentro da lógica e da forma de narrar do entrevistado.

As entrevistas são intercaladas com longuíssimas tomadas de Xangai e, creio que o diretor foi cirúrgico ao escolher mostrar, apenas, o que há de pior e mais feio da cidade e da pior maneira possível. Nem mesmo as entrevistas são feitas em locais interessantes.

E, como se tudo isso não bastasse, o diretor resolveu, ainda, criar um personagem fictício, sem nome e sem diálogos, para fazer a ponte entre as entrevistas. É uma mulher vestida de branco que fica perambulando por todos os cantos da cidade, sem nenhum razão em especial a não ser aumentar o tamanho do já longo filme. Isso sem falar nas desnecessárias filmagens estilosas por detrás de janelas e de ângulos pouco convencionais para imprimir um senso de "arte" à película.

Em outras palavras, Memórias de Xangai é um desperdício de uma boa idéia e, principalmente, um desperdício de 138 minutos de minha vida pois basicamente o que aprendi com o filme é que os chineses, por incrível que pareça, usam muitas palavras em inglês intercaladas com o mandarim ou cantonês (não sei se os dois dialetos foram usados). Isso me impressionou bastante, especialmente porque os entrevistados são idosos.

Mais sobre o filme: IMDB.

Nota: 2 de 10

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